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Os filhos bestiais de Loki

Um lobo, uma serpente e uma menina "zumbi", todos rebentos do deus da trapaça, ameaçam Asgard e Midgard.

Texto: Reinaldo José Lopes | Edição de Arte: Estúdio Nono | Design: Andy Faria | Imagens: Rômulo Pacheco e Getty Images

A

pesar de ter se casado com Sigyn, o Deus Trapaceiro também se uniu a uma mulher da raça dos gigantes, chamada Angrboda (“Portadora da Tristeza”). Três bebês monstruosos foram gerados no ventre da giganta: o imenso lobo Fenrir; a chamada Serpente de Midgard, igualmente enorme; e a menina Hel, cujo corpo era metade vivo e metade morto (em putrefação, como o de um cadáver). Assim que os deuses souberam da existência dos três monstrinhos, surgiram profecias que os avisavam sobre o tremendo perigo que os filhos de Loki representavam para toda a Criação. Odin ordenou então que o trio fosse trazido à sua presença.

A serpente, também chamada de Jörmungand, recebeu tratamento simples e sumário por parte do Pai-de-Todos: foi lançada no oceano profundo que margeia as terras de Midgard. Logo cresceu tanto que seu corpo passou a formar uma espécie de anel em torno de todas as regiões do mundo conhecido. Odin foi mais generoso com Hel, a única figura do trio que tinha alguma semelhança com os demais deuses: mandou-a para as profundezas de Niflheim, onde se tornou a responsável por abrigar todos os que morrem de doença ou velhice no reino que leva seu nome.

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Quanto ao lobo Fenrir, o senhor dos deuses decidiu que ele viveria em Asgard, ao menos por um tempo. Só Tyr, deus das batalhas, tinha coragem de chegar perto da criatura para alimentá-la, mas Fenrir não parava de crescer, de modo que os Æsir começaram a pensar em maneiras de controlar essa ameaça de modo definitivo.

Primeiro, amarraram o lobo com uma corrente reforçada, chamada Laeding, dizendo que aquilo era apenas uma brincadeira, algo para testar a força de Fenrir de modo amigável. Esforço inútil: bastou que o monstro contraísse de leve seus músculos para arrebentar Laeding. Uma nova corrente duas vezes mais forte que a anterior, chamada Dromi, foi colocada no bicho usando as mesmas desculpas. Após grande esforço, Fenrir conseguiu despedaçar Dromi também.

Desesperados, os deuses decidiram que estava na hora de apelar para a alta tecnologia. Mandaram Skirnir, mensageiro de Freyr, para Svartálfaheim, pedindo que os anões construíssem uma armadilha da qual nem Fenrir fosse capaz de escapar. Os artífices concluíram essa tarefa usando seis ingredientes especiais: o barulho das pisadas de um gato, a barba de uma mulher, as raízes de uma montanha, o respirar de um peixe e a saliva de um pássaro. Essas coisas não existem, dirá você? É claro que não, pois foram usadas pelos anões para criar Gleipnir, a corrente que seria usada para, enfim, aprisionar o lobo Fenrir.

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Gleipnir não era como as outras amarras testadas pelos deuses, porém. Delgada e lisa feito uma fita de seda, ela se parecia tão pouco com uma corrente digna da força sobrenatural do Lobo dos Lobos que Fenrir nem suspeitou que os deuses estavam querendo aprisioná-lo (esse aí não puxou a inteligência do pai, pelo visto). “Além do mais, romper uma fita tão fina quanto essa não me trará glória nenhuma”, disse o monstro.

“Ora, se essa corda insignificante for capaz de conter tua força, Fenrir, isso significa que tu não nos ofereces qualquer risco sério, e dar-te-emos tua liberdade”, argumentou Odin. O filho de Loki respondeu então que aceitaria ser amarrado com Gleipnir – desde que um dos Æsir colocasse a mão direita dentro de sua bocarra, como garantia de que os deuses não estavam trapaceando.

<strong> Loki e sua prole infernal.</strong>
Loki e sua prole infernal. (Img/Shutterstock)

Ninguém estava disposto a encarar esse risco, até que Tyr, o deus mais familiarizado com Fenrir, pôs sua mão direita na boca do lobo. A criatura foi amarrada com Gleipnir – e, por mais que se debatesse, não conseguiu se livrar da “fita de seda” forjada com os seis ingredientes mágicos. Numa atitude indigna de sua divindade, os Æsir se puseram a gargalhar diante do desespero do lobo – todos, menos Tyr, cuja mão foi arrancada pelos dentes afiados de Fenrir.

Os deuses prenderam a outra ponta de Gleipnir a uma enorme pedra, enterraram-na no fundo da terra e ainda colocaram outra pedra enorme por cima de tudo. O monstro ainda tentou morder os que o haviam traído, mas um dos deuses rapidamente enfiou uma espada na boca de Fenrir, de modo o cabo da arma ficou cravado na mandíbula do bicho, enquanto a ponta da lâmina se fincou no maxilar.

A saliva que passou a escorrer da boca raivosa e perpetuamente aberta do lobo virou um rio chamado Van (“esperança”). Fenrir tem passado os últimos milênios nessa posição insuportável – e assim continuará até o Ragnarök, quando a coisa há de mudar de figura, como veremos.

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A história de pescador de Thor

Thor desejava enfrentar mano a mano a tremenda Serpente de Midgard. Assim, ele se disfarçou de menino e partiu para a Terra dos Gigantes, chegando à casa de um sujeito chamado Hymir, que costumava pescar no Grande Oceano.

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O “menino” pediu ao gigante que o levasse consigo na sua próxima pescaria. Hymir, no começo, recusou, mas Thor tanto insistiu que o pescador acabou aceitando. Procurando uma isca digna do “peixe” que desejava capturar, o deus acabou encontrando o rebanho de bois que pertencia ao gigante e, sem a menor cerimônia, arrancou a cabeça do maior touro da manada.

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Munido de sua isca bovina, Thor saltou para dentro do barco do ogro, e os dois se puseram a remar. Logo chegaram a um lugar onde Hymir costumava pescar linguado, mas Thor não queria conversa e continuou a propelir a embarcação cada vez mais para o fundo. O gigante, já ficando com medo, avisou que estavam chegando perto das águas patrulhadas por Jörmungand e que era melhor voltar. Empolgado com a informação, Thor remou ainda mais rápido, até que parou, enganchou a cabeça de touro num anzol tamanho-família e lançou isca e linha ao mar.

A Serpente de Midgard não se fez de rogada: engoliu a cabeça de boi, mas o anzol ficou preso em sua gengiva. O monstro deu tamanho puxão na linha que Thor foi arrastado e bateu seus punhos contra a amurada do barco. Já furioso, o deus fez força para se manter ereto no convés, de modo que seus pés atravessaram a madeira. Pouco a pouco, Thor começou a puxar a monstra para dentro do navio, enquanto a serpente cuspia veneno, tentando se livrar.

Segurando a linha com uma das mãos, o deus já se preparava para erguer o Mjölnir com a outra e desferir o golpe decisivo nas fuças do réptil – quando Hymir, apavorado, usou uma faca para cortar a linha e soltar Jörmungand, que fugiu para as profundezas mais do que depressa.
Frustrado, Thor ainda deu um soco na orelha do gigante, lançando-o de ponta-cabeça no mar, e depois nadou até a terra firme.

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