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Mulheres que mudaram a história: Gargi Vachaknavi

Ela foi uma das mais importantes pensadoras do hinduísmo, que não costuma aceitar mulheres nos debates teológicos. Até hoje é adorada como santa

Por Tiago Cordeiro
Atualizado em 22 fev 2024, 10h07 - Publicado em 1 mar 2018, 15h11

O que foi: Filósofa
Onde viveu: Índia
Quando nasceu e morreu: 700 A.C.

Se os cristãos têm um único livro sagrado, os hinduístas reuniram uma verdadeira biblioteca. Entre as obras mais importantes para a religião estão as Upanixades. São centenas de textos de mais de 2.500 anos de idade. Somados, reúnem algumas das bases da teologia da religião.

Pouquíssimas mulheres figuram entre as milhares de páginas desses tratados. Uma delas é Gargi Vachaknavi. É uma protagonista que dialoga com os homens mais santos em condição de total igualdade. Celibatária, sacerdotisa, filósofa, Gargi é um caso raro de mulher que foi aceita como pregadora da religião. No relato das Upanixades conhecido como “Brihadaranyaka”, aparece como a única figura feminina de importância.

VACAS E OURO

O texto conta que, no século 8 a.C., Janaka, mandatário do reino de Videha, convocou os cidadãos para debater sobre a alma e a existência deste mundo e da vida após a morte. Janaka alinhou mil vacas e colocou dez peças de ouro no chifre de cada uma – este era o prêmio para o que pode ter sido o primeiro grande debate filosófico da história.

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Considerado o homem mais sábio da época, Yajnavalkya levou o prêmio para casa, de tão confiante que estava na vitória. De fato, um a um, eles foram sendo derrotados. Até que chegou a vez de Gargi. Ela deu início a uma sequência de questões sobre as características da alma e sobre a existência física do mundo.

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À medida que o diálogo avançava, a tensão crescia e Yajnavalkya parecia às vezes sentir dificuldade em apresentar boas respostas. Por fim, ele acabou vencendo. Mas reconheceu a força da oponente e devolveu as vacas em sinal de respeito à competidora.

Ainda hoje, na Índia, Gargi é adorada como santa, uma sábia exemplar. Os hinduístas dizem que ela manteve uma vida tão perfeita que foi um dos poucos seres humanos que já existiram a despertar sua Kundalini, a energia espiritual que, para as pessoas comuns, permanece escondida ao longo da vida inteira.

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VITÓRIA E VERSOS

A santa participou de outros debates, incluindo um contra um estudioso chamado Pandit Mandan Mishra. Nesse caso, o assunto era sexo. E ela superou o oponente com seus argumentos – para os seguidores da fé, se ela venceu, é porque havia alcançado um estágio de sabedoria superior ao de Pandit, ele mesmo considerado um grande pensador. Foi essa vitória que a colocou no panteão dos espíritos mais avançados da época.

Gargi também é citada como autora de uma série de versos de hinos religiosos, alguns muito densos, que questionam a respeito das origens de tudo o que existe.

Na história do hinduísmo, trajetórias como a sua são comuns – mas apenas entre os homens. Até hoje, 2.700 anos depois, ela continua inspirando indianas a buscar posições de autoridade entre os pensadores do hinduísmo.

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Dica de livro: Existem boas traduções de várias das Upanixades, publicadas principalmente pela editora Madras

ACERTOS

  • Desafiou homens – Ainda hoje não é comum para uma mulher debater com homens conhecedores do hinduísmo. Pois ela chegou a superá-los em debates
  • Viveu como santa – Gargi alcançou grande elevação espiritual. Os estudos e a prática de meditação a colocaram no mesmo nível dos maiores santos da religião
  • Estudou a fundo – Para enfrentar as mentes mais expressivas da época, ela foi uma filósofa dedicada. Leu e meditou por anos antes de sair a público

FRACASSOS

  • Seguiu a tradição – Gargi não tentou mudar os costumes da região onde vivia: apenas se comportou como se fosse mais um dos sábios de sua época. Não estimulou outras mulheres a estudar e se desenvolver como filósofas e teólogas.
  • Aceitou a derrota – Nos tempos atuais, é difícil aceitar a derrota para Yajnavalkya da maneira como ela é descrita. Machista, ele encerra o debate dizendo para Gargi parar ou iria ficar doida. Como se ela fosse incapaz de acompanhar o raciocínio do pensador a partir daquele ponto do debate
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