Barbara Soalheiro e Mariana Iwakura
Ninguém pode dizer com certeza. O que se sabe é que o único plano oficial de paz em vigor, o Mapa da Rota (proposto em abril de 2003 por Rússia, União Européia, Estados Unidos e ONU), está estagnado. Nem a primeira ação – o cessar-fogo dos dois lados – foi cumprida e especialistas começavam a achar que o Mapa podia tomar o rumo do Acordo de Oslo, de 1993, que foi abandonado. “Com a morte de Yasser Arafat, as negociações devem ser retomadas”, diz o historiador Amatzia Baram, da Universidade de Haifa, em Israel.
O problema é que o Mapa não discute as fronteiras dos dois Estados nem prevê soluções para as questões polêmicas. Ele é mais um conjunto de diretrizes para chegar a um cenário de paz e, assim, tornar possível a discussão de um plano permanente. Para Baram, a paz vai depender da disposição dos governos em fazer concessões, uma área em que nenhum dos lados tem muita experiência.
Além de autoridades pouco dispostas a ceder, o conflito reúne outros dois problemas: radicalismo religioso e ódio cultivado por décadas entre dois grupos dividindo uma minúscula área geográfica. “Para chegar à paz é preciso esquecer o passado e pensar no futuro”, diz o especialista em relações árabe-israelenses Scott Lasensky, do Instituto da Paz, uma organização americana.
Grupos moderados dos dois lados tentam mostrar que isso é possível. Na chamada Iniciativa de Genebra, assinada em junho de 2003 por políticos pacifistas palestinos e israelenses, todos os assuntos polêmicos foram discutidos e os dois lados abriram mão de algum ponto importante (veja tabela ao lado). Mas os governos não apoiaram o plano.
As tentativas frustradas de chegar a um acordo começam a desanimar muitos analistas. “Não vejo possibilidade de resolução do conflito a curto e médio prazo. Estou pessimista”, diz o historiador André Gattaz, autor do livro A Guerra da Palestina. Mas há quem pense diferente. “O novo rumo da política palestina [haverá eleições em janeiro] vai abrir uma porta. É impossível saber se do outro lado há paz ou guerra”, diz Baram. “Mas pelo menos há esperança.”
Pouco consenso
Os grupos envolvidos no conflito discordam nospontos essenciais
Radicais palestinos
Grupos religiosos extremistas como Hamas (Movimento da Resistência Islâmica) e Jihad Islâmica são contra o Estado de Israel e pregam a guerra para impedir qualquer concessão
Retorno dos refugiados (600 mil palestinos expulsos em 1948 lutam pelo direito de voltar a Israel com seus descendentes, hoje 4 milhões de pessoas) – A favor: Pregam a expulsão dos judeus e a volta de todos os refugiados para onde hoje é Israel
Divisão de jerusalém (Jerusalém é uma cidade sagrada para os dois povos, que a reivindicam como sua capital) – Contra: Rejeitam o Estado de Israel e, portanto, a divisão de sua capital
Criação da palestina (A criação de um Estado autônomo palestino esbarra na falta de consenso sobre as fronteiras) – A favor: Querem a criação de um Estado islâmico com as fronteiras pré-1948 e pregam a guerra contra os judeus
Assentamentos judaicos (Quase 400 mil israelenses vivem em assentamentos dentro do território reivindicado pelos palestinos) – Contra: Exigem o fim dos assentamentos judaicos e da ocupação israelense em Gaza e Cisjordânia
Por que não é viável – A existência de Israel foi determinada pela ONU e é reconhecida pela maioria dos países do mundo
Governo Palestino
A Autoridade Nacional Palestina foi criada em 1993. Em 1996, Arafat foi eleito presidente por cinco anos, mas só saiu no último mês, ao morrer. Deve haver eleições em janeiro
Retorno dos refugiados (600 mil palestinos expulsos em 1948 lutam pelo direito de voltar a Israel com seus descendentes, hoje 4 milhões de pessoas) – A favor: Luta pelo direito de retorno dos refugiados e seus descendentes às antigas casas, onde hoje é Israel
Divisão de jerusalém (Jerusalém é uma cidade sagrada para os dois povos, que a reivindicam como sua capital) – A favor: Jerusalém Oriental, onde estão os locais sagrados dos muçulmanos, seria a capital da Palestina
Criação da palestina (A criação de um Estado autônomo palestino esbarra na falta de consenso sobre as fronteiras) – A favor: Quer recuperar Jerusalém Oriental, Faixa de Gaza e Cisjordânia, territórios ocupados por Israel em 1967
Assentamentos judaicos (Quase 400 mil israelenses vivem em assentamentos dentro do território reivindicado pelos palestinos) – Contra: Exige que os colonos israelenses sejam retirados da Faixa de Gaza e da Cisjordânia
Por que não é viável – Com Arafat no poder, a ANP estagnou o processo de paz e vinha perdendo força para os grupos radicais terroristas
Moderados
A Iniciativa de Genebra reúne as propostas de grupos civis e políticos moderados israelenses e palestinos. Recebeu o apoio de vários líderes mundiais
Retorno dos refugiados (600 mil palestinos expulsos em 1948 lutam pelo direito de voltar a Israel com seus descendentes, hoje 4 milhões de pessoas) – Contra: Os refugiados retornariam ao Estado palestino, mas não às antigas casas em Israel
Divisão de jerusalém (Jerusalém é uma cidade sagrada para os dois povos, que a reivindicam como sua capital) – A favor: Jerusalém Oriental sod domínio palestino e Jerusalém Ocidental sob domínio israelense
Criação da palestina (A criação de um Estado autônomo palestino esbarra na falta de consenso sobre as fronteiras) – A favor: A Palestina seria um Estado desmilitarizado e receberia 97,5% do território perdido em 1967
Assentamentos judaicos (Quase 400 mil israelenses vivem em assentamentos dentro do território reivindicado pelos palestinos) – Contra: Exige o fim dos assentamentos, pois estão localizados nas áreas onde seria a Palestina
Por que não é viável – Apesar do apoio mundial, foi repudiado pelos governantes dos dois lados porque exigia que eles fizessem concessões
Governo de Israel
Ariel Sharon foi eleito em 2001 pelo partido de direita Likud. Durante seu governo, as negociações de paz foram congeladas e o número de assentamentos cresceu
Retorno dos refugiados (600 mil palestinos expulsos em 1948 lutam pelo direito de voltar a Israel com seus descendentes, hoje 4 milhões de pessoas) – Contra: Israel tem 5,3 milhões de habitantes judeus. O retorno tornaria o país um Estado de maioria muçulmana
Divisão de jerusalém (Jerusalém é uma cidade sagrada para os dois povos, que a reivindicam como sua capital) – Contra: Tanto a parte oriental quanto a ocidental abrigam locais sagrados para os judeus
Criação da palestina (A criação de um Estado autônomo palestino esbarra na falta de consenso sobre as fronteiras) – A favor: Não há fronteiras precisas. É possível que Israel forçe os limites para longe de Haifa, Tel-Aviv e do rio Jordão
Assentamentos judaicos (Quase 400 mil israelenses vivem em assentamentos dentro do território reivindicado pelos palestinos) – A favor: Propôs retirar os assentamentos da Faixa de Gaza, mas quer manter a maior parte na Cisjordânia
Por que não é viável – O governo de Israel não estava disposto a negociar com Arafat (mesmo a prospota de sair dos assentamentos foi unilateral)
Radicais israelenses
Vivem em assentamentos em Gaza e Cisjordânia. Não aceitam fazer concessões. Em 1995, um radical assassinou o primeiro-ministro de Israel Yitzhak Rabin por considerá-lo muito brando
Retorno dos refugiados (600 mil palestinos expulsos em 1948 lutam pelo direito de voltar a Israel com seus descendentes, hoje 4 milhões de pessoas) – Contra: Defendem a expulsão dos palestinos que vivem em Gaza e Cisjordânia para outros países árabes
Divisão de jerusalém (Jerusalém é uma cidade sagrada para os dois povos, que a reivindicam como sua capital) – Contra: Acreditam que Jerusalém é a capital israelense indivisível
Criação da palestina (A criação de um Estado autônomo palestino esbarra na falta de consenso sobre as fronteiras) – Contra: Rejeitam a criação de um Estado palestino e não estão dispostos a fazer qualquer concessão
Assentamentos judaicos (Quase 400 mil israelenses vivem em assentamentos dentro do território reivindicado pelos palestinos) – A favor: Acreditam que toda a área entre o Mar Morto e o Mar Mediterrâneo é terra santa prometida a eles
Por que não é viável – O direito palestino a um Estado é reconhecido pela ONU e por grande parte da sociedade israelense