O cálice sagrado
A taça da última ceia de Jesus, o rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda são personagens de um mito que às vezes é confundido com uma história real
Manuela Aquino
O Santo Graal seria o cálice utilizado por Jesus na Santa Ceia. Não há evidências de que tal objeto tenha existido – muito menos de que tenha sido preservado como relíquia. No entanto, o mito da busca do Santo Graal foi tão difundido que muitas vezes é tomado por uma narrativa histórica real. O cálice, diz a lenda traria a cura de todos os males. “Em seu interior haveria gotas do sangue de Jesus, colhidas na crucificação. Elas seriam a chave para o paraíso eterno”, diz Ricardo Costa, historiador da Universidade Federal do Espírito Santo. O mito do Graal chegou às lendas medievais. Muitos são os textos da época que narram a busca do cálice pelo rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda – personagens míticos também criados na Idade Média. O rei seria um guerreiro bretão que, para encontrar o cálice sagrado, reuniu à sua volta os homens mais ágeis na arte da luta em seus domínios.
A primeira obra que unia as aventuras do rei com o Graal foi escrita no século 12, pelo francês Chrétien de Troyes. Em Le conte du Graal, ele narra a vida de Perceval, um jovem que se une aos cavaleiros do rei Artur. O conto já atribui poderes mágicos ao cálice, mas não o relaciona com Jesus Cristo. Tal relação só apareceria em A Demanda do Graal, escrito no século 13. “A busca pelo objeto que traria poderes ganha uma versão cristã e passa a ser o cálice utilizado por Jesus na Santa Ceia”, afirma Adriana Zierer, professora de história medieval da Universidade Federal do Maranhão. É nessa narrativa épica que aparece a saga dos cavaleiros em busca do Graal. Após uma série de episódios de aventura e magia, o cálice é finalmente descoberto – mas nunca chega às mãos do rei Artur. Diz a lenda que o Graal era um objeto tão puro e sagrado que ascendeu aos céus. “O Graal é um mito, algo simbólico que representa o que todos querem saber sobre o sentido da vida e se há vida eterna”, afirma o teólogo Fernando Altemeier.