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A perenidade do Ramayana

Épico indiano escrito há cerca de 2 mil anos narra a eterna luta entre o Bem e o Mal e faz a exaltação do casamento ideal.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h22 - Publicado em 30 set 2006, 22h00

Mariana Leite

Depois de anos sob a privação da vida na selva, Sita encanta-se por uma linda gazela dourada e pede ao marido, o guerreiro Rama, que a traga de presente. O que eles não sabem é que o animal é uma isca: enquanto Rama tenta capturá-lo, o rei dos demônios, Ravana, pretende raptar Sita e torná-la sua esposa. Assim como no épico grego Ilíada ou na saga Guerra nas Estrelas, do cineasta americano George Lukas, o seqüestro de uma bela princesa gera uma sangrenta guerra entre reinos, entre o Bem e o Mal.

O Ramayana é uma das principais epopéias do hinduísmo, ao lado do Mahabharata. Com cerca de 24 mil versos em sânscrito, acredita-se que tenha sido escrita entre 200 a.C. e 200 d.C. pelo poeta indiano Valmiki, ele próprio uma lenda, compilando uma tradição oral que remonta ao século 8º a.C. Rama seria a sétima encarnação de Vishnu, a divindade que tem a missão de livrar o mundo da maldade e dar o exemplo de virtude a todos os seres.

Cerca de 2 mil anos depois, o mito de Rama ainda é um guia de conduta na Índia e países como Nepal e Indonésia, inspirando livros e filmes. Além disso, encontra muitos paralelos na cultura ocidental. “Os mitos são expressões das questões humanas, por isso duram tanto. A humanidade sempre teve de lidar com o desconhecido, o medo, a morte”, diz a psicoterapeuta Maria Helena R. Mandacaru Guerra, professora do Instituto Sedes Sapientiae.

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Casamento e exílio

Rama, o primeiro dos quatro filhos do rei Dasaratha, demonstrou sua grande força ao erguer o arco divino apresentado pelo rei de Mithila, Djanaka. Diferentemente da lenda do rei Arthur, que se tornou rei da Bretanha ao levantar a espada Excalibur, o prêmio de Rama foi a mão da princesa Sita, a mais bela e correta entre as mulheres.

Já casado, Rama é escolhido para suceder seu velho pai no reino de Ayodhya. No entanto, sua madrasta, Kaikeyi, convence Dasaratha a coroar seu filho, Bharata. Expurgado de seu direito de herdeiro, o primogênito aceita o destino e exila-se na selva de Dandaka.

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Apesar dos perigos da floresta, a boa esposa Sita insiste em acompanhar o marido. Rama, então, desfaz-se de toda sua riqueza e segue para o exílio com a mulher e seu irmão mais leal, Lakshmana, inteligente guerreiro que tem o dom da retórica. Durante 13 anos, Rama, Sita e Lakshmana levam uma vida simples na mata. Um dia, Surpanakha, rakshasa (demônio) barriguda e de dentes pontiagudos, transforma-se em uma mulher tão linda quanto Sita para tentar seduzir Rama. Mas ele é fiel à esposa, a quem prometeu nunca se casar com mais ninguém – contrariando os costumes da época –, e não se deixa levar pela aparência de Surpanakha.

Ao ser recusada, Surpanakha volta a sua horrenda forma original e tem as orelhas e o nariz cortados por Lakshmana. Desfigurada e com o orgulho ferido, chama seu irmão Khara. Sozinho, Rama mata não só Khara, como todo o seu exército de 14 mil demônios.

Ainda mais revoltada, Surpanakha procura seu outro irmão, Ravana, o rei de múltiplas cabeças da cidade de Lanka – onde hoje fica o Sri Lanka –, e o convence de que Sita seria uma esposa ideal. Ravana, então, arma um plano para enganar Rama: um demônio chamado Maricha transforma-se em uma gazela de pêlos de ouro.

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Encantada, Sita pede a Rama que capture o animal e, enquanto o guerreiro caça, Ravana leva a bela princesa. Na procura por Sita, Rama e Lakshmana contam com a ajuda de amigos fiéis. Um deles é Danu, transformado pelo deus Indra em um temível monstro sem cabeça, com uma boca no ventre e braços gigantes. Danu indica a Rama o reino dos macacos, que, do cume do Himalaia, viram o demônio levando Sita.

Resgate de Sita

O rei dos macacos, Sugriva, dispõe de um exército de 10 milhões de guerreiros, que percorrem os quatro cantos à procura da refém. É o valente Hanuman, filho do vento, que chega até ela. O macaco Hanuman aumenta de tamanho até se tornar tão gigante que, com um salto, chega à outra margem do oceano. Depois, para passar pelas muralhas da cidade, o herói fica minúsculo, e é nesta forma que encontra Sita, triste e aflita.

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Enquanto Rama, Lakshmana e os macacos empreendiam a busca, a bela princesa passava pelas maiores provações. Ravana e suas mulheres tentavam convencê-la a se entregar a ele, pois assim poderia desfrutar de toda a riqueza de seu reino. Fiel ao marido, Sita resistiu à sedução de Ravana, que ameaçou matá-la.

Antes de voltar ao encontro de Rama, Hanuman ainda é capturado pelos rakshasas, que não levam aquele pequeno macaco a sério e, em vez de matá-lo, colocam fogo em sua cauda. Hanuman, então, cresce novamente e incendeia toda a cidade.

Para que Rama atravesse o oceano, o exército de macacos constrói, em apenas cinco dias, uma grande ponte, utilizando troncos e folhas. Ao chegarem a Lanka, que fora totalmente destruída por Hanuman, inicia-se uma batalha longa e sangrenta contra os rakshasas. No duelo final, Rama atira uma flecha contra o peito de Ravana, cumprindo assim a missão para a qual Vishnu havia encarnado.

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Após enfrentar os piores inimigos, Rama nega-se a receber sua esposa, desconfiado de que ela pudesse ter se tornado impura durante o cativeiro. Ofendida, Sita prefere morrer: entra em uma fogueira, sob o testemunho de macacos, homens e deuses. Como prova de sua fidelidade, Agni, o deus do fogo, a retira das chamas e a coloca nos braços do marido. Com Sita e Lakshmana, Rama volta a Ayodhya, onde é coroado rei e passa a governar todos os homens.

Ramayana e Jung

Para a psicologia analítica, baseada nas teorias de Carl Jung, O Ramayana é um leque de símbolos a serem desvendados. A epopéia traz representações dos arquétipos junguianos, padrões seguidos pelo inconsciente coletivo e individual. “Ao conhecer o mundo da luxúria e da violência, Sita simboliza a alma humana que encontra o sofrimento no processo de desenvolvimento da personalidade. Apesar de conviver com o Mal, sobrevive à prova de fogo e, com isso, demonstra a pureza e a força do sentimento capazes de atravessar até mesmo o inferno”, diz a psicoterapeuta Maria Helena.

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