Luís Augusto Fischer
Como se mede a importância de um livro? Há os que se impõem pelo valor do enredo; há os que vencem o critério do tempo pela excelência da linguagem; há os que flagram e desenham para sempre os tipos humanos de certo tempo e lugar; há ainda os que, por uma misteriosa combinação de fatores, acabam influenciando o futuro.
O Apanhador no Campo de Centeio (The Catcher in the Rye), de Jerome David Salinger, está neste caso. Lançado há 50 anos no calor do pós-guerra, aproveitou-se do nascimento da cultura jovem e potencializou-a, na história de Holden Caulfield, adolescente que é expulso de um prestigioso colégio, às vésperas do Natal, e volta para casa, em Nova York. O sofrido e variado percurso entre a escola, com sua ética superada aos olhos do jovem, e a casa da família, idem, é o recheio da novela
O livro (publicado no Brasil pela Editora do Autor) acertou em cheio a sensibilidade “teen”. Sabemos desde as primeiras linhas que Holden está internado num hospital e que dali vai desfiar suas lembranças, na ordem em que aconteceram e dourar nenhuma passagem.
Quem não se comove com a sinceridade jovem? É impossível não sentir uma ponta de agradável melancolia com as observações de Holden, como “É gozado, os adultos ficam horríveis quando estão dormindo de boca aberta, mas as crianças não, elas continuam cem por cento”. Há exatos 50 anos, Salinger fotografou seu futuro, a nossa cara.