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Acabassem as guerras no continente africano?

As independências, ocorridas a partir dos anos 50, preservaram limites traçados pelos europeus.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h23 - Publicado em 31 ago 2002, 22h00

Renata de Gáspari Valdejão

O mais pobre dos continentes poderia ter farta produção agrícola, desenvolvimento social e crescimento econômico. Uma das raízes dos problemas que a África enfrenta hoje são as guerras que afligem alguns de seus países. Somente nos últimos 12 anos, houve luta armada em Serra Leoa, Libéria, Guiné-Bissau, Somália, Nigéria, Sudão, República Democrática do Congo, Ruanda, Burundi, Zimbábue, Angola e Moçambique, além dos conflitos decorrentes do apartheid na África do Sul. Isso só na região ao sul do deserto do Saara.

A divisão do continente entre potências européias, no final do século XIX, desconsiderou as diferenças étnicas e culturais. “Assim, fronteiras dividiram uma mesma etnia e reuniram outras diferentes em um mesmo território”, comenta a professora de História da África do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP), Leila Leite Hernandez. Um bom exemplo disso é a região fronteiriça de Ruanda, Burundi e República Democrática do Congo: nos três países há tutsis e hutus, cuja convivência forçada gera tensão constante.

“Os colonizadores, não raro, exacerbaram essas diferenças, ‘dividindo para reinar’”, afirma a historiadora. As independências, ocorridas a partir dos anos 50, preservaram limites traçados pelos europeus. Subiram ao poder representantes de grupos isolados, governos de legitimidade duvidosa. Como conseqüência, instalaram-se a instabilidade política e os conflitos armados.

Apesar disso, a divisão política do continente se manteria praticamente inalterada em um cenário sem guerras. A revisão de fronteiras já foi descartada pela Organização da Unidade Africana, que considerou inviável uma nova partilha de territórios. Mas a participação proporcional dos diferentes grupos étnicos nos governos poderia arrefecer as tensões regionais.

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Em um ambiente pacífico, os países africanos poderiam ter auto-suficiência alimentar. Nas circunstâncias atuais, eles não desenvolvem políticas agrícolas e industriais. Com dívidas externas imensas, são incapazes de importar produtos essenciais. Por isso, a maioria sobrevive com ajuda internacional. No entanto, um relatório do Banco Mundial revela que mesmo a ajuda oficial vem caindo: diminuiu de 32 dólares per capita em 1990 para 19 dólares em 1998.

Sem as guerras, haveria menos crianças morrendo. Os africanos que vivem em países em conflito têm expectativa de vida mais curta e mortalidade infantil mais alta do que os que têm situação estável. Serra Leoa tem os piores indicadores: taxa de esperança de vida de 37 anos e 16,9% de mortalidade infantil.

Na África pacificada, a indústria de diamantes teria a chance de prosperar na porção ocidental, onde estão Libéria e Serra Leoa. Angola investiria nos diamantes e no petróleo, e Congo, no cobre e no carvão. Com a luta em curso, a riqueza gerada por essas atividades só alimenta os fuzis e os canhões.

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A paz poderia ainda contribuir levando de volta ao continente o capital internacional . De 1950 a 1995, a participação da África subsaariana no comércio mundial, que já era mínima, diminuiu: caiu de 3,3% para 0,8%. A Guerra Fria e o processo de globalização agravaram a situação, pois jogaram a região para escanteio. E os conflitos só pioram o quadro. Afinal, quem vai investir em um país em guerra?

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