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Como um cadáver se tornou o rosto mais beijado da história

E acredite ou não, talvez até você já tenha tocado os lábios dela

Por Maria Clara Rossini
3 out 2019, 19h42

No final da década de 1880, o corpo de uma jovem foi encontrado nas margens do rio Sena, em Paris. Ninguém sabia seu nome, idade ou a causa de sua morte. A única informação que seu rosto revelava era uma expressão serena e um leve sorriso nos lábios — e foi ele que conquistou boa parte da população francesa.

Ela passou a ser chamada de L’inconnue de la Seine, ou A desconhecida do Sena. Os pesquisadores acreditam que ela tenha se suicidado no rio aos 16 anos, por conta da jovialidade de sua pele e por não apresentar marcas de violência no corpo.

O cadáver foi levado ao mortuário de Paris. Todos os corpos não identificados eram expostos em uma vitrine para que pudessem ser reconhecidos pelos parentes ou amigos. A desconhecida nunca foi identificada, mas sua feição tranquila chamava a atenção de qualquer um que passasse por lá.

Ela chamou a atenção de um patologista em específico que trabalhava no mortuário. O homem chegou a contratar um artista plástico para reconstruir o rosto da jovem em uma máscara. No mínimo, bizarro.

Mas as pessoas pareceram não se importar com o aspecto macabro da escultura. Ela estampou as paredes das casas de artistas e inspirou escritores do século 20. A garota misteriosa se tornou um ideal de beleza na época.

Apesar da popularização absurda de seu rosto, foi só depois de 80 anos que um homem viu potencial e resolveu investir em seus lábios. Ele se chamava Asmund Laerdal e era dono de uma fábrica de brinquedos na Noruega.

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Resusci Anne

Essa parte da história também começa com uma tragédia. O filho de Laerdal — Tore, de apenas dois anos — quase teve o mesmo destino da desconhecida. Ele se afogou e teria morrido se o pai não tivesse corrido para salvá-lo, expulsando a água se seus pulmões.

O episódio foi um grande trauma na vida do fabricante de brinquedos. Anos depois, ele foi chamado para fabricar uma boneca que pudesse demonstrar uma nova técnica de ressuscitação que estava sendo desenvolvida na época. Ele, é claro, não recusou.

A técnica era a Reanimação Cardiorrespiratória (RCR ou RCP), usada até hoje para salvar pessoas de afogamentos. Ela consiste principalmente na massagem cardíaca e na famosa respiração boca-a-boca. Laerdal precisaria criar uma boneca em tamanho real que desse conta da complexidade técnica do método e tivesse um visual agradável ao mesmo tempo.

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O fabricante não considerou fazer um boneco masculino. Ele achou que os homens de 1960 não se sentiriam confortáveis praticando o boca-a-boca em uma figura masculina. Precisava ser uma mulher — e precisava ser bonita.

Laerdal encontrou a resposta na parede da casa de seus sogros. Era a máscara da L’inconnue. O rosto da garota que se suicidou no Sena estampou o rosto de todas as bonecas usadas para o treinamento de ressuscitação. O fabricante apelidou ela de Anne, que já era o nome de uma de suas bonecas anteriores.

(Resusci Anne (Laerdal)/Divulgação)

A fábrica de Laerdal logo se tornou especializada em equipamentos de simulação e treinamentos em saúde. A Resusci Anne não é o único boneco de ressuscitação no mercado, mas é de longe o mais usado (e beijado) até hoje. Ela é usada em treinamentos para salva-vidas, médicos ou qualquer pessoa que queira praticar primeiros-socorros.

A empresa estima que os treinamentos com a boneca já tenham salvado mais de 2 milhões de pessoas. Na próxima vez que você assistir ou praticar primeiros-socorros em uma boneca, lembre que aquele rostinho bonito veio de um fetiche por um cadáver. Mas não se preocupe com a bizarrice — é por um bom motivo.

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