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Inscrições com nome de Alá são encontradas em tumbas vikings

Descobertas arqueológicas revelam que os vikings foram além das meras trocas econômicas com os árabes – e podem ter absorvido traços da cultura islâmica

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
9 out 2017, 17h59

Ornamentos funerários de seda encontrados em tumbas vikings no sul da Suécia contém inscrições em Kufic – o mais antigo estilo de caligrafia árabe, desenvolvido por volta do século 7 d.C. no atual território do Iraque. Duas palavras se destacam: Allah (Deus) e Ali, sucessor do profeta Maomé.

As palavras ocultas nesses itens arqueológicos – que já eram conhecidos e estavam armazenados em instituições acadêmicas – foram descobertas durante os preparativos de uma exposição sobre roupas nórdicas que está sendo organizada no museu da cidade de Enköping, na Suécia.

“Nós presumimos que os costumes funerários vikings tenham sido influenciados pelo Islã e pela ideia de uma vida eterna no paraíso após a morte”, afirmou em comunicado oficial a arqueóloga Annika Larsson, parte da equipe da Universidade de Uppsala que fez a descoberta. “Roupas belas, costuradas com delicadeza e com tecidos exóticos, não refletem o cotidiano do morto – da mesma forma que as roupas formais de hoje não refletem o nosso cotidiano.”

Ou seja: os vikings não andavam com roupas árabes por aí. Mas quando morriam, em vez de terno e gravata, vestiam luxuosas peças orientais – a seda não era um tecido típico da Europa dessa época, e precisava ser trazida do Oriente Médio ou da Ásia Central.

Outro detalhe curioso é que o árabe está grafado ao contrário (como a palavra “ambulância” no capô dos veículos de resgate). Larsson e sua equipe especulam que isso tenha acontecido porque o idioma é lido da direita para a esquerda – e os vikings escreviam como nós, da esquerda para a direita. A inversão talvez facilitasse a leitura das preces.

Essa interpretação é uma aposta arriscada: a caligrafia Kufic era usada para criar padrões geométricos decorativos, como os que ornamentam os azulejos de mesquitas – e não é impossível pensar que os responsáveis por bordar as peças tenham ignorado a orientação da escrita em prol do efeito estético.

Em 2015, a descoberta de um anel com a palavra Allah na mesma região das tumbas já havia dado força a ideia de que os vikings negociaram frequentemente com os árabes durante a Idade Média. Os ornamentos funerários anunciados hoje reforçam a ideia de que os produtos e matérias-primas adquiridos na Ásia fossem mais do que simples bens de consumo – e tenham adquirido uma dimensão espiritual.

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