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OVNIs: os avistamentos

Nos últimos 17 anos, o Pentágono registrou 144 avistamentos de objetos voadores não identificados. Agora, produziu um relatório confirmando isso e  admitindo que 143 deles não têm explicação. Entenda por que esses casos começaram a ser levados a sério – e conheça alguns dos mais intrigantes.

Texto Bruno Garattoni e Tiago Cordeiro
Ilustração Ju Sting
Design Carlos Eduardo Hara  

Texto originalmente publicado pela Super em setembro de 2021

“Em 18 incidentes, descritos em 21 relatórios, observadores reportaram padrões de movimento ou características de voo não usuais. Alguns UAPs [sigla em inglês para “fenômenos aéreos não identificados”] pareceram ficar estacionários em correntes de vento, se mover contra o vento, manobrar abruptamente ou se mover em velocidade considerável, sem meios de propulsão discerníveis.” Vale a pena repetir o último trecho: “sem meios de propulsão discerníveis”.

É nesse tom, com uma linguagem contida e ao mesmo tempo instigante, que o relatório Preliminary Assessment: Unidentified Aerial Phenomena (“análise preliminar: fenômenos aéreos não identificados”), produzido pelo Poder Executivo dos EUA e entregue ao Congresso americano no final de junho, descreve os avistamentos de objetos voadores não identificados, por militares, entre 2004 e 2021. São ao todo 144 incidentes, dos quais 143 não têm explicação (um único caso foi esclarecido: era um balão).

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Em 80 avistamentos, o objeto foi “observado por múltiplos sensores”, incluindo radares, câmeras infravermelhas de aviões, miras de armas e também observação visual, a olho nu. Logo na terceira página, o relatório (1) diz: “Em um número limitado de incidentes, os UAPs pareciam exibir características de voo pouco usuais”.

Eles se deslocam sem deixar qualquer rastro de calor, aceleram e freiam violentamente e chegam a girar sobre o próprio eixo enquanto se deslocam em alta velocidade – um movimento incompatível com a aerodinâmica e as tecnologias de propulsão conhecidas. Nenhum avião, helicóptero, drone ou míssil seria capaz de fazer isso. “Alguns dos UAPs parecem demonstrar tecnologia avançada”, afirma o documento. 

“Num pequeno número de casos, aeronaves militares captaram energia de radiofrequência (RF) associada com os avistamentos de UAPs.” Ou seja: embora não deixem rastros de calor, alguns dos objetos emitiram ondas eletromagnéticas – cuja explicação, ou função, é desconhecida.

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Em seguida, os militares dizem algo ainda mais intrigante. “O UAPTF [órgão criado pela Marinha dos EUA em 2020 para estudar esses fenômenos] possui uma pequena quantidade de dados que parecem mostrar UAPs demonstrando aceleração ou algum grau de gerenciamento de assinatura.”

Gerenciamento de assinatura (signature management) é um termo usado, na aviação militar, para o conjunto de medidas empregadas para esconder uma aeronave – como dissipar o calor emitido pelo motor de um caça para impedir que ele seja “enxergado” e perseguido por mísseis inimigos.

Sob a linguagem sóbria, o relatório está afirmando algo extraordinário: os objetos não identificados tomam medidas para evitar que sejam detectados.

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Quais medidas, ele não diz. Essa informação, bem como as descrições detalhadas dos 144 avistamentos, está no Apêndice B – que é confidencial, e só foi apresentado ao Comitê Permanente de Inteligência do Congresso americano, formado por 22 parlamentares (13 do Partido Democrata e oito do Republicano) com acesso às informações mais sensíveis do Pentágono e das agências de inteligência dos EUA.

O documento faz uma ressalva: alguns dos avistamentos “talvez possam ser atribuídos a anomalias nos sensores”, e é preciso realizar “análises adicionais rigorosas”). E, em seguida, pede dinheiro: “algumas dessas investigações necessitariam de investimento adicional”. Também apresenta o termo UAP, substituindo o tradicional UFO.

Nos últimos anos surgiram alguns vídeos, que foram gravados por militares e tiveram a autenticidade confirmada pelo Pentágono, mostrando objetos voadores em situações estranhas [veja abaixo]. Mas por que os EUA resolveram, de uma hora para outra, revelar coisas que sempre mantiveram em segredo?

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A resposta exata também é um mistério. Mas ela envolve, em boa medida, coisas que não têm nada a ver com o espaço: as árvores e um bicho que não sobe nelas.

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Clique na imagem para ampliar. (Ju Sting/Superinteressante)
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O vazamento e o jabuti

Jabuti, na gíria parlamentar, é um artigo que não tem relação com determinado projeto de lei,  mas foi inserido nele para tentar pegar carona. A expressão vem de um dito popular (“jabuti não sobe em árvore. Se está em uma, é porque alguém o colocou ali”).

Em 2016, por exemplo, nossos deputados estavam votando mudanças em impostos – e inseriram no projeto um artigo autorizando o Parlashopping, um shopping center de R$ 1 bilhão a ser construído na Câmara. A manobra foi descoberta e a obra não saiu, mas de lá para cá houve vários outros jabutis como esse.

Os EUA também têm os seus, e o relatório sobre OVNIs é um deles. A lei orçamentária HR 133, aprovada pelo Congresso americano e sancionada pelo então presidente Donald Trump em dezembro de 2020, autoriza o governo a gastar US$ 2,3 trilhões em suas atividades, incluindo US$ 900 bilhões em auxílio contra a pandemia e US$ 740 bi em despesas militares.

Só que, escondido nas 2.124 páginas dessa lei, há um baita jabuti. Um artigo diz que o Departamento de Defesa e as agências de inteligência dos EUA só receberiam financiamento caso publicassem uma análise detalhada dos fenômenos aéreos não identificados documentados pela Marinha: de onde tinham vindo, justamente, todos aqueles vídeos vazados nos anos anteriores. Por isso, e só por isso, o relatório foi feito.

Ele é a maior revelação do tipo desde 1969, quando foi publicado o Condon Report, coordenado pelo físico nuclear Edward Condon (um dos participantes do Projeto Manhattan, que levou à criação da bomba atômica).

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O documento mapeia 12.618 incidentes registrados a partir de 1947, quando os EUA começaram a documentar casos do tipo. Classifica 701 dos objetos voadores como “não identificados”, mas traça um limite – diz que nada sugeria a presença de aeronaves de outros planetas.

Nas décadas que se seguiram, as investigações sobre OVNIs foram ficando marcadas como coisa de maluco e se tornaram um tabu entre os pilotos militares, que não se sentiam à vontade para reportar avistamentos estranhos.

Esse cenário começou a mudar em 2017, quando o americano Luis Elizondo se desligou do Pentágono – e revelou que havia dirigido o AATIP (sigla em inglês para “programa de identificação de ameaças aeroespaciais avançadas”), um programa secreto de análise de objetos voadores não identificados. Naquele ano, ele entregou ao New York Times três vídeos gravados por caças da Marinha em 2004, 2014 e 2015.

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O de 2004, em especial, chamou a atenção por um incidente difícil de explicar. O vídeo mostra uma imagem de infravermelho em que se vê um objeto oval, com aproximadamente 14 metros de comprimento, voando a 185 km/h.

Ele realizou manobras aparentemente impossíveis, do ponto de vista aerodinâmico, quando foi perseguido por dois caças F/A-18 no Oceano Pacífico – ambos os pilotos descreveriam o objeto com sendo branco, sólido, sem asas, para-brisa ou motores visíveis.

O caso ficou conhecido como Incidente Nimitz (pois o avistamento ocorreu próximo ao porta-aviões USS Nimitz). Essa cena se repete, de forma quase idêntica, no avistamento de 2015. Nele, os pilotos dizem ver “toda uma frota” de objetos voadores (veja quadro abaixo).

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<strong>Clique na imagem para abrir o infográfico.</strong>
Clique na imagem para abrir o infográfico. (Ju Sting/Superinteressante)

Pressionados pelas revelações, os militares reagiram: em março de 2019, a Marinha dos EUA criou um processo interno para que seus pilotos relatassem incidentes envolvendo objetos voadores incomuns, e a Aeronáutica criou um processo similar em 2020.

O Pentágono resolveu desacreditar Elizondo e passou a negar que ele tivesse trabalhado no AATIP (procurado pela Super, Elizondo não retornou os pedidos de entrevista). Mesmo assim, os militares confirmaram a autenticidade dos vídeos.

Os objetos são estranhos e voam de formas mais estranhas ainda. Mas nada do que foi divulgado prova que eles sejam de origem alienígena. Ao fomentar esse tipo de ideia na cabeça das pessoas, os militares americanos podem estar tentando fazer outra coisa: desviar a atenção de eventos puramente terrenos.

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O balão e os discos

No dia 14 de junho de 1947, o fazendeiro William Brazel encontrou algo curioso caído em seu rancho, na cidade de Roswell, no Novo México: pedaços de borracha, papelão e papel-alumínio espalhados por uma área de 180 metros.

Aquilo chamou a atenção do jornal e das autoridades locais, e a história acabou chegando aos ouvidos da Aeronáutica dos EUA – que, em 8 de julho, divulgou um comunicado afirmando que era um “disco voador”.

As autoridades rapidamente mudaram de versão, dizendo tratar-se de um balão meteorológico, mas já era tarde. Nascia ali o mito de Roswell, que atravessaria todo o século 20. Com o tempo, o causo foi ganhando detalhes mais e mais fantasiosos, como o de que os militares teriam levado os destroços do tal veículo para a Área 51, uma base militar no Estado vizinho de Nevada.

Os destroços, na verdade, não tinham nada de alienígena. Eram mesmo pedaços de um balão – mas não meteorológico, e sim militar, que os EUA estavam desenvolvendo para tentar espionar testes nucleares da URSS. Essa confusão, proposital ou não, entre OVNIs e aeronaves militares já foi bem comum.

Um relatório confidencial produzido pela CIA (2), que analisa os avistamentos reportados entre 1954 e 1974 (mas só foi liberado ao público em 2013), concluiu que  metade dos relatos de OVNIs eram voos de aviões secretos e experimentais, como o U-2 e o SR-71 Blackbird, até hoje o mais veloz já construído (atingia 3,5x a velocidade do som).

Na época, o governo americano não explicou isso ao público; simplesmente deixou as conspirações rolarem. Não é impossível que o relatório publicado em 2021, bem como os vídeos divulgados nos últimos anos, tenham como real objetivo confundir as pessoas – e desviar a atenção de tecnologias secretas que estariam sendo desenvolvidas pelos próprios americanos.

Outra hipótese é que os tais OVNIs na verdade sejam aeronaves experimentais de outros países, que estariam invadindo o espaço aéreo americano.

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A Federal Aviation Administration (FAA), agência governamental que controla a aviação nos EUA, registrou 23 avistamentos inexplicados entre 2016 e 2020 – e eles se concentram no litoral, que veículos de outras nações teriam mais facilidade de alcançar (veja quadro abaixo).

<strong>Clique na imagem para ampliar.</strong> Fonte: Análise Adam Kehoe e Marc Cecotti, sobre dados da FAA (Federal Aviation Administration).
Clique na imagem para ampliar. Fonte: Análise Adam Kehoe e Marc Cecotti, sobre dados da FAA (Federal Aviation Administration). (Ju Sting/Superinteressante)

A FAA também registrou dez avistamentos perto de usinas nucleares nos últimos cinco anos. Em todos esses casos, os objetos voadores não demonstram as habilidades mirabolantes vistas nos vídeos da Marinha.

Eles até têm características incomuns, como luzes coloridas piscando, formato cilíndrico ou a capacidade de voar a até 27 mil pés (8 mil metros, muito além dos 500 metros de altura alcançados por um drone comum), mas não fazem manobras fora do normal.

Oito relatórios confidenciais da Marinha dos EUA, produzidos em 2013, 2014 e 2019 e obtidos por dois repórteres do site The Drive (3), estão cheios de informações detalhadas sobre drones de diferentes formatos e balões de reconhecimento – a maior parte voando em altitudes elevadas, e nem todos de origem americana.

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Em suma, muito do que é apresentado como OVNI talvez não tenha nada de alienígena. Deixar essa possibilidade no ar pode ser uma estratégia dos EUA: assim eles podem informar outros países, como Rússia e China, que estão cientes das invasões no seu espaço aéreo – sem precisar admitir publicamente que elas ocorreram.

Mas isso não significa, por outro lado, que não existam registros de casos bem difíceis de explicar, mesmo considerando todas as possibilidades do jogo geopolítico. E essas histórias são antigas.

Em 1978, o Gepan (“grupo de estudos de fenômenos espaciais não identificados”), criado pelo governo francês, produziu um relatório confidencial sobre 11 casos. Na época, a National Security Agency (NSA) americana teve acesso ao documento, e os classificou como de “alta credibilidade e alta estranheza” (4).

“Em dez dos episódios, aparentemente a distância entre a testemunha e os objetos era menor do que 250 metros”, afirmou a NSA em uma análise interna. “A conclusão foi a de que as testemunhas presenciaram um fenômeno material que não poderia ser explicado nem como natural, nem como resultado de um dispositivo produzido por humanos.”

Também há referência ali a “uma máquina voadora cujo modo de sustentação e de propulsão está além do nosso conhecimento”. O grupo francês existe até hoje e continua investigando relatos do tipo – já são mais de 2.900 casos, dos quais apenas 23% foram totalmente esclarecidos.

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O relatório de 1978 aborda um caso em Teerã, capital do Irã, na madrugada de 19 de setembro de 1976. Após localizar, visualmente e por radar, um OVNI sobre a cidade, dois jatos F-4 Phantom II se aproximaram.

Ambos sofreram pane elétrica ao mesmo tempo e perderam a capacidade de se comunicar, entre si e com a base militar. Um dos pilotos tentou disparar um míssil. Não conseguiu. Assim que os aviões regressaram à base, o rádio voltou a funcionar.

<strong>Clique na imagem para abrir o infográfico.</strong>
Clique na imagem para abrir o infográfico. (Ju Sting/Superinteressante)

Os soviéticos também registraram seus casos intrigantes. Em setembro de 1977, na cidade de Petrozavodsk, dezenas de objetos brilhantes foram vistos em diferentes ocasiões, sempre de madrugada, voando a baixa altitude.

Eles também foram detectados, na mesma época, em outros locais, de Copenhague, na Dinamarca, até o extremo leste do território soviético, a 11 mil quilômetros dali. A Academia de Ciências da União Soviética foi convocada e não conseguiu explicar o fenômeno, observado em 85 cidades num período de poucos dias.

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Quase uma década depois, houve outro incidente marcante. Às 8h de 29 de janeiro de 1986, no vilarejo de Dalnegorsk, próximo do Mar do Japão, os moradores avistaram uma bola vermelha voando paralela ao chão, a aproximadamente 54 quilômetros por hora e a 800 metros de altitude, sem emitir nenhum som.

Ela desceu na direção de uma colina, contra a qual se chocou. Moradores primeiro, e depois pesquisadores, encontraram pedaços de vidro e pequenos objetos metálicos esféricos. Algumas rochas do local ficaram marcadas por gotas de um metal posteriormente identificado como chumbo.

Havia também fragmentos compostos por uma mistura de materiais, incluindo ouro, prata e níquel. Em 1989, incidentes semelhantes foram registrados, novamente na colina de Dalnegorsk.

O Brasil tem seu caso clássico de avistamento sem explicação. Trata-se da “noite dos discos voadores”, registrada em São José dos Campos (SP) em 19 de maio de 1986. Vinte e um pontos luminosos surgiram no céu da cidade pouco depois das 23 horas.

O coronel Ozires Silva, cofundador da Embraer e então presidente da Petrobras, estava em um avião Xingu naquela região e viu algumas dessas luzes. Então começou uma perseguição aos objetos.

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Primeiro um caça partiu do Rio de Janeiro (RJ) em direção à cidade paulista. O piloto viu uma luz branca abaixo da aeronave, que voava a 5 mil metros de altitude. Na sequência o objeto subiu a até 10 mil metros, e o jato não conseguiu acompanhá-lo.

Foi substituído por outro caça que partiu de Anápolis (GO) e conseguiu avistar o objeto, mas não mais do que isso: apesar de voar a mais de 1.100 km/h, o piloto não conseguia chegar perto dele. Um terceiro caça partiu do Rio de Janeiro e perseguiu uma luz vermelha, mas ela se apagou.

Subitamente, 13 objetos não identificados apareceram no radar, atrás daquele avião – e sumiram. A operação foi encerrada às 3h30 da madrugada.

O relatório da Aeronáutica apontou que os objetos produziam sinais de radar, “variação de velocidade de voo subsônico até supersônico, bem como manutenção de voo pairado, variação de altitudes inferiores a 5.000 pés (1.500 m) até 40.000 pés (12.000 m), emissão de luminosidade nas cores branca, verde, vermelha e outras vezes não apresentando indicação luminosa, capacidade de aceleração e desaceleração de modo brusco, capacidade de efetuar curvas com raios constantes, bem como com raios indefinidos”.

A Aeronáutica brasileira mantém registros de aparições não explicadas desde 1952, somando mais de 2.600 páginas. Documenta, por exemplo, um caso de 15 de novembro de 2010, em Manaus, quando um objeto metálico, grande e escuro, voando mais alto do que aviões de carreira e com o que pareciam duas asas em “V”, permaneceu 15 minutos no céu até sumir, por volta das 22h.

O mais misterioso de todos os avistamentos até hoje, porém, talvez seja outro. Observado não por militares, mas por astrônomos.

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O objeto e os cometas

Em 19 de outubro de 2017, o observatório astronômico Haleakalā, no Havaí, avistou um objeto a 33 milhões de quilômetros da Terra. Ele era fino e comprido, com 400 m. Recebeu o nome de A/2017 U1, e depois Oumuamua: “mensageiro de muito longe que chega primeiro”, no idioma havaiano. Era diferente de qualquer outra coisa que seres humanos já tinham encontrado no espaço.

Além do formato inusual, o objeto não se comportava como um cometa: em torno dele, não havia vestígios de água, gases ou poeira. Ele se movia em velocidade constante, algo que cometas não fazem, e estava muito rápido: 313 mil km/h.

Também seguia uma trajetória diferente da esperada ante a força gravitacional exercida pelo Sol. Por esses motivos, os cientistas concluíram que aquilo viera de fora do nosso sistema solar: era o primeiro objeto interestelar detectado pela humanidade. Ele também mudava muito de luminosidade, ficando até dez vezes mais brilhante conforme girava sobre o próprio eixo, a cada 7,3 horas.

Para o físico Avi Loeb, da Universidade Harvard, essa combinação de coisas só podia ter uma explicação: o Oumuamua era uma sonda construída por uma civilização extraterrestre. Ele e três colegas publicaram um artigo científico defendendo essa hipótese (5), que Loeb depois desenvolveu num livro, Extraterrestre (publicado no Brasil pela Editora Intrínseca).  Segundo Loeb, o objeto parecia ter impulsão própria – e sua variação de brilho era sinal de que ele poderia ter uma vela solar, dispositivo que gera propulsão refletindo a luz.

<strong>Clique na imagem para ampliar.</strong> Trajetória do Oumuamua, que passou pelo nosso sistema solar (acima), e o telescópio Pan-Starrs, no Havaí, primeiro a detectar o objeto (à dir.).
Clique na imagem para ampliar. Trajetória do Oumuamua, que passou pelo nosso sistema solar (acima), e o telescópio Pan-Starrs, no Havaí, primeiro a detectar o objeto (à dir.). (Ju Sting/Superinteressante)

Basicamente todos os outros astrônomos discordam. A tese mais aceita afirma que o Oumuamua é um “cometa exilado”, que escapou de seu sistema solar original. Outros propõem que seja um pedaço de um planeta.

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Alguns acusam Loeb de forçar uma interpretação com base em poucas evidências, e lembram que ele trabalha há anos no desenvolvimento de velas solares – o mesmo tipo de equipamento que diz existir no Oumuamua.

Ele responde no mesmo tom. “Com muita frequência, os cientistas se comportam de forma preconceituosa com relação a novos dados. Mantêm a postura arrogante de considerar que já sabem as respostas antes de fazer as perguntas”, afirma. “Como aprendemos com a descoberta da mecânica quântica, há um século, anomalias são precursoras de progresso no conhecimento científico. E o Oumuamua é uma anomalia que não se encaixa nas teorias atuais.”

Pode até ser. O problema é que não se encaixar também não prova nada. Talvez a ciência jamais consiga esclarecer o que o Oumuamua realmente era, pois ele foi embora – deixou nosso sistema solar em janeiro de 2018.

Mas, no ano seguinte, astrônomos detectaram um segundo objeto interestelar: o C/2019 Q4 Borisov, que passou pelo sistema solar em outubro de 2019. Ao contrário do anterior, ele foi bem explicado. E é um cometa, não uma sonda extraterrestre.

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Agora, Loeb tenta levantar doações para tocar o Projeto Galileo, que pretende monitorar objetos interestelares. Para ele, o relatório americano sobre OVNIs indica que já estamos cercados por tecnologia alienígena. “O texto deixa claro que alguns dos fenômenos identificados são objetos reais, de natureza desconhecida. A maioria deve ter explicações mundanas, mas basta que um deles tenha origem extraterrestre confirmada para gerar um impacto enorme para a sociedade.”

De fato. A confirmação de vida alienígena seria a maior descoberta já feita pela humanidade. Talvez ela aconteça um dia. Ou não. Talvez o Universo seja grande demais para que outra civilização, caso exista, consiga nos ver e chegar até nós.

Talvez ela até faça isso, mas nunca deixe rastros suficientes para que consigamos flagrá-la. Ou, talvez, os avistamentos sejam de outra natureza – e habitem algum ponto entre os segredos da geopolítica e a imaginação humana. A verdade pode estar lá fora. Ou aqui dentro.

* * *

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Fontes

(1) Preliminary Assessment: Unidentified Aerial Phenomena. Office of the Director of National Intelligence, 2021. Disponível em bit.ly/3DniSkz

(2) The Central Intelligence Agency and Overhead Reconnaissance. Disponível em bit.ly/3DnoxXO

(3) Disponível em bit.ly/3zo2rSt

(4) Disponível em bit.ly/3h8ec8m

(5) Spinup and disruption of interstellar asteroids by mechanical torques, and implications for 1I/2017 U1 (‘oumuamua), A Loeb e outros, 2018. Disponível em arxiv.org/pdf/1802.01335.pdf

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