O incrível exército que sumiu
Quanta areia basta para soterrar 50 mil homens? No Saara, isso não é problema
Thiago Lotufo
Cinqüenta mil pessoas é o público médio dos shows grátis no parque do Ibirapuera. Ou toda a população da cidade de Campos do Jordão, São Paulo. Por isso mesmo, não é um número que possa sumir de uma hora para outra sem deixar rastro. Mas sumiu.
Corria o ano de 523 a.C. O império persa estava sob o comando de Cambises II, filho de Ciro, o Grande. O imperador, famoso por sua crueldade (de acordo com os registros do historiador grego Heródoto), havia conquistado o Egito e se preparava para invadir o território da atual Etiópia. No caminho, entretanto, decidiu enviar um de seus exércitos para destruir um templo em Siwa, localizado no deserto do Saara, na fronteira com a Líbia. Motivo: ele achava que os sacerdotes incitavam a população contra o seu domínio.
Assim, lá se foram 50 mil homens – com centenas de animais carregando suprimentos – cumprir a missão. Após alguns dias, eles alcançaram Bahariya, último oásis antes de chegar ao templo. Até lá, seriam mais 30 dias de marcha no deserto sem sombra ou água. Quer dizer, isso se eles não tivessem desaparecido no meio do caminho. Heródoto, novamente, conta que depois de dias e dias de sofrimento andando na areia fofa o exército resolveu descansar. E, enquanto descansavam, uma aterrorizante tempestade de areia vinda do sul os atingiu. Desesperados e sem conseguirem se proteger, homens e animais morreram asfixiados e foram engolidos pela areia sem deixar nenhum sinal.
Essa, pelo menos, é a história que Heródoto recolheu décadas adiante. Mas, desde então, ninguém nunca encontrara indícios do exército. Arqueólogos esquadrinham o deserto desde o século 19. Sem sucesso. Por conta disso, especialistas passaram a afirmar que o historiador grego havia criado uma fábula. Há três anos, porém, geólogos que prospectavam petróleo numa região a 50 km de Siwa se depararam com fragmentos de tecidos, punhais e ossos que podem ser do exército de Cambises II. Os achados ainda estão em análise, pois descobertas anteriores que pareciam promissoras não deram em nada (os vestígios pertenciam a povos mais recentes). Até que se chegue a uma conclusão, muita areia terá de ser retirada do Saara…
Em tempo: Cambises II, o imperador que mandou seus homens para a morte, não estava com o exército desaparecido.