E se Portugal fosse um Estado brasileiro?
Não ficaríamos ricos, mas ganharíamos mais mão de obra qualificada
Na prática, historiadores defendem que Portugal pertenceu ao Brasil quando o Rio foi capital do império português entre 1808 e 1822. Foi uma união conturbada, que levou à independência aqui e a uma guerra civil ali. Se fosse hoje, pelo menos de cara, a situação também seria complicada.
Primeiro, nossa dívida externa seria maior. Além dos US$ 405 bilhões que devemos na praça, herdaríamos os US$ 548 bilhões da dívida portuguesa, que correspondem a 123,6% de seu PIB. O Brasil teria de bancar a ex-metrópole, só que dessa vez de um jeito pós-colonial, digamos assim.
Mas, com o tempo, a união teria um lado bom. “A disparidade de renda no Brasil é muito maior do que em Portugal. Essa não é a questão central do país europeu”, diz Amâncio Jorge Oliveira, do Departamento de Ciência Política da USP. Lá, a prioridade é competitividade industrial, o que levaria o Brasil a investir em setores-chave como metalúrgico, têxtil e tecnológico.
Nossa capenga infraestrutura seria abastecida com mais profissionais portugueses, e o desemprego lá, hoje em 17,5%, diminuiria. Aliás, alguns acordos nesse sentido já existem: no começo do ano, Brasil e Portugal assinaram um convênio que reconhece diplomas de engenheiros e arquitetos portugueses no Brasil.
Os craques portugueses, por sua vez, seriam mais que reconhecidos. Cristiano Ronaldo, novo parceiro de Neymar na seleção, bateria cartão em programas de auditório e capas de revista. E ele ainda marcaria o início de um processo interessante no futebol: jogadores da ex-metrópole defendendo as cores da ex-colônia. Diferentemente da França e da Holanda, que têm jogadores vindos de ex-colônias ou são filhos de imigrantes. É o caso do holandês Seedorf, do Botafogo, que nasceu no Suriname, antiga colônia holandesa.
Já o turismo mudaria, mas não muito. Afinal, o Atlântico e seus 106 milhões de km2 continuariam entre nós. Em compensação, esqueça a história de três meses de visto para turista. Portugal seria o Brasil na Europa, amigo! E, com isso, teríamos um intercâmbio cultural maior. Comeríamos mais pasteizinhos de Belém e bacalhau, enquanto as novelas fariam ainda mais sucesso do que já fazem em Portugal desde 1977, com a estreia da pioneira Gabriela Cravo e Canela.
A razão do sucesso é que as duas sociedades se veem refletidas nos folhetins, segundo um estudo da Universidade de Coimbra. Por isso não é difícil encontrar hoje brasileiros famosos em cartazes nas ruas lusitanas. Com a anexação, haveria mais atores portugueses atuando no Brasil. E você leria em sites de fofoca notícias sobre galãs portugueses jogando futevôlei com o Eri Johnson ou tomando água de coco na praia com a Cleo Pires.
Realidômetro
Se a adoção da nova ortografia já foi difícil para ambos, juntar os dois países seria muito mais complicado.
PIB
Brasil – US$ 2,3 TRI
Portugal – US$ 245 bi
Indústria no PIB
Brasil – 27,4%
Portugal – 22,6%
Desigualdade social (Quanto mais próximo de 100 mais desigual)
Brasil – 51,9
Portugal – 38,5
Fontes Amâncio Jorge Oliveira e João Paulo Cândia, professores do Departamento de Ciência Política da USP; José Adelino Maltez, professor do Instituto Superior de Ciências Políticas da Universidade de Lisboa, Portugal; Artigo As Telenovelas Brasileiras em Portugal, de Isabel Ferin Cunha, Universidade de Coimbra, Portugal; The World Factbook, da CIA.