Claro como água
História de uma das primeiras observações de transformação de matéria - de hidrogênio em hélio, feita pelos físicos Ernest Rutherford e Mark Oliphant.
Trabalhando um dia no Laboratório Cavendish, em Cambridge, junto com Ernest Rutherdford (1871-1937), o físico inglês Mark Oliphant teve oportunidade de observar um fenômeno curioso, quando puseram em ação o acelerador de partículas – um dos primeiros a serem construídos. Algumas partículas pesadas de hidrogênio, quando se quebravam, produziram fragmentos cuja natureza eles não conseguiam entender. Rutherford, na época, já desfrutava de largo prestígio no mundo científico – ganhara o Prêmio Nobel de Química, em 1908. Estavam os dois diante de uma radiação estranha, que não conseguiram decifrar em um dia inteiro de trabalho. Foram para casa, ambos pensando no assunto. De madrugada, Oliphant concordou assustado, com o telefone tocando. Do outro lado da linha, um confiante Rutherford garantiu-lhe: “São partículas de hélio massa 3”. Sonolento, Oliphante não contestou, mas perguntou entre um bocejo e outro: “Sim, senhor, mas como descobriu isso? Por que acha que são Hélio 3?” Rutherford respondeu, mais entusiasmado ainda: “Tenho meus motivos, tenho meus motivos. Vejo tudo claro como água…” E ele estava certo. Sua intuição o levara a fazer uma das primeiras observações de transformação da matéria – de hidrogênio em hélio – e entende-la.