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Lost:os deuses devem estar loucos

Acredite: o seriado tem laços com a mitologia nórdica

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h26 - Publicado em 31 jul 2006, 22h00

Paulo Terron

Lost é um seriado para ser visto com vários olhos. O programa é fragmentado, cheio de referências e detalhes que, à primeira vista, podem passar despercebidos. Existem as citações diretas (como os hieróglifos que aparecem no contador do computador, na segunda temporada), as obscuras (o sistema de segurança da ilha, o tal monstro, uma referência à mitologia grega) e as possíveis (que muitas vezes partem de especulações de fãs, como o símbolo da Dharma Initiative ter tudo a ver com a forma da figura octogonal chinesa que representa o I Ching). São esses elementos, juntos com a força e a obsessão, que formam a peculiar mitologia do programa. Levando em consideração a estranheza de algumas coisas que acontecem na ilha de Lost, não seria absurdo se Deus aparecesse por lá. Ou vários deuses. Pelo menos é isso que alguns fãs da série acham. Tudo bem, não são deuses de verdade, mas representações simbólicas desses seres lendários da mitologia ocidental. A comparação mais interessante é a de Sawyer com o Loki, da mitologia escandinava. Esse deus é a representação da trapaça (antes da queda do avião, o personagem vivia de aplicar golpes para conseguir dinheiro) e assume outras formas (Sawyer adotou outra identidade, deixando o nome real dele para trás).

Até fragmentos da história dos dois, perso-nagem e deus, são parecidos. Na Edda, a publicação islandesa do historiador Snorri Sturluson (1178-1241) que serve como base para a mitologia nórdica, Loki ajuda gigantes a furtar os tesouros dos deuses, do mesmo modo como Sawyer costuma fazer com armas e remédios em Lost. Como os gigantes são os inimigos dos deuses, essa facção da audiência acredita que, no futuro, Sawyer possa fazer uma parceria com Os Outros, o grupo inimigo dos sobreviventes da queda do avião.

Inferno na Terra

No episódio Lockdown, da segunda temporada, uma série de acontecimentos leva o bunker dentro da escotilha a ativar uma espécie de “reação de segurança” (se você ainda não viu a segunda temporada, tudo isso pode soar um pouco estranho!). Quando uma das portas se tranca, isolando o lugar, um mapa aparece projetado nela. No meio de várias informações estranhas, está o nome Cerberus. Ainda não ficou claro a que ele se refere, mas especula-se que seja ao sistema de segurança da ilha (mais conhecido na primeira temporada como “o monstro”).

Na mitologia grega, Cerberus é o cão de 3 cabeças que vigia a entrada de Hades, o mundo inferior, onde moram os mortos e os deuses. Faria sentido que ele fosse o tal monstro que, na segunda temporada, aparece em forma de uma fumaça escura que emite sons metálicos. Os dois personagens que enfrentaram “o monstro” e viveram para contar a história foram Locke e Eko, o que os leva a ser comparados com Orfeu (que acalmou a fera e conseguiu acesso a Hades) e Héracles (que, no mito, capturou o cão e o levou à superfície).

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Números e códigos

Antes da pane do bunker, John Locke descobriu (em One of Them, da segunda temporada) que, caso os números misteriosos (4, 8, 15, 16, 23 e 42) não fossem digitados no computador do bunker, como Desmond Hume explicou, uma série de hieróglifos surgiria no painel de contagem regressiva. Não se sabe o que eles significam, mas uma das traduções possíveis (os símbolos são egípcios de verdade) seria “kill” (mate). O site Lostpedia (.com), uma enciclopédia virtual sobre a série, tem detalhes sobre as interpretações, e vídeos que mostram até em câmera lenta a frase.

Os hieróglifos (literalmente “escrita sagrada”) como os vistos em Lost eram usados no Egito antigo (entre 3500 e 30 antes de Cristo). Eles estão entre as formas de escrita mais antigas já encontradas. O sistema consiste em representações gráficas e fonéticas de difícil interpretação – tanto que o historiador e lingüista francês Jean-François Champollion (1790-1832) só conseguiu decifrar o código em 1822, depois de 23 anos de estudo.

(Na América, os maias usavam um sistema parecido mas não relacionado.) A peça fundamental para essa descoberta foi a Pedra de Roseta, encontrada pelos soldados de Napoleão no Egito em 1799, que tinha o mesmo texto em 3 formas diferentes: em grego, em hieróglifos e em caracteres demóticos (uma evolução simplificada dos hieróglifos).

Aqui entra uma outra relação da série, agora com a literatura. Se os mistérios atormentavam os telespectadores, os criadores chegaram à conclusão de que deveria haver um meio, uma chave, para todos esses “problemas”. Quando o roteirista Craig Wright disse que o livro O Terceiro Tira, do irlandês Flann O’Brien (1911-1966), seria “mostrado com destaque em um momento-chave”, os fãs não hesitaram em pensar: finalmente temos a nossa “Pedra de Roseta”. E o autor foi ainda mais direto: “Quem comprar o livro terá muito mais base para teorizar sobre Lost.” Ele só se “esqueceu” de dizer que a obra tem toques surreais. Mais confunde os “pesquisadores” do que esclarece. Nos EUA, a obra subiu ao topo das listas de mais vendidos. No Brasil, trouxe o selo: “o livro que inspirou Lost”.

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Outro caminho para a “Pedra de Lost” – algo que ajude os sobreviventes a descobrir as respostas para tudo (?) – pode ser o dos tais números amaldiçoados. A soma deles dá 108, número significativo para os budistas. Esse é o número de vezes que os devotos mais dedicados à religião tentam cumprir o Kora – caminho ao redor do monte Kailash, local sagrado, no oeste do Tibet – para tentar atingir o Nirvana e a iluminação. Para os chineses, 108 é o número das estrelas sagradas do taoísmo. No hinduísmo, também é significativo. E no sikhismo. Sem contar a comunidade hare krishna. Ah, e também para o islamismo! Seria, então, espiritual a busca dos personagens de Lost?

Para ler mais

A EPOPÉIA DE GILGAMESH

Quando aparece: Episódio Collision, da segunda temporada. Gilgamesh é a resposta das palavras-cruzadas de Locke.

Sobre o que é: Possivelmente o mais antigo épico da história. Escrito 1500 anos antes de Homero na antiga Mesopotâmia, conta as aventuras do mítico rei semideus Gilgamesh, incluindo sua busca por imortalidade. Uma das histórias trata de um grande dilúvio, que muitos relacionam à história de Noé.

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