Denis Russo Burgierman, diretor de redação
Quer saber? Ciência não é um tema, como “esportes”, “política” ou “cultura”. Ciência é mais uma ferramenta, como chave de fenda, óculos ou canivete suíço. Ciência não é uma coisa. É um jeito de lidar com as coisas. Assim como se usa chave de fenda para parafusar, óculos para enxergar e canivete suíço para abrir garrafa, usa-se ciência para entender. Entender qualquer coisa. Estrelas. Átomos. Animais. Plantas. Gente. Emoções. A Super não é uma revista sobre ciência. Uma revista assim seria meio idiota, assim como uma revista sobre chaves de fenda ou óculos. A Super é uma revista para entender coisas. E, para isso, não tem coisa melhor que usar a ferramenta-ciência.
Pegue como exemplo nossa matéria de capa deste mês. Sei de cor os e-mails que vou receber por causa dela: vão acusar a Super de ter virado “esotérica”, de discutir “bobagens”, de tratar de “crendices”. Quem escreve esses e-mails se esquece de uma coisa: ciência serve para entender o que ainda não entendemos. Nesse sentido, falar sobre Newton, Darwin ou Einstein não é fazer ciência – é só contar história sobre algo que já passou, que já está entendido. Fazer ciência é usar a suspeita, o ceticismo, a racionalidade, a coragem, o método para mirar o desconhecido. Por exemplo: por que diabos tanta gente afirma que pode se comunicar com mortos? Isso, sim, é um mistério, tão grande quanto a gravidade era para Newton, as espécies eram para Darwin e o tempo era para Einstein. Ou seja, falar de espíritos está muito mais no espírito de Newton, Darwin e Einstein do que falar de Newton, Darwin e Einstein – pessoas que ousaram um dia arriscar a reputação com coisas que muita gente chamava de crendices, bobagens ou heresias.
Ciência da boa também é a que foi feita nas últimas décadas para construir o consenso que deu origem ao relatório recém-divulgado sobre o aquecimento global. Finalmente o mundo começou a se preparar para resolver o problema. O relatório deixou a imprensa toda histérica. Se você lê sempre a Super, já sabia de tudo antes, e talvez tenha estranhado o barulho repentino. Nas páginas 14, 23, 34 e 38, explicamos o barulho e tentamos ir além dele. Aguarde, nas próximas edições, muito mais sobre o assunto.
Grande abraço!