Texto: Maria Clara Rossini | Edição: Alexandre Versignassi | Design: Lucas Jatobá | Ilustração: Marcel Lisboa
Poluição é um detalhe. 99% dos gases que entram nos seus pulmões são uma mistura de nitrogênio com oxigênio, numa proporção de 78% para 21%. O outro 1% é basicamente argônio (0,93%), e aí vêm traços de CO2 e vapor d’água. Isso é o que a gente chama de “ar puro”. O perigo mora nos menos de 0,01% restantes.
Ali entram pitadas de outros gases: dióxido de enxofre (SO2), monóxido de carbono (CO), dióxido de nitrogênio (NO2) – “temperos” que deveriam passar bem longe do seu corpo. Eles são responsáveis por agravar a asma, alergias, insuficiência respiratória, conjuntivites e, no caso do monóxido de carbono, até levar à asfixia.
E os gases nem são a pior parte da poluição nas cidades. Quem causa mais danos são as partículas sólidas suspensas no ar.
Essa parte sólida da poluição tem nome e sobrenome: material particulado. Trata-se de uma selva de grãozinhos minúsculos, bem diferentes entre si. Tem de tudo ali: pedaço de motor de carro (na forma de poeira metálica), cimento (que voa das construções) e muita, mas muita fuligem – que deixa seu pulmão parecendo uma churrasqueira suja.
Nas cidades grandes, a maior parte desse material vem diretamente do escapamento dos carros. 63% do material particulado fino de São Paulo é de origem veicular, 18% vem das indústrias, e só os 19% restantes são liberados pelo ambiente naturalmente – na forma de pólen, por exemplo.
Esses compostos não são classificados pela sua origem, mas pelo tamanho. No jargão científico, vai do PM10 até o PM2,5. A sigla é uma abreviação de “material particulado” em inglês, e o número seguinte equivale ao tamanho da partícula em milésimos de milímetro (os “micrômetros”). O PM10 designa os sólidos com diâmetro igual ou menor que 10 micrômetros, enquanto o PM2,5 é para partículas ainda menores que 2,5 micrômetros.
Pense em um grão de areia bem fininho. Por minúsculo que seja, ele tem em média 100 micrômetros de diâmetro – dez vezes mais do que o maior tipo de material particulado. Por isso mal dá para senti-los enquanto você respira. Os mais perigosos para a saúde são até menores do que isso, podendo chegar a 0,01 micrômetro. Esses são, de longe, os mais abundantes no ar.
Não tem como escapar. A Organização Mundial da Saúde estima que nove a cada dez pessoas no mundo respiram ar altamente poluído. Ele já é responsável por 4,2 milhões de mortes anualmente – mais do que malária e os acidentes de trânsito juntos.
No imaginário popular, todos os problemas que a poluição causa estão ligados ao sistema respiratório. Diversas pesquisas feitas nos últimos anos, porém, mostram que o cenário é bem mais complexo. Os ossos, a pele e o cérebro sofrem com a presença da poluição. Ela até diminui a fertilidade e dificulta a vida de quem pretende ter filhos.