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Evolução: simplesmente um luxo

Para conquistar um(a) parceiro(a), as formas de vida apostam num verdadeiro carnaval de cores berrantes, adereços espalhafatosos e comportamentos de risco.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h22 - Publicado em 31 out 2007, 22h00

Texto Reinaldo José Lopes

Algumas coisas nos seres vivos parecem não fazer o menor sentido. A cauda de um pavão macho, por exemplo. É pesada; é incômoda; certamente faz com que um predador reconheça o bicho a quilômetros de distância; e não ajuda nem um pouco a voar. “É para atrair as fêmeas”, dizia o vovô. Aposto que você tem dúvidas sobre o porquê de um adereço tão gay atrair as garotas. Bem-vindo à Teoria da Seleção Sexual, nobre leitor.

Assim como a sua prima mais famosa, a Teoria da Seleção Natural, ela foi esboçada pelo naturalista britânico Charles Darwin no século 19. E, sim, você acertou em achar a cauda de pavão um adereço arbitrário. A chave da seleção sexual é exatamente essa: o traço escolhido pelo sexo oposto não precisa servir para nada. Aliás, talvez seja até melhor que ele não sirva para nada – daí a fixação das fêmeas de veados por chifres imensos, a das galinhas por cristas gigantes e a de certas macacas pela bunda azul e vermelha dos machos. (Eu avisei que era arbitrário.)

Há dois jeitos de entender como esse processo surge. Um deles é assumir que uma característica favorecida pela seleção sexual era vantajosa – ao menos originalmente. Vamos supor que os pavões de cauda grande, no passado remoto, voavam melhor. Com isso, as fêmeas naturalmente tenderiam a preferir os machos mais rabudos. Na geração seguinte, a proporção deles na população aumentou. Para vencer a competição por garotas, era preciso uma cauda ainda maior. Bem, você já viu onde isso vai parar – um círculo vicioso, até chegar à cauda Clóvis Bornay de hoje.

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Tá ruim, mas tá bom

Por outro lado, pode ser que as fêmeas estejam preferindo o exagero justamente porque ele atrapalha o macho. A idéia, bolada pelo biólogo israelense Amotz Zahavi, da Universidade de Tel-Aviv, é menos maluca do que parece. É que as marcas da seleção sexual sempre são custosas: é preciso gastar uma quantidade absurda de energia do organismo para produzir uma cauda de pavão (ou uma bunda azul e vermelha…). Um macho cujo organismo consegue arcar com esse tipo de trambolho e ainda assim permanecer saudável é obviamente um bom partido, possuindo genes da melhor qualidade. O resultado é que a característica, assim como a preferência por ela, acabaria se espalhando pela população.

Não é preciso quebrar muito a cabeça para perceber que isso explica uma série de outros fenômenos do mundo animal – desde pássaros que montam ninhos nupciais superdecorados (gastando horas e horas de tempo e energia com isso) até as Ferraris e mansões que ajudam a garantir uma farta escolha de parceiros entre humanos. O que vale nesse jogo não é o valor intrínseco do que se exibe – e sim quanto aquilo custou.

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Olha, amor – sem os braços!

Alguns cientistas especulam que a seleção sexual possa estar por trás de traços ainda mais estúpidos do que exibir uma megacauda azul e verde. O biogeógrafo americano Jared Diamond, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, usou as idéias de Amotz Zahavi para tentar explicar por que as pessoas fumam, bebem, usam drogas ou adotam outros comportamentos de risco.

Eu sou terrível

A idéia é que esse tipo de atividade de alto risco seria um equivalente social de uma característica desvantajosa do organismo. Um jovem que enche a cara ou topa entrar num racha estaria sinalizando para os demais membros do seu grupo (gatinhas inclusive): “Eu sou tão forte que nem essas loucuras me atingem”. É claro que a coisa pode ser vista de outro jeito – seria uma forma de se mostrar para os competidores do mesmo sexo, e não apenas para o sexo oposto.

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