Mestre Antonio Candido
Já em 1956, ano de lançamento do romance de Guimarães Rosa, Candido saudava Grande Sertão: Veredas como "uma das obras mais importantes da literatura brasileira.
Eduardo Sterzi
Um preconceito renitente e injustificado faz-nos, à menção da palavra escritor, pensarmos quase exclusivamente em autores de ficção ou poesia. No entanto, existem imensos escritores que jamais cinzelaram um único verso, que jamais infundiram vida a um personagem fictício ou edificaram um enredo alternativo aos fatos da vida. Em suas obras, a lúcida percepção e compreensão da realidade prepondera sobre a imaginação.
Antonio Candido, o maior crítico literário brasileiro, é um magistral escritor dessa espécie. E uma das virtudes da caixa lançada com os livros Bibliografia de Antonio Candido e Textos de intervenção (Editora 34/Duas Cidades) é ressaltar, por meio das introduções do organizador Vinicius Dantas, o aspecto literário de sua produção. Trata-se de um admirável trabalho de pesquisa: no primeiro volume, temos um levantamento das publicações de e sobre Candido; no segundo, derivado desse inventário, uma coleção de escritos inéditos em livro ou disponíveis apenas em obras fora de catálogo.
Já em 1956, ano de lançamento do romance de Guimarães Rosa, Candido saudava Grande Sertão: Veredas como “uma das obras mais importantes da literatura brasileira”. Mas, aliada a essa argúcia crítica, salta à vista a capacidade de seduzir o leitor com sua escrita cristalina e reflexiva, e conduzi-lo ao cerne de questões cruciais de nosso tempo.