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O alfabeto mais antigo do mundo pode ter sido descoberto em cerâmica na Síria

Os cilindros de cerâmica foram encontrados em 2004, em uma tumba do início da Idade do Bronze. Agora, estão sendo revisitados com uma nova teoria.

Por Bela Lobato
22 nov 2024, 18h00

Um pequeno cilindro de cerâmica do tamanho de um dedo pode ser a evidência do alfabeto mais antigo já descoberto. Encontrado em uma tumba na Síria, o fragmento tem inscrições datadas de 2.400 a.C., cerca de 500 anos antes de qualquer outra escrita alfabética conhecida. A descoberta pode revolucionar o que se sabe sobre a origem e a difusão dos alfabetos em civilizações.

A invenção do alfabeto é diferente da invenção da escrita. Os alfabetos dividem as palavras em vogais e consoantes únicas e, normalmente, exigem apenas de 20 a 40 caracteres. Isso os torna mais simples e fáceis de aprender do que os sistemas de escrita anteriores, como os hieróglifos egípcios e cuneiforme da Mesopotâmia. 

Até então, acreditava-se que o primeiro alfabeto teria sido criado onde hoje é o Egito, por volta do ano 1.900 a.C.. Chamado de protossinaítico, esse alfabeto era diretamente derivado de hieróglifos. Agora, a nova descoberta sugere que pessoas em regiões mais distantes do Oriente Próximo fizeram experimentos com letras derivadas de hieróglifos muito antes.

Objeto de argila aproximadamente do tamanho de dedos. Os símbolos gravados podem ser parte do alfabeto mais antigo conhecido.
(Cortesia de Glenn Schwartz/Divulgação)

“Os alfabetos revolucionaram a escrita, tornando-a acessível a pessoas além da realeza e da elite social. A escrita alfabética mudou a maneira como as pessoas viviam, como pensavam e como se comunicavam”, disse Glenn Schwartz, professor de arqueologia da Universidade Johns Hopkins, que descobriu os cilindros de argila. “E essa nova descoberta mostra que as pessoas estavam experimentando novas tecnologias de comunicação muito antes e em um local diferente do que imaginávamos até agora.”

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Tudo começou com a descoberta de tumbas de Umm-el Marra, uma cidade antiga no norte da Síria localizada onde hoje é a cidade de Aleppo. As tumbas, datadas do início da Idade do Bronze, continham seis esqueletos, joias de ouro e de prata, utensílios de cozinha, uma ponta de lança e vasos de cerâmica intactos. Ao lado da cerâmica, os pesquisadores encontraram quatro cilindros de argila, como o descrito no início do texto.

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“Os cilindros eram perfurados, então imagino que tivessem um barbante amarrando-os a outro objeto para servir de etiqueta. Talvez eles detalhem o conteúdo de uma embarcação, ou talvez de onde ela veio, ou a quem pertenceu”, disse Schwartz. “Sem um meio de traduzir a escrita, só podemos especular.”

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A descoberta não é recente: foi em 2004 que Schwarts encontrou os cilindros, e eles só foram descritos oficialmente em uma publicação acadêmica em 2021. Na época, não chamou muita atenção, porque Schwartz foi cauteloso ao promover sua interpretação das inscrições como letras alfabéticas. “Provavelmente eu era muito tímido”, disse ele em entrevista à Scientific American.

Ele apresentou uma interpretação mais confiante esta semana na reunião anual da American Society of Overseas Research, realizada em Boston, nos EUA. Alguns pesquisadores dizem que os fragmentos são muito pequenos para que se afirme que se trata mesmo de um alfabeto, e não de uma variação de uso de hieróglifos. Já outros colegas acreditam que os padrões são claros e concordam com a teoria de Schwartz.

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