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O fascinante mistério da estrela de Belém

As mais diversas explicações astronômicas sobre o corpo celeste que guiou os Reis Magos à manjedoura onde nasceu Jesus

Por Ronaldo Rogério de Freitas Mourão
Atualizado em 26 dez 2016, 16h37 - Publicado em 30 nov 1987, 22h00

Tendo pois, nascido Jesus, em Belém de Judá, em tempo do rei Herodes, eis que vieram do Oriente uns magos a Jerusalém, dizendo: “Onde está o Rei dos Judeus, que é nascido? Porque vimos no Oriente sua estrela e viemos adorá-lo”.

Esse primeiro versículo do capítulo II do Evangelho de São Mateus tem provocado uma enorme discussão teológica e astronômica sobre a natureza do corpo celeste descrito pelos Reis Magos. Os mais diversos fenômenos astronômicos e meteorológicos foram sugeridos, no passado, para explicar a natureza da estrela de Belém: auroras, meteoro globular (bola de fogo), luz zodiacal, meteoros, chuvas de meteoros, o planeta Vênus (estrela vespertina ou matutina), estrelas variáveis (especialmente as do tipo semelhante a Mira Ceti), a estrela Canopus, cometas, novas e supernovas.

A hipótese de que a estrela de Belém foi um cometa parece ter sido proposta pela primeira vez pelo teólogo e perito cristão Orígenes (183-254), que supõe ter sido o que viria a ser conhecido como cometa de Halley, o astro visto pelos magos. Analisando-se os registros chineses de cometas, verificou-se que a tese do Halley é inaceitável.

De fato, tal hipótese exigiria um erro de onze anos na data atualmente atribuída ao nascimento de Jesus, pois a passagem desse cometa no início da Era Cristã deu-se em 25 de agosto do ano 12 a.C., quando astrônomos chineses assinalaram a sua presença na constelação de Gêmeos. Por outro lado, os outros dois cometas registrados nos anais chineses apareceram, respectivamente, em março do ano 5 a.C., na constelação de Capricórnio, e em abril do ano 4 a.C., na constelação de Águia. Muito tarde, portanto. É pouco provável que a estrela de Belém tenha sido um cometa.

Aparentemente, apenas duas hipóteses – a de uma supernova ou de uma configuração planetária especial – sobreviveram dentro do contexto misterioso que envolve a mais bela das festas cristãs. Em 11 de novembro de 1572, o astrônomo Tycho Brahe (1546-1601) descobriu uma brilhante estrela próxima ao zênite, na constelação de Cassiopéia. Sua cintilação e magnitude atingiram uma intensidade que foi visível a olho nu mesmo à luz do dia. Ela permaneceu observável durante mais de 17 meses. Neste período, inúmeras hipóteses surgiram para explicar o aparecimento dessa nova estrela, uma vez que a imutabilidade dos céus era dogma aceito como divino e jamais posto em dúvida. Um tal aparecimento abalou totalmente os alicerces de um céu perfeito, fixo e imutável.

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Hoje se sabe que as novas são estrelas que se tornam bruscamente muito luminosas. Elas aparecem subitamente, brilham intensamente por alguns dias e vão enfraquecendo lentamente, até voltar ao seu brilho primitivo. Em virtude de sua aparição brusca, elas são chamadas de estrelas novas. Mas o vocábulo é impróprio, pois elas existiam antes da explosão que as tornou visíveis à vista desarmada. Conhecem-se dois tipos de estrelas explosivas: as novas e as supernovas. A luminosidade das novas é multiplicada por um fator de 10 mil vezes, durante dois ou três dias. As supernovas se tornam ainda mais luminosas: seu brilho é multiplicado por um fator de 100 milhões de vezes.

Em cada ano são descobertas na nossa galáxia cinco novas, em média. As supernovas são muito mais raras: aparece uma a cada 300 anos, em média. Até o momento apenas quatro foram observadas e registradas: a estrela de Tycho Brahe (SN 1572), a de Kepler (SN 1604), a SN 1054, que os chineses e japoneses registraram, e a SN 1987-A, a menos brilhante de todas.

Em 10 de outubro de 1604, Brunowski, aluno de Kepler, descobriu uma estrela supernova na constelação de Ofiúco (SN 1604 Ofiúco). Seu brilho máximo, segundo as estimativas da época, foi equivalente ao dos planetas Júpiter e Vênus. Em fins de março de 1605, após sete meses durante os quais apresentou oscilações de brilho, deixou de ser visível.

O surgimento da estrela nova foi antecipado em 17 de dezembro de 1603 por um belo e raro fenômeno de grande importância astrológica: a conjunção tríplice dos planetas Júpiter e Saturno, que, além de ter fascinado a mente mística de Kepler, lhe sugeriu a idéia de que a estrela de Belém estivesse relacionada com uma conjunção análoga. De fato, após longos cálculos, Kepler concluiu que no ano 748 de Roma, ou seja, no ano 6 a.C., ocorreu um fenômeno astronômico semelhante, que poderia ter anunciado o aparecimento da Estrela.

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Uma conjunção tríplice não é, como a princípio sugere o nome, uma a aproximação de três planetas, mas a sucessão de três conjunções de dois planetas num curto período. Durante a conjunção de dois astros, as suas coordenadas celestes atingem valores quase idênticos num determinado instante. Numa linguagem popular poderíamos dizer que a conjunção é a aproximação aparente de dois astros.

Para Kepler, a grande conjunção não substituiu na realidade a estrela dos Magos, como lhe atribuem vários autores. Segundo as concepções aceitas na época, os fenômenos celestes influenciavam os acontecimentos terrestres ou eram sinais dos mesmos. Dessas idéias participava Kepler, que acreditava ter sido a tríplice conjunção um evento destinado únicamente a chamar a atenção dos Magos para aquela região do céu, onde brilhou a estrela anunciadora da chegada do Messias.

Essa explicação de Kepler para o problema da estrela de Belém encontrou vários opositores, assim como não lhe faltou o apoio de eminentes cientistas, entre eles o famoso cronologista alemão Christian Ludwig Ideler (1766-1842). Ao refazer os cálculos de Kepler com auxílio das tábuas de Delambre, editadas no início do século XIX, Ideler deduziu que a tríplice conjunção ocorreu na realidade do ano 748 da fundação de Roma, ou seja, com maior precisão, respectivamente: a primeira, em 20 de maio; a segunda, em 27 de outubro; e a terceira, em 12 de novembro do ano 7 a.C..

Seria conveniente lembrar que a máxima aproximação entre esses planetas foi de cerca de 1 grau, ou seja, o dobro do diâmetro aparente da lua cheia. Era impossível portanto observá-los com os aspectos de um único astro, como está relatado na Bíblia (São Mateus, capítulo 2, versículo 9).

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Atualmente, um dos maiores defensores da idéia de que a estrela de Belém foi essa conjunção tríplice é o astrônomo David W. Hughes, da Universidade de Sheffield, na Inglaterra. A questão, porém, permanece aberta, cercada de hipóteses mas nenhuma certeza – sequer a data do nascimento de Jesus pôde ser comprovada. Tudo indica que jamais se encontrará confirmação de que a estrela citada na Bíblia tenha sido este ou aquele astro.

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