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A primeira muambeira do Brasil

Negociando com piratas de igual para igual, Joanna D'Entremeuse foi uma mulher tão à frente de seu tempo que teve de provar que não era homem

Por Carla Aranha
Atualizado em 31 out 2016, 18h20 - Publicado em 30 abr 2008, 22h00

Para a elite dos trópicos, a francesa Joanna d’Entremeuse era apenas uma dama educada e sedutora que recebia artistas e políticos em sua casa no centro do Rio de Janeiro. Para os corsários e comerciantes internacionais, foi uma das maiores negociantes da colônia, rainha do comércio marítimo brasileiro na última década do século 18. Em 1792, aos 25 anos, Joanna deixou a região de Champagne, na França, para tentar a sorte nas ilhas Maurício, uma possessão francesa no oceano Índico. De olho nos lucros da muamba trazida pelos navios portugueses que passavam por Moçambique, ela aproximou-se de Euletério Tavares, experiente contrabandista que fazia viagens entre a África, Portugal e Brasil. A bordo do navio de Tavares, os dois tentaram desembarcar em Salvador com tecidos contrabandeados, em 1796. Só tentaram: a carga foi apreendida e todos da tripulação, obrigados a sair da colônia. Todos menos Joanna: insuspeita por ser mulher, ela foi a única autorizada a deixar a embarcação.

Cativante, fez amizade com autoridades e comerciantes de Salvador. Ficou 7 meses na cidade e se pirulitou para Montevidéu, então um entreposto clássico do contrabando – como o comércio com a América espanhola era proibido, o mercado paralelo dominava. Abarrotada de artigos de couro, tecidos e carne, Joanna rumou para o Rio de Janeiro. Os exclusivos itens trouxeram fama e prosperidade. Tanto que ela conseguiu comprar seu próprio navio, a galera Confiança, fazendo crescer ainda mais a lucrativa rota do Cone Sul. Na Europa, a coisa era mais difícil. Foi no Velho Mundo que Joanna acabou sendo pega. Em 1799, desembarcou em Portugal com intenção de vender suas mercadorias pelo continente. Não deu certo: foi descoberta e presa para averiguações.

A história da contrabandista chegou aos ouvidos de d. João 6º. Era difícil acreditar que um rosto feminino fosse capaz de comandar um navio e negociar com corsários barras-pesadas. Tanto que o então príncipe regente de Portugal mandou uma junta médica verificar se Joanna era mesmo mulher (só para constar: era). O processo contra ela durou um ano, período em que misteriosamente “sumiram” papéis que poderiam comprovar as atividades ilícitas da francesa. Sem provas que a incriminassem, Joanna acabou solta em 3 de março de 1800. Por ordem de d. João, foi expulsa do reino e voltou para a França, de onde nunca mais se ouviu falar dela. Seria o fim da carreira da maior contrabandista do Brasil colônia? Essa é uma pergunta que, por falta de documentos, os historiadores ainda não conseguem responder.

 

Grandes momentos

• Quando foi interrogada em Lisboa, Joanna exigiu de d. João o direito de vender aguardente brasileira em Portugal sem pagar imposto, como indenização pela humilhação. O pedido foi atendido.

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• O sogro de Joanna era presidente do Tribunal Criminal da França. Acredita-se que ele a tenha apresentado a pessoas influentes no comércio além-mar.

• Joanna teve duas filhas, que foram criadas pelos pais de seu marido na França. Uma delas se casou com um traficante de escravos das ilhas Maurício.

 

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