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As múmias dignas de filme do Museu Nacional

O museu destruído pelo incêndio tinha múmias amazônicas, mineiras, andinas – o suficiente para uma franquia cinematográfica 100% latinomericana.

Por Ana Carolina Leonardi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 3 set 2018, 18h40 - Publicado em 3 set 2018, 18h40

Você cansou de ver a franquia d’A Múmia no cinema – e, entre maldições arqueológicas e cenas de ação canastronas, nunca deve ter parado para se perguntar se existiram múmias Made in Brazil. 

A boa notícia é que, sim, elas existiram. A notícia ruim é que o acervo riquíssimo de múmias como essa – e outras vindas de vizinhos nossos da América Latina – foi inteiro ameaçado pelo incêndio que, na noite passada, atingiu quase completamente o acervo do Museu Nacional da Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ).

Com a tragédia, vem ao menos a oportunidade de conhecer a história por trás dessas (e outras!) relíquias.

Múmias 100% brasileiras

(Museu Nacional/UFRJ/Reprodução)

Uma das atrações mais populares do museu eram suas múmias. Algumas delas chamavam a atenção por serem clássicas múmias egípcias – e falaremos delas também. Mas o Museu Nacional também foi casa de legítimos cadáveres mumificados nacionais.

Quer múmia mineirinha? O museu tinha. Um grupo indígena encontrado na Caverna da Babilônia em Minas Gerais, incluía uma mulher mumificada e dois bebês, que pertenciam a uma tribo desconhecida.

Não existem evidências que explicam se eles eram todos da mesma família, nem se a mulher era mãe das crianças. Mas a criança mais nova tinha sido depositada bem perto dela, atrás da cabeça. A (possível) mãe tinha cerca de 1,5 m de altura e cerca de 25 anos. Um dos bebês tinha 1 ano de idade – enquanto o outro tinha apenas um mês. 

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Fonte: O tweet de @shaannonbfr, que não conseguimos embedar, mas pode ser acessado aqui! ()

 

O grupo como um todo provavelmente pertencia a um dos três povos indígenas conhecidos como maxacalis, camacãs, ou manukis. Qualquer que seja o povo, porém, o que se acredita é que a Caverna da Babilônia teria servido de cemitério para eles. Localizada em uma serra fria e seca, ela era uma localização adequada para a preservação desses corpos. Eles eram colocados sobre pedras, em vez de terra, e cobertos com mantos fúnebres, bolsas, e tecidos em geral.

Todas essas condições juntas acabaram favorecendo uma mumificação natural. A cobertura de fibras de tecido, folhas e pedras, junto com o clima, possibilitaram a preservação da pele seca e dos ossos.

Esses corpos na caverna teriam morrido anos antes da corte portuguesa chegar no Brasil – mas só foram descobertos na época de D. Pedro II, na época em que o terreno fazia parte de uma fazenda de café. A dona do campo cedeu a descoberta ao imperador, que por sua vez a repassou ao museu.

Vizinhos latinoamericanos do pós-vida

Um dos exemplos mais impressionantes de múmias guardadas no museu eram do povo Jívaro, da Amazônia Equatoriana – especialistas em mumificar cabeças. Os cabelos dos seus cadáveres eram mantidos, e a extração do crânio era feita de forma a manter ao máximo a fisionomia do falecido.

Para ter uma ideia do tamanho da realização, é só lembrar que a Amazônia não é o clima ideal para a preservação de nada – quanto mais a de um cadáver. Com um calor e uma umidade tão grandes, imagine a dificuldade que era preservar uma pessoa.

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(Museu Nacional/UFRJ/Reprodução)

No acervo de múmias, o Museu Nacional continha ainda corpos dos nossos vizinhos do deserto do Atacama.

A mais famosa é conhecida como a múmia atacamenha de Chiu Chiu. O homem que se tornou múmia teria vivido há quatro mil anos. Morreu com cerca de 40 anos de idade – e foi mumificado assim, meio sentado e abraçando os joelhos.

Ninguém sabe se o corpo da múmia de Chiu Chiu morreu nessa posição.

Ninguém sabe se o corpo da múmia de Chiu Chiu morreu nessa posição. Era comum enterrar os mortos mumificados e encolhidinhos assim – na medida em que as condições da morte permitiam, é claro.

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A posição, aliás, é similar a que se encontra a múmia Aymara, outra relíquia do Museu Nacional, encontrada perto do Lago Titicaca, que fica entre o Peru e a Bolívia.

(Museu Nacional/UFRJ/Reprodução)

Essa outra múmia andina também foi um homem adulto, que morreu entre os 30 e aos 40 anos. O corpo preservado foi encontrado (e era exposto) com uma manta vestida, quase feito um saco, sobre o corpo encolhido. Por baixo dela, o rapaz está sentado com os joelhos no queixo – e o corpo era amarrado nessa posição. Por último, vinha o tecido, que deixava os pés e o rosto para fora.

Finalmente, o Egito

O Antigo Egito era motivo de fascínio para a família real brasileira – o que foi o ponta-pé inicial para que o Museu Nacional tivesse a maior (e mais antiga!) coleção de arqueologia egípcia da América Latina. A primeira múmia do museu também foi a primeira múmia egípcia a pisar no continente

A chegada da primeira coleção egípcia no Brasil aconteceu por acidente.

A história toda aconteceu por acidente, aliás: a primeira parte da coleção chegou do sul da França, de Marselha. O objetivo do comerciante Nicolau Fiengo era vendê-la na Argentina. O problema é que o empresário só conseguiu chegar até o Uruguai… O Rio da Prata estava bloqueado. Para reduzir o prejuízo e não ficar com o estoque ocioso, as peças foram colocadas em leilão no Rio de Janeiro – e acabaram arrematadas por ninguém mais que Dom Pedro I.

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Sarcófago de Sha-Amun-en-su (Museu Nacional/UFRJ/Wikimedia Commons)

Começava assim, em meio a confusões, a coleção egípcia do Museu Nacional. A peça mais famosa da sala, no entanto, não estava no meio deste pacote. Trata-se do sarcófago de Sha-Amun-en-su. Esse não foi leiloado – foi um presente do líder do Egito a D. Pedro II. O segundo imperador era tão fã da cultura egípcia que viajou até lá mais de uma vez. E foi na segunda visita que recebeu, em sua homenagem, um sarcófago jamais aberto. 

Sha-Amun-en-su era uma “cantora de Amon”, uma espécie de sacerdotisa que cantava e dançava durante rituais dedicados a um dos principais deuses egípcios. O sarcófago foi cedido ao Brasil em 1876 – e não era o único no Museu Nacional. Outras três tumbas egípcias, todas pertencentes a sacerdotes, chegaram até o acervo, junto a um grupo pequeno de múmias de animais: gatos, peixes e até filhotes de crocodilos.

Princesa Kherima

(Fernando Frazão/CreativeCommons/Agência Brasil)

Com seus dedos do pé quase intactos, a múmia feminina do Museu Nacional têm a aparência mais humana dentre todas as do acervo. E como qualquer pessoa, ela ganhou seus apelidos, sendo chamada de Princesa do Sol ou Princesa Kherima. De fato, ela faz parte da realeza no mundo das múmias. Seu corpo recebeu um cuidado especial ao ser embalsamado. O corpo de Kherima é cercado por enfeites dourados, dedos das mãos e dos pés enfaixados individualmente, e faixas decorativas ricamente pintadas. Múmias como essa até existem, mas são poucas – apenas outras oito mulheres nessas condições já foram achadas no planeta. Não é coincidência: todas foram encontradas juntas, sepultadas no mesmíssimo lugar, sinal de que poderiam pertencer à mesma família ou dinastia.

Uma série de pessoas teve “experiências paranormais” ao tocar o corpo de Kherima.

Mas o que a vida juntou, a morte separou – e cada uma das nove múmias foi descansar em um lugar do mundo. Kherima veio ao Brasil junto ao pacote destinado à Argentina, dentro de um caixote. No início da exposição, ainda não se sabia que o toque das pessoas prejudicava as obras – motivo pelo qual os visitantes do museu eram estimulados a tocar a múmia. Achou esquisito? Pois registros do último século mostram que uma série de pessoas teve “experiências paranormais” ao tocar o corpo de Kherima. Mas isso é história para outro post – e quem sabe, até para uma nova franquia cinematográfica.

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