Arqueólogos encontram tumba de primeiro rei de cidade maia
Te K’ab Chaak fundou a cidade de Caracol, em Belize, há 1.700 anos. O túmulo contém joias e artefatos de jade e pode reescrever a história da civilização maia.

Entre as ruínas de Caracol, o maior sítio arqueológico maia de Belize, arqueólogos encontraram uma câmara que se destacava das outras: lotada de joias e artefatos de jade e cerâmicas decoradas com gravuras elaboradas. Quando encontraram restos mortais no local, souberam: se tratava de uma tumba muito antiga, e de alguém muito importante.
Acertaram em cheio: eles haviam descoberto a tumba de Te K’ab Chaak, um lendário rei maia que, no século 4 d.C., fundou a dinastia real de Caracol, um dos mais relevantes centros urbanos da civilização maia. A identificação do governante foi feita graças à hieróglifos encontrados no local.
Uma análise inicial dos seus restos mortais indica que o famoso rei morreu com idade avançada e era de estatura mediana, com cerca de 1,70 metros. Curiosamente, o homem não tem nenhum dente sobrando.
A descoberta foi feita por arqueólogos da Universidade de Houston, nos EUA, em parceria com pesquisadores locais de Belize, um pequeno país na América Central.
Na câmara, foram encontrados muitos artefatos valiosos: onze vasos de cerâmica, joias feitas de ossos esculpidos e de jade, conchas marinhas e uma rara máscara de jadeíta, reservada apenas para as elites maias.

Em mais de 40 anos de escavação de Caracol, esta é a primeira tumba de um de seus governantes encontrada – e foi logo a do mais importante. A descoberta é fruto de um casal de arqueólogos da Universidade de Houston, Arlen Chase e Diane Chase, casados há 50 anos e que lideram as pesquisas científicas do sítio arqueológico desde 1985.
Oficialmente fundada por Te K’ab Chaak em 331, Caracol foi uma grande metrópole maia que dominou politicamente a parte sul da Península de Iucatã nos séculos 6 e 7, quando era grande o suficiente para abrigar pelo menos 100 mil pessoas e superava militarmente Tikal, outra cidade-estado maia da região (localizada onde hoje é a Guatemala). Depois desse auge, no entanto, Caracol começou a entrar em decadência e foi abandonada por volta dos anos 900. Foi redescoberta por arqueólogos em 1958.
Os pesquisadores pretendem apresentar mais detalhes da escavação em uma conferência de arqueólogos em agosto. Um dos objetivos do estudo vai ser tentar entender como eram as relações políticas entre os vários povos e centros urbanos da Mesoamérica nos primeiros séculos do milênio.
O ponto mais nebuloso é a relação de Caracol com a cidade-estado de Teotihuacan, uma metrópole localizada bem mais ao norte, onde hoje é a região central do México. Teotihuacan (que não era maia) tinha uma imensa força política e econômica e há evidências de que ela influenciava os povos maias ao sul. Mas quando esse contato entre as civilizações começou? O ano 378 d.C. é geralmente eleito como a data de início dessa relação entre teotihuacanos e maias, mas é possível que o contato tenha se iniciado antes.
Outras tumbas encontradas em Caracol, que datam por volta dos anos 350 – portanto, no início da história da cidade – preservam itens e tradições que são típicos da cultura de Teotihuacan; uma delas, por exemplo, tem restos de uma cremação, um costume que não é comum na civilização maia.

Essas evidências apontam que Teotihuacan e Caracol podem ter mantido um contato próximo há mais tempo do que se imaginava – possivelmente até com relações diplomáticas, feitas por enviados de uma cultura para outra. Isso seria realmente impressionante, já que a distância entre os dois centros urbanos é de 1.200 quilômetros – uma viagem de 24 horas de carro hoje em dia, e muitos meses de caminhada pelas selvas americanas há 1.700 anos.
O casal Chase espera que a tumba do primeiro rei de Caracol possa ajudar a entender melhor a cronologia da civilização maia, podendo assim reescrever a história deste povo.