Hotel zero-estrela
Bunker subterrâneo transformado em albergue permite viver a sensação de uma guerra nuclear
Suzana Camargo
País neutro? Que nada. Nos anos 70, com a rivalidade entre URSS e EUA correndo solta e o mundo à beira de uma guerra nuclear, a Suíça se considerava um alvo em potencial. Tanto que virou a capital mundial dos abrigos antinucleares: montou uma rede de 300 mil bunkers, capazes de abrigar todos os 7,5 milhões de habitantes do país. Mas, com o fim da Guerra Fria, os abrigos só servem como atrações turísticas. Essa é a ideia do Null Stern Hotel (Hotel Zero-Estrela), que acaba de ser inaugurado na cidade de Teufen, 100 quilômetros a leste de Zurique. O bunker, que fica 3 metros abaixo do nível do solo, foi projetado para abrigar 202 pessoas – mas agora, como hotel, vai receber apenas 14 hóspedes. Superexclusivo. Apesar do que isso pode sugerir, não há luxo nenhum. Os quartos são coletivos, a temperatura ambiente fica em 15 graus e os hóspedes têm de levar a própria comida (enlatada). “Queremos mostrar que é possível ser feliz somente com o essencial”, diz o arquiteto Patrick Riklin, que transformou o bunker em hotel. Apesar desse discurso neo-hippie, sentir o clima de holocausto nuclear parece ser o barato do Null Stern.
O albergue é hermeticamente selado e seu sistema de filtros, que elimina as partículas radioativas do ar, faz um barulho alto e constante. As paredes são de concreto fortificado, e o único contato com o exterior é por meio de um circuito de TV. E, para prevenir tentativas de suicídio, os banheiros não têm espelhos – que foram substituídos por placas de metal. Por incrível que pareça, tem muita gente querendo viver essa experiência: o Null Stern, cuja diária custa R$ 60, já está com as reservas esgotadas até o final do ano.