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Lampião, herói ou vilão do Sertão?

Para uns, um ídolo. Para outros, assassino. Lampião, uma das figuras mais misteriosas da história do Brasil, passou a vida sendo temido e idolatrado pelas pessoas que aterrorizava e amparava. Conheça aqui sua trajetória.

Por Lívia Aguiar
Atualizado em 20 jan 2021, 11h59 - Publicado em 11 dez 2015, 13h15

Morte e vida Virgulina

1897
Lamparina
Virgulino Ferreira da Silva nasceu em 7 de julho de 1897 (de acordo com o registro civil) ou em 4 de junho de 1898 (a certidão de batismo) em Serra Vermelha, Pernambuco.

1913
Burro de carga
Seu pai era almocreve: levava farinha, rapadura, peles de bode e algodão de um lugar a outro. Lampião começou a trabalhar e a viajar com ele e, assim, pôde aprender a geografia e os esconderijos da caatinga.

”O apelido Lampião decorre da facilidade que Virgulino tinha no manejo do rifle, que, de tanto atirar, mais parecia um candeeiro aceso nas escuras noites da caatinga.” Cicinato Ferreira Neto, biógrafo do cangaceiro.

1921
A morte do pai 
Seu pai entrou em uma briga feia com os vizinhos, os Alves de Barros, que foi parar na polícia. Alguns meses depois, o pai acabou morto por oficiais. Foi quando o rapaz resolveu entrar para o cangaço, no bando de Sinhô Pereira.

1922
No cangaço 
Como era ágil, inteligente (estudou poucos anos, mas sabia ler e escrever com fluência) e bom de mira, Lampião logo se tornou o líder do bando em 1922. Uma de suas primeiras ações foi matar o informante que entregou seu pai à polícia

Vestimenta
As roupas eram espalhafatosas, com chapéus de couro (ou feltro) e coletes com moedas
e medalhas de ouro. Ele usava uma jabiraca no pescoço – lenço de seda preso por anéis de ouro, usado para secar o suor e coar a água impura do sertão. Lampião levava orações presas no corpo, dentro de saquinhos, que tinham a função de protegê-lo.

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1922
Sem dó
O maior assalto da história do cangaço até então foi contra a Baronesa de Água Branca, uma senhora de mais de 90 anos. Lampião exigiu dinheiro da idosa em troca de proteção, mas ela se negou a pagar: disse que ia pagar para matá-lo.

1923
Toma lá dá cá
Marcolino Diniz, um poderoso aliado do cangaceiro, matou um juiz de paz em Pernambuco e foi preso. O bando de Lampião invadiu a cidade e libertou Marcolino. Em troca, meses depois, quando o líder se machucou, a família Diniz cuidou dele e o escondeu da polícia.

1924
A primeira ”morte”
Como tinha o hábito de intercalar grandes assaltos com sumiços prolongados para não ser preso, Lampião foi anunciado como morto diversas vezes. A primeira, em 1924.

1925
Adeus ao irmão 
O bando tinha 45 cangaceiros e entrou em diversos conflitos sangrentos com as polícias volantes. Seu irmão Livino acabou morto. Para se vingar, Lampião resolveu atacar com violência cidades da Paraíba.

1926
Segunda ”Morte” 
No início do ano correu mais uma vez o boato de que Lampião estaria morto

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Amigo quando convém
Lampião não só atacava os ricos e poderosos – às vezes se amigava com eles também. Isso fez com que tivesse alianças em grande parte das cidades do Nordeste. Para os amigos, deixava de agir em certos territórios, fornecia homens quando necessário, vingava-se de seus inimigos e fazia outros serviços. O mesmo valia para os sertanejos comuns, os coiteiros. Eles davam abrigo, armas, mantimentos e informações sobre a localização das volantes, e recebiam proteção em troca. Entre cangaceiros e policiais igualmente violentos, os agricultores se viam divididos – e, por isso, Lampião era considerado por muitos um herói.

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1926
Homem de fé
Lampião tinha adoração a Padre Cícero e se encontrou com o religioso em Juazeiro. O Padim pediu que ele largasse o cangaço – sem sucesso. Lampião costumava respeitar os homens religiosos: até desistiu de atacar cidades e fazendas por persuasão de padres e nunca invadiu uma igreja. Ele e seu bando levavam orações escritas e antes dos embates se reuniam para rezar. Entre as preces mais comuns estavam as de ”corpo fechado”. Lampião jejuava na Semana Santa e às vezes ia à missa.

1926
Coluna Prestes
Em 1926, o grupo de Lampião entrou em tiroteio contra a Coluna Prestes – acharam que era a polícia. Alguns meses depois, o governo do Ceará o convidou a Juazeiro para negociar um possível combate à Coluna com auxílio estatal.

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1926
Terceira ”morte” 

(outubro)

1926
Sequestro lucrativo
No final do ano, Lampião sequestrou 17 funcionários da Souza Cruz e da Standard Oil Company, exigindo 16 contos (em torno de R$ 7 mil) pela sua libertação. A empresa de tabaco pagou o resgate, mas a petrolífera não, o que levou à luta entre os cangaceiros e 300 policiais. Lampião venceu.

1927
Quarta ”morte” 
(março)

“As espingardas vai cantar pela cantiga velha”, depois de receber a patente de capitão no Ceará, quando soube que as volantes continuariam perseguindo-o.

1927
A queda

Depois que o potiguar Massilon entrou para o bando, Lampião decidiu atacar Mossoró. O plano era ousado, já que o grupo não tinha estado no Rio Grande do Norte e eles desconheciam o terreno. Ao contrário do resto do sertão, a geografia por lá era plana.

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1927
Resistência

Depois da derrota, o grupo foi encurralado pela polícia e sofreu baixas – perdeu 13 cavalos e 12 rifles. Famintos, os cangaceiros viajaram a pé pela caatinga até serem cercados por 400 policiais. O bando tinha apenas 50 homens, mas conseguiu fugir.

Maria Bonita
Lampião foi o primeiro a introduzir mulheres no cangaço, o que era considerado fraqueza (acreditava-se que fazer sexo comprometia o ”corpo fechado”). Quando Lampião se juntou a Maria Bonita na Bahia, seus homens também passaram a levar as companheiras. Ela era casada, mas largou o marido. Algumas mulheres se tornaram combatentes, outras cuidavam do acampamento. Os filhos gerados morriam de doenças ou eram entregues a aliados.

Rei do Sertão 
Lampião se aproveitava do descaso pelo sertão para atuar. Em 1926, ele enviou uma carta ao presidente de Pernambuco propondo uma divisão: a área sertaneja até Arcoverde passaria a ser governada por Lampião e a faixa até o mar seria do governo oficial. Ela obviamente foi ignorada.

1928
Minibando
O ataque de Mossoró marcou o começo do fim do bando, onde eles perderam a fama de invulnerabilidade. Até o final do ano, o grupo quase desapareceu: ficou com apenas 16 a 20 homens. Massilon desertou o bando.

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1929
Quinta ”morte” 
(janeiro)

1929
Vai e vem
O grupo foi a Capela (SE), onde resolveu se divertir. Lampião visitou o cinema, o bordel, a estação ferroviária e casas comerciais. Depois foi à Bahia, onde fez ataques violentos. Mataram dez pessoas na Fazenda Almêcega e torturaram e castraram seus inimigos.

1930
Fama e riqueza
Maria Bonita entrou no bando em 1929 e, em 1930, Lampião apareceu no jornal The New York Times pela primeira vez. Virou assunto de documentário também: Lampião, Fera do Nordeste.

”Diga a ele que não tenho medo de boi velhaco, quanto mais de bezerra”, Insulto ao Capitão Bezerra, comandante de volantes.

As volantes
Eram as forças policiais itinerantes que combatiam os cangaceiros. Ambos grupos eram muito parecidos: tinham as mesmas roupas, armas, táticas e atitudes diante dos sertanejos, que tratavam com crueldade – a única diferenca é que as volantes agiam em nome da lei. Eram formadas por homens que roubavam os sertanejos comuns e que extorquiam os cangaceiros em troca de conivência ou proteção

1930
Sexta morte
(outubro)

1930
Inimigo nº1  

Depois de 1930, Lampião começou a ser visto como inimigo do governo federal, de Getúlio. Criaram-se ações coordenadas de polícias volantes dos Estados, os cachimbos (grupos de civis) e forças federais.

1932
Sétima morte

(agosto)


1932
Seca e fuga
Em 1932, houve uma terrível seca no sertão. O governo da Bahia decidiu evacuar a área para deixar Lampião sem aliados. Forças policiais desalojaram 12 mil sertanejos, enviados para as grandes cidades. Eles abandonaram terras, animais, lavouras, tudo. Mas Lampião não foi abalado.

1932
Filhota 
Maria Bonita deu à luz a filha do casal, Expedita, no fim do ano, quando estavam em Sergipe – e a entregou a um casal de amigos no Estado.

”Ter dois olhos é luxo”, ao final da vida, tinha apenas um olho funcionando normalmente.

1934
Um copo de veneno
O grupo sofreu uma tentativa de envenenamento na Bahia. Uma volante obrigou um de seus coiteiros a colocar veneno na comida que ofereceriam aos cangaceiros, mas eles nem provaram os alimentos, alegando que já tinham comido.

1937
O começo do Fim
Em 1937, Lampião andava irritado com a perseguição das volantes. Seu corpo estava danificado pelo sol, pela seca, as más condições de higiene, os ferimentos mal curados e talvez até a tuberculose. Desde que havia ferido o olho direito num espinho, sua visão o afligia.

1938
Oitava morte

(janeiro)

1938
Morte Repentina
Há duas versões para a morte de Lampião. Na primeira, o líder era surpreendido pela polícia e morto quase sem resistência – o que é pouco provável, já que o cangaceiro é conhecido pelos embates duros. Acima, a segunda – e mais provável – versão de sua morte.

Sem pé nem cabeça
Onze cangaceiros morreram na grota de Angico, um lugar considerado uma ”ratoeira” por outros cangaceiros. Suas cabeças foram cortadas e fotografadas pelos soldados para comprovar a derrota do famoso líder. Os policiais fizeram um desfile, com as cabeças dentro de latas de querosene, por diversas cidades do Nordeste, inclusive Maceió e Piranhas.

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