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História

Ovnis no Brasil – Os Arquivos dos Militares

por Salvador Nogueira e Bruno Garattoni Atualizado em 26 Maio 2020, 16h32 - Publicado em 12 abr 2019 17h32

Vasculhamos os arquivos da aeronáutica, com todos os registros de aparições de objetos não-identificados nos céus do Brasil entre 1952 e 2010. Veja o que os militares sabem sobre o assunto – e o que ninguém consegue explicar

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(Otávio Silveira/Superinteressante)

Segunda-feira, 15 de novembro de 2010 – Aeroporto Eduardo Gomes, Manaus – 9:55 PM

Segundona de feriado prolongado. O suboficial Soares provavelmente preferiria estar descansando. Mas ele estava de plantão, trabalhando na torre de controle do aeroporto. Um olho no radar, outro nas janelas, até que algo chamou sua atenção no céu. Ao longe, lá no alto, uma leve trilha de condensação se formava, embora fosse muito difícil enxergar o objeto que estava produzindo a mancha que riscava o céu. Como controlador de tráfego aéreo, Soares estava mais do que acostumado a observar os diferentes rastros que as aeronaves deixam no ar. Só que aquilo parecia diferente.

Ele pegou um binóculo e observou. Não, não era um avião. Na ponta da trilha de condensação havia um objeto metálico, aparentemente grande e escuro. Voava mais alto do que os aviões de carreira e era maior do que um Boeing 747. O mais estranho era o formato do objeto – quase como duas asas soltas no espaço, formando uma espécie de V.

Soares mostrou o objeto aos dois operadores que estavam com ele na torre, além do meteorologista que também estava lá. Depois de 15 minutos, o objeto sumiu. Às 22h05, seguindo o procedimento padrão da Aeronáutica, Soares reportou o avistamento ao Cindacta 4, um dos quatro Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo. Estava aberto mais um registro no “Arquivo X brasileiro”.

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Gol, Varig e OVNIs

Objetos voadores não-identificados são uma constante na história da aviação. É isso o que indicam os registros oficiais da Força Aérea Brasileira, que desde 1952 mantém arquivos confidenciais catalogando todos os avistamentos de objetos voadores não-identificados nos céus do País. São mais de 2.600 páginas de documentos, que recentemente começaram a ser liberados pelos militares – e hoje estão em Brasília, no Arquivo Nacional, no qual a SUPER pôde consultá-los. O episódio do suboficial Soares faz parte do lote mais recente de documentos. O que torna esse caso interessante é que um avistamento igualmente sinistro havia sido feito apenas dois dias antes.

Às 8h20, um avião da empresa aérea Gol voava a cerca de 135 km de Manaus. Ele estava subindo, elevando sua altitude de 23 mil pés (cerca de 7.600 metros) para 37 mil pés (12.300 metros) quando algo estranho aconteceu. O piloto e o copiloto avistaram uma luz muito forte se deslocando em alta velocidade, acima e à frente de sua aeronave. A ocorrência foi registrada no Cindacta 4 como “tráfego hotel” – eufemismo aeronáutico que significa OVNI. Estariam os dois avistamentos, tão próximos no espaço e no tempo, de alguma forma ligados? Quem, ou o quê, estaria por trás da movimentação de objetos não-identificados na região amazônica? Os registros da Aeronáutica estão cheios de casos misteriosos e sem explicação. São relatos impressionantes, inclusive pela credibilidade – seus autores não são pessoas comuns, que sempre podem estar imaginando coisas. Os relatos são feitos por pilotos, controladores de voo e oficiais militares, pessoas que têm treinamento para identificar e reconhecer todos os fenômenos atmosféricos normais. Se mesmo eles acham que há algo de anormal, é porque há.

EXPLICÁVEIS E INEXPLICÁVEIS

No dia 21 de agosto de 2003, às 22h30, o piloto do voo Varig Log 9063 consultou o Centro de Controle de Área de Curitiba sobre um objeto não-identificado, que voava à direita do avião, um pouco mais alto que a aeronave. “Ele está aqui, está parado agora, ele está acompanhando a gente, está parado aparentemente, na subida ele estava vermelho, todo vermelho, aí ele foi mudando, branco, vermelho, branco, vermelho, agora ele está todo branco, entendeu?”, disse o piloto, nitidamente desconfortável com a situação. Os aviadores, sejam civis ou militares, não gostam de reportar esse tipo de avistamento – embora sejam instruídos pelo controle de tráfego aéreo a fazê-lo. Alguém na base (não fica claro se é o centro de controle em Curitiba) responde de forma bem-humorada: “É Colorado!” (referência ao Internacional, que usa uniforme branco e vermelho). O objeto continua acompanhando o avião da Varig, e o piloto parece arrependido de ter relatado o ocorrido. “Afirmativo, pode… pode ser um monte de coisa, pode ser um planeta, uma estrela, qualquer coisa, o que pegou foi a mudança de cor aqui, só isso.” Mas o relato viria a ser confirmado por outro piloto, do voo Varig 8630, que às 23h14 também informou o avistamento. “É, o que eu avisto aqui pa… parece uma estrela.” No radar, não havia nada.

As aparições de OVNIs são relativamente numerosas no Brasil. Em 2010, último ano a ter as informações liberadas, a Aeronáutica registrou seis casos. Um dos mais impressionantes ocorreu no dia 23 de setembro. O comandante de outro avião da Gol viu um objeto com brilho aparente duas vezes maior do que Vênus (astro mais brilhante no céu, fora o Sol e a Lua), voando de sudoeste para nordeste, enquanto rumava para Brasília. “Estávamos perto de Palmas, vindo de Belém, quando vimos esse objeto acima de nós”, conta o piloto, que prefere não ter o nome divulgado. “Eram mais ou menos 4h45 da manhã, então ainda estava escuro. Ele estava voando bem alto e bem acima (do avião), indo realmente muito rápido. Fez uma curva quando passou por cima de nós e atravessou o céu.” A bordo da aeronave, duas outras pessoas viram o OVNI: o copiloto e uma comissária de bordo, que foi chamada à cabine. “Os passageiros não tinham como ver, porque estava acima do ângulo de visão das janelas laterais”, relata o piloto. Em menos de um minuto, o objeto já havia sumido de vista. Em contato com os controladores de voo, os aviadores foram informados de que não havia nada no radar. Em mais de 30 anos de voo, o piloto nunca havia visto nada parecido. Alguns dias depois, ele recebeu um telefonema da Força Aérea, perguntando sobre o avistamento (até então, ele sequer sabia que a Aeronáutica estudava o assunto). “Na hora [do avistamento], o sentimento que temos é de intensa curiosidade”, relata, descartando a hipótese de uma ocorrência natural trivial. “Fenômeno natural que atravessa o céu de ponta a ponta e faz uma curva? Acho que não.”

Procurada pela SUPER, a Gol não quis se manifestar. A Tam respondeu dizendo não ter registro de situações que envolvam OVNIs.

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É comum que o objeto não-identificado se movimente em trajetória e/ou velocidade estranhas. Em julho de 2010, controladores de voo do Aeroporto Senador Petrônio Portella, em Teresina (Piauí), viram um objeto circular, prateado e vermelho, se deslocar rapidamente em zigue-zague, a baixa altitude (apenas 1.500 metros), por aproximadamente 20 minutos. Em 9 de maio de 2007, dois aviões da Tam, ambos saídos de Brasília, reportaram à torre o avistamento de uma luz muito forte à direita das aeronaves. Inicialmente, eles pensaram que fosse outra aeronave, mas o Cindacta 1 não registrou no radar o objeto – que acompanhou os aviões por dez minutos antes de sumir.

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A experiência de Ozires Silva

Nos arquivos da Aeronáutica, chama a atenção um documento que analisa os acontecimentos de 19 de maio de 1986 – data que ficou conhecida como a “noite dos discos voadores”. Em 2004, o Comdabra (Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro) produziu um documento que resume as conclusões de relatório assinado em 1986 pelo brigadeiro-do-ar José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, então comandante interino do órgão. O documento apresenta a descrição oficial, firme e segura, do que transcorreu naquela noite – em que o Brasil parece ter sido visitado por vários OVNIs.

Às 23h15, a torre de controle de São José dos Campos, no interior de São Paulo, avistou luzes amarelas, verdes e laranja se deslocando sobre a cidade. Seu radar detectou objetos não-identificados, nas posições correspondentes a essas luzes. O fenômeno também foi percebido no ar. O coronel Ozires Silva, então recém-nomeado presidente da Petrobras, voava no avião Xingu PT-MBZ e avistou as luzes, que pareciam estrelas grandes e vermelhas. “Se fosse confiar nas minhas observações, diria ter visto um astro, mas não tinha resposta do porquê de aquele corpo aparecer no radar”, disse Silva, ao comentar o caso, em sua autobiografia Decolagem de um Sonho. Corpos celestes não emitem sinais de radar.

Por volta de 1h, começaram a aparecer objetos não-identificados no radar de Anápolis, Goiás. Os sinais de radar indicam a direção e a velocidade de deslocamento dos objetos. A Aeronáutica decidiu agir. À 1h34, um caça decolou da Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. O avião foi em direção a São José dos Campos para investigar do que se tratava. No caminho, o piloto viu uma luz branca voando abaixo do avião, que estava a aproximadamente 5 mil metros de altitude. O objeto começou a subir e se posicionou dez graus acima do caça. O piloto decidiu perseguir a luz, que subiu até 10 mil metros e por um momento mudou de cor, de branca para vermelha, depois verde e novamente branca. O radar do caça registrou o objeto, que estava entre 16 e 18 km de distância do avião e voava na direção do mar. A perseguição continuou até que o avião atingiu o ponto de não-retorno (em que não teria mais combustível para voltar), e o piloto desistiu. Mas os militares não.

À 1h48, um caça decolou da Base Aérea de Anápolis para perseguir objetos detectados naquela região. O piloto chegou a registrar um OVNI pelo radar, mas não conseguiu aproximação visual. Era uma perseguição absolutamente desleal. O jato voava em velocidade supersônica (acima de 1.100 km/h), mas o objeto tinha um nível de agilidade incompatível com aeronaves terrestres. Voava em zigue-zague, ora se aproximava, ora se afastava, superando com facilidade a velocidade do caça. O piloto desistiu.

No Rio de Janeiro, a mobilização continuou. À 1h50, mais um caça decolou em direção a São José dos Campos. O piloto viu uma luz vermelha, na mesma posição captada pelos radares em solo. Perseguiu-a por alguns minutos, sem conseguir se aproximar, até que ela se apagou. O mais impressionante -ou aterrador – é o que aconteceu a seguir. Simultaneamente, apareceram nada menos do que 13 objetos não-identificados no radar. Estavam todos atrás do avião. O piloto fez uma curva de 180 graus para tentar observá-los, mas não conseguiu. Os objetos sumiram. Mais duas aeronaves decolaram de Anápolis, mas não obtiveram qualquer tipo de contato. Os caças foram desistindo, e pousando. Às 3h30, os militares deram a operação por encerrada.

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O relatório da Aeronáutica apresenta as seguintes conclusões. Sobre os objetos não-identificados, diz que eles são capazes de “produção de ecos [sinais] de radar (…), variação de velocidade de voo subsônico até supersônico, bem como manutenção de voo pairado, variação de altitudes inferiores a 5.000 pés (1.500 m) até 40.000 pés (12.000 m), emissão de luminosidade nas cores branca, verde, vermelho e outras vezes não apresentando indicação luminosa, capacidade de aceleração e desaceleração de modo brusco, capacidade de efetuar curvas com raios constantes, bem como com raios indefinidos”. Ou seja, um conjunto de características que não existe em nenhum veículo construído pelo ser humano.

De forma cautelosa, como é típico dos documentos militares, o relatório termina da seguinte maneira: “Como conclusão dos fatos constantes observados, em quase todas as apresentações, este Comando é de parecer que os fenômenos são sólidos e refletem de certa forma inteligências, pela capacidade de acompanhar e manter distância dos observadores como também voar em formação, não forçosamente tripulados.” Atenção para esta frase: “Refletem de certa forma inteligências”. A Força Aérea Brasileira está dizendo, com todas as letras, que não se trata de fenômeno natural – e que alguma inteligência, ou seja, alguma criatura ou entidade inteligente, é responsável pelos objetos não-identificados.

Nem sempre é assim. Em muitos casos, o que parece um OVNI é apenas um fenômeno atmosférico normal. Fenômenos como a reflexão ionosférica (em que raios de luz ou rádio batem na alta atmosfera e voltam ao chão) podem explicar, ao mesmo tempo, ecos no radar e a ilusão de objetos brilhantes, explica o astrônomo americano William Alschuler, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz. Outros episódios, em que o piloto reporta um objeto luminoso que acompanha os movimentos de seu avião, podem ser explicados pela reflexão de luz em cristais de gelo suspensos na atmosfera. Outros casos têm explicações banais, como reflexão da luz solar ou lunar no interior de uma câmera fotográfica, ou mesmo a confusão com o planeta Vênus (que é tão brilhante que pode ser confundido com um OVNI).

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Menos comuns – e mais impressionantes – são o fogo-de-santelmo e os raios globulares, fenômenos atmosféricos de natureza elétrica. O primeiro é uma descarga eletroluminescente causada pela ionização do ar. O segundo é um tipo raro de relâmpago, que surge nas nuvens e viaja para o chão. Tem formato esférico, costuma ser vermelho-alaranjado e tem certa estabilidade, podendo pairar e permanecer visível durante vários minutos. Também produz um zumbido. Ou seja, não é difícil confundi-lo com um OVNI.

Mas a diversidade de contatos e movimentos registrados na noite de 1986, e outros similares vistos em outras partes do mundo, é difícil de classificar como fenômeno atmosférico. “Não estamos mais próximos de resolver ou compreender relatos assim do que 50 anos atrás”, diz Alschuler.

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O maior caso da história do País – minuto a minuto

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(Otávio Silveira/Superinteressante)

Em 19 de maio de 1986, a Aeronáutica registrou uma série de objetos não-identificados no ceú do Brasil – e enviou vários caças para persegui-los.

23h15 – Avistamentos pelo Brasil
A torre de controle de São José dos Campos avista luzes das cores amarelo, verde e laranja se deslocando sobre a cidade. Um radar local detecta objetos voadores não-identificados. À 1h da manhã, um radar na região de Anápolis, Goiás, também começa a registrar objetos não-identificados.

1h34 – O caça e a presa
Um caça decola da Base Aérea de Santa Cruz, no Rio, em direção a São José dos Campos. Ao alcançar 5.200 metros, o piloto vê uma luz embaixo do avião. A luz começa a subir e o piloto a persegue. Ela muda de cor – fica vermelha, verde e branca. O avião desiste por falta de combustível.

1h48 – Ziguezagueando
Um segundo caça decola da Base Aérea de Anápolis. O piloto identifica um objeto pelo radar. Mas, mesmo voando em velocidade supersônica, não consegue se aproximar dele – que voa em zigue-zague e com agilidade incompatível com a de um avião. O caça desiste e retorna à base.

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1h50 – Bombou no radar
Um terceiro caça vai para São José dos Campos. O piloto vê uma luz vermelha e a persegue por alguns minutos até que ela se apaga. Um radar em solo detecta 13 objetos não-identificados de uma só vez. Estão atrás do avião. O piloto faz uma volta de 180 graus para tentar observá-los, mas não encontra nada. Sumiram.

2h17 – Fim de festa
Mais dois caças decolam da base aérea de Anápolis. Não conseguem estabelecer nenhum tipo de contato (visual ou radar) com objetos não-identificados. Às 3h30, todos os aviões pousam e a perseguição é dada por encerrada.

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A "operação prato"

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(Otávio Silveira/Superinteressante)

Se a imagem de pilotos de caça brasileiros perseguindo OVNIs não é suficientemente contundente, há ainda nos registros liberados pela Força Aérea alguns sinais de uma movimentação ainda maior, que teria ocorrido entre 1977 e 1978 na Amazônia. É a chamada Operação Prato. Nos arquivos, há um relatório de 160 páginas produzido pelo I Comar (Comando Aéreo Regional) chamado “Registros de Observações de OVNI”. Ele foi produzido por um grupo de oficiais da Força Aérea liderados pelo capitão Uyrangê Bolivar Soares Nogueira de Hollanda Lima, que foi enviado para investigar ocorrências reportadas pela população do município de Colares, localizado na baía de Marajó, no Pará. Os pescadores da região disseram que estavam sendo importunados por luzes misteriosas que, por vezes, os atacavam, tirando sangue e provocando um estado de paralisia. Apelidaram o fenômeno de “chupa-chupa”, e pressionaram o prefeito da cidade para que pedisse ajuda aos militares. O povo da região estava em estado de pavor, acreditando que as luzes eram obra do diabo ou algo do tipo. O capitão Hollanda e seus oficiais tinham uma dupla missão: acalmar a população e investigar a natureza das luzes reportadas – se é que elas de fato existiam.

Munidos de câmeras fotográficas e filmadoras, eles começaram anotando minuciosamente as descrições de avistamentos feitos pela população. Nos primeiros dias, chegaram a ver luzes ao longe, mas nada que convencesse o líder da operação de que fosse algo anormal. Contudo, após cerca de dois meses, os avistamentos começaram a se tornar mais frequentes. Em entrevista concedida em 1997, pouco antes de sua morte e aposentado da Força Aérea, Hollanda admitiu: acreditava que aquilo era mesmo um fenômeno paranormal e inexplicável.

A equipe da Força Aérea demorou para começar a ver os OVNIs. Isso abre espaço para uma hipótese: talvez os moradores estivessem sob efeito de alguma substância alucinógena, algo que tivesse contaminado a região (e também os militares após algum tempo). Mas, não. Isso só seria possível se a alucinação também contaminasse câmeras fotográficas. Mais de 500 fotos foram tiradas das tais luzes, muitas das quais figuram no relatório da Força Aérea – infelizmente, somente em preto e branco. Hollanda disse ter gravado vídeos, mas eles teriam sido confiscados pela Aeronáutica.

De toda forma, o relatório liberado contém mais de 130 registros de observações, inclusive de pousos dos supostos objetos, realizados entre 2 de setembro de 1977 e 28 de novembro de 1978. Vários desses avistamentos foram testemunhados e fotografados pelos próprios oficiais. Mas os estudiosos de OVNIs demonstram descontentamento com o material, pois acreditam que há muito mais – segundo eles, a Operação Prato teria produzido mais de mil páginas de documentação. A Força Aérea responde dizendo que o Comdabra, atual responsável pelo arquivamento desse material, liberou tudo que tinha sob a rubrica OVNI. É difícil saber quem está com a razão. Mas é fácil concluir que algo muito estranho aconteceu em Colares naquele ano.

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A INVESTIGAÇÃO

A Aeronáutica chegou a ter um órgão específico para investigar casos do tipo. Ele se chamava Sioani (Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados), e reunia não só pessoal da Força Aérea como grupos civis ligados à ufologia. O Sioani funcionou sigilosamente entre 1969 e 1972, quando mais de cem casos foram registrados e investigados, até ser extinto pelo governo. Os relatórios produzidos pelo grupo, que circulavam internamente na Aeronáutica, chamam a atenção pelo cuidado. Quem dizia que tinha visto algo precisava passar por exame psiquiátrico – para ver se a pessoa estava imaginando coisas. Nem todos passavam por esse teste, o que colocava em dúvida a credibilidade de seu avistamento. Contudo, todos eram devidamente catalogados, acompanhados de desenhos dos supostos veículos observados. Todos os documentos eram estritamente confidenciais.

Mesmo tendo passado décadas registrando casos de OVNIs, e começado a liberar os documentos que produziu, a Força Aérea ainda reluta em falar a respeito. Procurada pela SUPER, enviou uma nota em que diz apenas: “O Comando da Aeronáutica não dispõe de estrutura especializada para realizar investigações científicas a respeito desse tipo de registro, o que impede a instituição de apresentar qualquer parecer sobre esses acontecimentos”.

Uma análise da documentação mostra que a Força Aérea Brasileira sempre viu o assunto com seriedade e preocupação. Nos arquivos, há um documento despachado em 28 de fevereiro de 1989 por Octavio Julio Moreira Lima, então ministro da Aeronáutica, definindo os procedimentos que deveriam ser adotados para registrar e avaliar todos os avistamentos de objetos não-identificados em território nacional, inclusive a necessidade de sigilo absoluto. Mas o medo dos militares não era alarmar a população. Era outro.

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“Forçoso é reconhecer que algo de estranho vem preocupando as atenções do grande público, das autoridades e do mundo científico, frente às frequentes incursões de OVNI na atmosfera terrestre”, diz o ministro no documento. “Em que pesem os argumentos de que tais fenômenos – da forma pela qual são descritos – aberram das leis físicas e dos conhecimentos científicos do mundo atual, impõe-se-nos o dever de registrá-los, documentá-los e analisá-los sistematicamente. Por várias razões, a Aeronáutica não deve se alhear do problema, embora evitando explicá-los sem base científica ou expor-se ao ridículo.”

Ou seja: o receio era virar motivo de piada. Esse medo já havia sido manifestado antes, justamente na época da Operação Prato, em circular datada de 25 de julho de 1978 e assinada pelo chefe do Estado-Maior da Aeronáutica, tenente brigadeiro-do-ar Mário Paglioli de Lucena. “Visando resguardar a posição do Ministério da Aeronáutica no tocante ao assunto, altamente polêmico, a coleta e a remessa de dados exigem muita discrição, não devendo ser feitos comentários que possibilitem exploração por parte da imprensa em geral, fato que até poderia levar ao ridículo a nossa Corporação.”

Esse medo também passa pela cabeça dos pilotos que enxergam coisas estranhas no céu. Na maior parte dos casos, eles preferem silenciar a reportar qualquer coisa. A própria Aeronáutica estima que apenas 10% dos avistamentos sejam relatados. Ou seja, há muito mais coisas voando pelos céus do que até mesmo as mais altas patentes de nossas Forças Armadas sabem.

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FORA DOS REGISTROS

Um bom exemplo de caso não registrado pelos militares foi protagonizado pelo astronauta brasileiro Marcos Pontes, quando ele era piloto de prova da Força Aérea no Centro Técnico Aeroespacial, em São José dos Campos (SP), entre 1995 e 1996. “Eu estava voltando de um voo noturno de T-27, de treinamento de aproximações por instrumento”, conta. “Fiz algumas aproximações ali em Guaratinguetá e retornava para outros procedimentos e pouso em São José dos Campos.” Durante o voo, a torre de controle perguntou a Pontes se ele conseguia ver uma forte luz, parada, sobre a serra, na direção de Bragança Paulista. “Eu vi a luz e, do meu ponto de vista, parecia o farol de um avião na aproximação para pouso na pista de São José. Perguntei se não era isso. O controle respondeu que não tinha nenhum tráfego e que a luz estava ali já há uns bons 10 minutos.”

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Pontes apontou o T-27 na direção do objeto luminoso. Sem radar a bordo da aeronave, ele seguiu pelo visual. Passou vários minutos perseguindo a luz, sem conseguir aproximação, até que o avião ficou com pouco combustível e ele teve de desistir. A luz sumiu em seguida. Não há qualquer menção ao caso nos arquivos da Força Aérea, mas Pontes descarta a hipótese de acobertamento. “Não registrei nada quando retornei, e acho que a torre também não. Deve ser por isso que não há registro”, afirma. Casos como esse, sem registro, provavelmente existem aos montes – e são ainda mais numerosos que os casos oficiais.

Um objeto voador não-identificado não é necessariamente um veículo de origem alienígena. Mas é algo que, em certos casos, não pode ser explicado como fenômeno natural – nem como qualquer coisa que esteja ao alcance da ciência e da tecnologia humanas. Só uma coisa é absolutamente certa. Há coisas muito estranhas acontecendo nos céus do Brasil. E a Força Aérea sabe disso.

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