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ABC é resultado de uma sucessão de plágios

Inventadas há 3 000 anos, as letras quase não envelheceram. As que usamos hoje são bem parecidas com suas ancestrais mais antigas, criadas pelos fenícios.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h10 - Publicado em 31 mar 1999, 22h00

Como surgiu o alfabeto?

O abecedário que você usa já sofreu um monte de metamorfoses, mas nenhuma muito radical. Tudo indica que sua versão mais antiga surgiu na Fenícia, atual Líbano, entre os anos 1400 e 1000 a.C. Os fenícios se inspiraram na escrita egípcia, em que cada ícone equivalia a uma idéia, mas fizeram uma importante inovação: “É quase certo que a idéia de representar cada som com um sinal diferente foi deles, embora haja pouca documentação da época”, diz o filólogo Bruno Fregni Basseto, da Universidade de São Paulo. A mais antiga inscrição alfabética que se conhece é do século XI a.C. e está no sarcófago do rei fenício Airão, na atual cidade de Biblos, no Líbano.

A idéia era tão boa que daí para a frente foi um plágio só. Os gregos mantiveram a mesma ordem para as letras e também desenhos muito semelhantes, o que pode ser constatado em seus escritos mais velhos, de 740 a.C. No mesmo século, os etruscos, que habitavam o norte da Itália, assimilaram a escrita grega e fizeram nela algumas poucas modificações. Como não usavam o fonema “gue”, a letra G passou a ter som de K. Os vizinhos romanos pegaram o pacote e também o adaptaram à sua fala. As primeiras inscrições latinas aparecem no século VII a.C. Os desenhos gregos continuaram no latim, com algumas variações. Uma delas, a substituição do K, que não tinha muita utilidade, pelo C. Bem mais tarde, no século XVI, o J e o V tomaram o lugar do I e do U nos casos em que estes eram usados como consoantes – até então o I fazia papel de I e de J e o U, de U e de V. Os dois novos símbolos foram obra do lógico francês Pierre Ramée. De lá para cá nada mais aconteceu.

Mudanças sutis

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A evolução de algumas letras revela como elas foram simplificadas.

A pirueta do touro

O A dos fenícios era uma cabeça de touro, herança dos egípcios. Os gregos o adotaram e ele passou a se chamar alfa. Em hebraico virou alef, letra e ao mesmo tempo uma palavra: touro. A forma maiúscula do nosso A lembra o desenho original, só que invertido e sem os olhos.

Curvas de cobra

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A linha sinuosa que fazia o primeiro N era inspirada numa cobra (nahas, em fenício). A letra passou por mudanças bem pequenas nas várias escritas da Antiguidade antes de assumir a forma atual. Chamava-se nü, em grego, e en, em latim.

Ele era consoante

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O círculo achatado com um ponto no centro representava um olho no alfabeto fenício. Curioso é que era usado como consoante, representando um estranho som que ficava entre O, E e U. Os gregos o arredondaram e aboliram o ponto, além de darem a ele a função de vogal, mantida até hoje.

Do outro lado

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A cabeça humana original foi logo estilizada. Os gregos botaram a barriga da letra para o outro lado. e acrescentaram a segunda perna – ampliada depois pelos romanos.

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