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Mistério no mar

Quase três anos depois que um da Air France saiu do Rio de Janeiro para cair no oceano, as causas do acidente ainda são desconhecidas

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h16 - Publicado em 2 fev 2013, 22h00

Ernani Fagundes

Acidente aéreo
Oceano Atlântico – 2009 – 228 mortos

Existe uma velocidade mínima para que uma aeronave de grande porte possa se manter no ar. Ela é calculada com base em uma tabela que considera o peso do avião e sua aerodinâmica. Para evitar erros humanos, a conta é feita em tempo real pelo computador de bordo. Se o equipamento falha, o comandante ou o copiloto assumem os controles e estabilizam a aeronave no braço. Mas, por mistérios que o Escritório de Investigações e Análises (BEA, em francês) ainda não solucionou, na madrugada de 1° de junho de 2009, o Airbus A330-203 que fazia o voo 447 da Air France voou devagar demais e caiu no oceano Atlântico, no caminho do Rio de Janeiro para Paris. Ninguém sobreviveu.

Os problemas começaram quando os copilotos resolveram manter a rota original e entrar em um temporal. “A grande pergunta é: por que eles entraram naquela tempestade?”, diz um ex-comandante e checador de pilotos do Departamento de Aviação Civil (DAC), que prefere o anonimato. “Um Lufthansa que passou 5 minutos depois na mesma rota respeitou a natureza, desviou 30 graus à direita e não aconteceu nada com ele.”

De acordo com o último relatório do BEA sobre o acidente, publicado em 2011, a tempestade congelou com cristais de gelo os sensores externos de velocidade. Sem acesso a essas informações cruciais, o piloto-automático desligou. Os copilotos, David Robert e Pierre-Cedric Bonin, tentaram insistentemente chamar o comandante de bordo, Marc Dubois, que estava descansando. Dubois demorou um minuto e meio para retornar à cabine. Naquele momento, a aeronave tinha perdido muita velocidade, de 509 km/h para 111 km/h. O comandante tentou estabilizar a aeronave por dois minutos, mas não conseguiu retomar o controle e ela caiu.

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O relatório oficial diz que a principal falha foi não adotar o procedimento de “velocidade questionável” e demorar para passar para a pilotagem manual. O BEA considerou que os copilotos não receberam treinamento para a situação. Não emitiram mensagem de socorro nem fizeram nenhum tipo de anúncio aos passageiros (dos quais 59 eram brasileiros).

“É muito arriscado entrar numa tempestade equatorial de grande magnitude. Estou cansado de ver granizo de chuvas fracas quebrarem para-brisas de aeronaves brasileiras”, afirma o ex-comandante. “Será que o piloto estava mais preocupado com o chefe questionando sobre o gasto adicional de combustível provocado pelo desvio imprevisto da rota? Isso é um problema muito comum.”

Gustavo Cunha Melo, gerenciador de crises e especialista em acidentes aéreos, questiona o funcionamento dos equipamentos. “Há dúvidas não explicadas sobre uma série de procedimentos do Airbus 330. Enquanto o foco se volta para a falha dos pilotos e do censor de velocidade, nada se fala sobre o motivo de o radar meteorológico de uma aeronave do porte da Airbus não ter alertado sobre as condições de chuva daquela área.”

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Em 26 dias de buscas por sobreviventes logo depois do acidente, em junho de 2009, a Marinha e a Força Aérea da França e do Brasil encontraram 50 corpos numa área de 1200 km2, contados a partir da última mensagem eletrônica enviada pelo avião.

Em uma nova tentativa, em maio de 2011, o submarino francês Nautile encontrou as duas caixas-pretas da aeronave e uma operação náutica recuperou outros 104 corpos. Por enquanto, 74 mortos continuam sepultados no oceano Atlântico, a 3900 m de profundidade. A operação de resgate vai continuar em 2012. Assim como a busca por respostas.

199 mortos em São Paulo

Em 17 de julho de 2007, os motoristas que encaravam o congestionamento dos arredores do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, ouviram um estrondo às 18h51. Um Airbus 320-233 da TAM, que vinha de Porto Alegre, tentava aterrissar quando atravessou a pista molhada pela chuva e colidiu contra um prédio da própria empresa. Ao sobrevoar a avenida Washington Luís, atingiu um posto de combustíveis e arrancou o teto de alguns automóveis. Ao todo, 199 pessoas morreram – as 187 que estavam dentro da aeronave e outras 12 em solo. Considerando apenas aeronaves brasileiras, esse foi o maior acidente aéreo do país. A investigação apontou que os manetes que controlavam os motores estavam posicionados de forma incorreta, mas não concluiu se houve falha humana ou do equipamento. Como de hábito entre as empresas, depois da tragédia, a rota Porto Alegre São Paulo da companhia mudou de sigla, de JJ 3054 para JJ 3046.

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Rota interrompida
A aeronave entrou em uma tempestade às 2h08 do dia 1º de junho. A comunicação acabou 6 minutos depois

1. A 820 km do arquipélago de Fernando de Noronha, o Airbus diminui a velocidade e muda a rota prevista em 12 graus para tentar escapar da turbulência.

2. Cristais de gelo congelam o sensor externo de velocidade e o piloto automático é desligado. A aeronave perde altitude.

3. Os registros acabam às 2h14 e 28 segundos. Os últimos dois minutos são marcados pelo desespero dos pilotos. Na queda, os passageiros não receberam nenhum aviso.

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