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Montanha de carne

A descoberta, nos Estados Unidos, de fósseis do sauroposeidon, o animal mais alto de todos os tempos, ajuda a esclarecer por que os dinossauros cresceram tanto.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h21 - Publicado em 31 jan 2000, 22h00

Claudio Angelo e Denis Russo Burgierman

O paleontólogo americano Richard Cifelli não acreditou quando viu o fóssil que havia sido encontrado por um detento na prisão rural de Atoka, no Estado de Oklahoma. “Pensei que fosse um tronco petrificado”, lembra-se Cifelli. “Só depois percebi que se tratava de um osso de dinossauro.”

Que dinossauro! O fóssil, uma única vértebra do pescoço do bicho, tinha mais de 1 metro de comprimento. Depois de desenterrar mais três ossos parecidos com aquele, no mesmo barranco, Cifelli e dois colegas perceberam estar diante dos restos de um dos maiores animais que já andaram sobre a Terra. Em novembro passado, quando anunciaram a descoberta, batizaram-no de sauroposeidon. O nome é uma homenagem a Poseidon, o deus grego dos mares e dos terremotos. Justificável. O bicho pesava 60 toneladas, media mais de 30 metros da cabeça à ponta da cauda e alcançava 20 metros de altura. De fato, a terra devia tremer onde ele pisava. “Há dinos mais compridos e de maior peso, mas esse sem dúvida é o mais alto de todos”, disse à SUPER Matt Wedel, da Universidade de Oklahoma, um dos membros da equipe.

O sauroposeidon viveu há 135 milhões de anos, no começo do Período Cretáceo (o último da era dos dinos), e pertencia ao grupo dos saurópodes, os grandes dinossauros herbívoros. “Achava-se que, naquela época, os gigantões já estavam extintos”, afirmou Wedel. Daí a importância do achado para a ciência. Os fósseis monumentais podem explicar como os dinos cresceram tanto. E como conseguiam andar por aí com corpos tão grandes.

Ser grande demais tem altos e baixos

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Gente com mais de 2 metros de altura tem várias dificuldades. Não cabe em certos automóveis, às vezes bate com a cabeça no batente da porta e sempre atrapalha quem está sentado atrás no cinema. Tente imaginar, então, os problemas causados por alguém que tinha 12 metros só de pescoço. Os bichões não iam ao cinema, mas tinham que lidar com estorvos bem mais sérios, como o de manter o corpanzil funcionando (veja infográfico ao lado).

A sobrevivência dos gigantes só era possível porque a Terra era um planeta agradabilíssimo no tempo deles. Mesmo os mais rigorosos invernos eram amenos. Nos pólos, a média anual de temperatura chegava a 15 graus Celsius. Então, não havia calotas polares.

As plantas, que adoram o calor, eram abundantes em toda a Terra. Ou seja, sobrava comida para herbívoros como o sauroposeidon. “As condições ambientais eram ótimas”, explica o paleontólogo Reinaldo Bertini, da Universidade Estadual Paulista em Rio Claro. “Elas levaram ao aparecimento de uma grande variedade de espécies e ao tamanho descomunal de algumas delas.”

Com a proliferação dos herbívoros, surgiram também carnívoros imensos e ferozes, como o acrocantossauro, de 5 metros de altura. “Os saurópodes provavelmente espicharam para defender-se desses predadores”, acredita Matt Wedel. Só com tamanho extra era possível proteger os filhotes que nasciam com míseros 20 centímetros de altura.

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Um dia, porém, a festa dos gigantes acabou. As plantas altas que eles gostavam de comer – pinheiros e palmeiras – começaram a perder terreno para as angiospermas, árvores menores (veja o quadro). A mudança aconteceu no Período Cretáceo, a época do sauroposeidon. E os dinos foram diminuindo. Ainda bem. “Os mamíferos grandes, como o mamute, o tigre-dente-de-sabre e o próprio homem só surgiram porque não havia mais competição com os dinossauros”, diz Bertini. Se tivéssemos que disputar espaço com sujeitos tão grandes quanto o sauroposeidon, não sobraria muita coisa para nós.

cangelo@abril.com.br drusso@abril.com.br

Algo mais

Os maiores dinos eram também os mais velhos. É que os répteis, como os jacarés e as tartarugas, nunca param de produzir hormônio do crescimento. Ao contrário dos mamíferos, os lagartos crescem sem parar até morrer.

Medidas indiscretas

Tudo é exagero no sauroposeidon

Pescoçudão

O paleontólogo Matt Wedel posa ao lado da oitava vértebra do pescoço do sauroposeidon, que tem 1,4 metro de comprimento. Apesar do tamanho, o pescoço pesava pouco, porque os ossos eram porosos e, em alguns lugares, tinham a espessura de uma casca de ovo. O lagartão também devia ter sacos de ar ao longo da garganta para deixar o pescoço ainda mais leve. Só assim o bicho poderia levantá-lo e alcançar as árvores.

Caminhão de comida

O posseidon devia comer perto de 1 tonelada de folhas, todo dia. Para tanto, passava uns três quartos do tempo mastigando. Comendo apenas plantas, pobres em energia, devia ser lerdo.

Peso pesado

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O animal pesava 60 toneladas, o equivalente a doze elefantes empilhados.

Nariz de fora

O nariz dos dinos da família dos braquiossauros, à qual pertencia o sauroposeidon, ficava no topo da cabeça. No começo do século, achava-se que isso servia para que eles respirassem mesmo dentro d’água. Os paleontólogos acreditavam ser impossível sustentar um pescoço tão grande em terra firme, devido à acão da gravidade.

Almoço de dino

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O sauroposeidon comia folhas de grandes pinheiros, como este, que passava de 20 metros de altura. Para alcançar petiscos tão altos, ele ficava em duas patas, apoiado na cauda e nos forte osso da bacia.

Dentro do peito

O coração tinha que ser imenso para bombear sangue para o corpo inteiro. Provavelmente media mais de 1 metro de altura, o bastante para abrigar um homem sentado. Continha mais de 200 litros de sangue.

Estica-encolhe

O tempo dos dinossauros se divide em três períodos. No Triássico, há 245 milhões de anos, eles surgiram e foram ficando cada vez maiores. O maior bicho desse período, o plateossauro, não passava de 9 metros. No Jurássico, há 208 milhões de anos, já eram imensos. No Cretáceo, há 144 milhões de anos, voltaram a encolher. A culpa foi das plantas. Até o Jurássico imperavam pinheiros e palmeiras, árvores altas e sem frutos. No Cretáceo surgiram as angiospermas, plantas com flores e frutos, que dificilmente ultrapassavam 10 metros. Como o fruto já é, ele mesmo, o alimento da semente, as angiospermas logo dominaram o mundo. Os grandes dinos gostavam de comer folhas das árvores sem frutos. À medida em que elas foram rareando, os gigantes sumiram. O mundo ficou florido. Só que bem mais sem graça.

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