Alexander Portnoy , a bíblia da masturbação
O livro fala sobre as obsessões de toda uma geração de judeus do pós-guerra.
Leandro Sarmatz
Philip Roth causou um barulho tremendo quando, em 1969, publicou o romance Complexo de Portnoy. Pudera. A obra dava forma literária às obsessões de toda uma geração de judeus do pós-guerra: a fidelidade ambivalente em relação a Israel, a sexualidade que despertava naquela era anterior à liberação dos costumes e a conflituosa relação entre pais e filhos. Melhor ainda, o então jovem Roth (36 anos) se mostrava um dos maiores satiristas da língua inglesa no século XX. Uma cruza do absurdo de Franz Kafka com a paranóia de Woody Allen.
O grande escândalo, porém, estava na forma escancarada com que o narrador – Alexander Portnoy, alter-ego do autor, que conta sua história a um psicanalista que só aparece numa devastadora piada final – confessava as artimanhas para encontrar a paz necessária para se dedicar à masturbação. Filósofo do onanismo, Portnoy enfrenta verdadeiros périplos para obter o prazer solitário. Seus objetos do desejo vão desde um fígado bovino cru a uma maçã.
Portnoy-Roth ainda encontra tempo e boa prosa para radiografar a alma dos judeus americanos. Escândalo na época (rabinos chegaram a propor o banimento de Roth do judaísmo), Complexo de Portnoy continua indispensável. Até porque as obsessões do autor (“Israel, masturbação e literatura”, como disse John Updike) seguem alimentando novas obras-primas.