Arqueólogos encontram tumba do Faraó Tutemés II
Ao contrário do que tem sido dito, não é a primeira tumba real descoberta desde a de Tutancâmon – mas ainda é "um dos avanços arqueológicos mais significativos dos últimos anos".

Quando pesquisadores encontraram a tumba C4, nos Vales Ocidentais da Necrópole Tebana, em Luxor, no Egito, acreditaram que se tratava de um cemitério de mulheres. Mas o local estava selado há mais de 3 mil anos por uma sucessão de enchentes e deslizamentos que fizeram a terra parecer concreto, e não era nada favorável para a investigação.
Isso foi em 2022. Depois de três anos de escavações, os membros da equipe britânico-egípcia desconfiaram que esta seria uma descoberta excepcional quando se depararam com fragmentos de teto pintado de azul com estrelas douradas.
No Egito Antigo, essa decoração de teto era comum dentro dos túmulos da realeza. Além disso, havia também decorações de cenas do Amduat, um texto religioso reservado aos reis.
Para chegar à câmara funerária, que tem 94 metros quadrados, é preciso descer uma escada larga e atravessar um imponente corredor. Enquanto analisavam toneladas de resíduos retirados de dentro da tumba, os pesquisadores encontraram vasos de alabastro com inscrições reveladoras: “rei falecido”, por exemplo, e os nomes de Tutemés II e de Hatshepsut, sua meia-irmã e esposa.

As peças do quebra-cabeça se juntaram e foi possível concluir que a tumba pertenceu ao faraó Tutemés II.
Essa era a última tumba de um faraó da 18ª dinastia egípcia que ainda não tinha sido encontrada. Até então, achava-se que todos os faraós da 18ª dinastia (provavelmente a mais famosa de todas) teriam sido sepultados no Vale dos Reis, que fica a mais de dois km de distância.
“A sensação de entrar em uma coisas dessas é de uma perplexidade extraordinária, porque quando você se depara com algo que não esperava encontrar, traz um turbilhão de sentimentos ”, disse Piers Litherland, o britânico que liderou a missão, em entrevista à BBC. “Quando saí, minha esposa estava esperando do lado de fora e a única coisa que consegui fazer foi começar a chorar.”
A descoberta marca um dos avanços arqueológicos mais significativos dos últimos anos, de acordo com Mohammad Ismail Khaled, secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito, em comunicado. Ele acrescentou que os artefatos encontrados na tumba fornecerão uma visão crítica da história da região e do reinado do rei.
Acontece que a tumba já estava vazia: o corpo mumificado de Tutemés II foi movido após a morte e já havia sido encontrado em outro local em 1881. Cerca de 500 anos após a morte do faraó, os antigos oficiais egípcios da 21ª dinastia perceberam que sua tumba (e a de outros membros da realeza) havia se tornado vulnerável a danos causados por inundações e por ladrões de tumbas. Eles escolheram um local secreto nos penhascos de Tebas para transferir os restos mortais da realeza.
Assim, os fragmentos de alabastro que permitiram a identificação da tumba original provavelmente são pedaços que se quebraram durante a transferência.
Os artefatos são os primeiros objetos a serem encontrados associados ao sepultamento de Tutemés II, e a busca por outros bens funerários de Tutemés II deve continuar – o sarcófago, por exemplo, não foi encontrado nem na tumba e nem junto da múmia. Acredita-se que ele tenha sido realocado na mesma época que a C4 foi desativada.
Os corpos mumificados de reis, rainhas e outras pessoas importantes foram enterrados próximos ao templo onde Hatshepsut já havia sido sepultada. A entrada estava bem disfarçada por areia e pedras e era inacessível a pé.
Eles permaneceram ali até o final do século 19, quando a área foi descoberta por egiptólogos que constataram a presença dos corpos de Ramsés II, Seti I, Tutemés III e o nosso querido Tutemés II, além de outros.

Muitas manchetes e até o comunicado oficial do Ministério de Turismo e Antiguidades do Egito afirmam que essa seria a primeira tumba real a ser encontrada desde a de Tutancâmon, em 1922. Isso não é verdade: nas décadas de 1930 e 1940, o egiptólogo francês Pierre Montet encontrou diversas tumbas das 21ª e 22ª dinastias e, em 2014, a tumba do faraó Senebecai da 16ª dinastia também foi encontrada.
O que chama atenção na C4 é que ela é a primeira tumba real desde Tutancâmon em Luxor, e é a última tumba de um rei da 18ª dinastia que estava faltando.
Quem foi o faraó Tutemés II?
Pouco se sabe sobre o reinado de Tutemés II. De acordo com o Museu Nacional da Civilização Egípcia, a duração de seu governo é motivo de debate e pode ter sido inferior a cinco anos. No entanto, há quem defenda que seu reinado durou por 13 anos, entre 1492 a.C. e 1479 a.C.
Sua biografia é obscurecida pela grandiosidade de seu pai, Tutemés I, seu filho, Tutemés III e sua meia-irmã e esposa, Hatshepsut. Depois de sua morte, Tutemés III herdou o trono – mas Hatshepsut assumiu o cargo como regente, já que o menino tinha apenas dois anos. Alguns anos depois, assumiu a posição de faraó e se tornou co-governante ao lado de Tutemés III, uma das poucas mulheres a governar na longa história do Egito antigo.
Hatshepsut precisou dar alguns pulos para se estabelecer no patriarcado egípcio: assumiu papéis tradicionalmente masculinos e enfatizou as qualidades de homens e mulheres para transmitir a ideia de que era mãe e pai do reino. Suas representações geralmente incluem traços físicos e vestes masculinas.
O reinado de Hatshepsut foi um período de grande prosperidade e paz geral. Ela foi uma das construtoras mais prolíficas do Egito Antigo e supervisionou projetos de construção em grande escala. Hatshepsut provavelmente morreu no 22º ano do reinado de Tutemés III.
No final desse período e no início do reinado de seu sucessor, Amenhotep II, houve uma tentativa de remover Hatshepsut dos relatos oficiais da historiografia egípcia: suas estátuas foram destruídas, seus monumentos foram destruídos e muitas de suas conquistas foram atribuídas a outros faraós.