O pirata da cara-de-pau
Para ganhar esse prêmio tão prestigioso, o escritório de patentes teve que derrotar adversários de peso, como a Universidade de Toledo, em Ohio.
Denis Russo Burgierman
Eo grande vencedor é… o escritório de patentes dos Estados Unidos! Os americanos levaram o Prêmio Capitão Gancho de Biopirataria por registrar a patente da ayahuasca, ignorando o direito ancestral dos índios da Amazônia que há séculos utilizam esse chá medicinal e sagrado em seus rituais. Para ganhar esse prêmio tão prestigioso, o escritório de patentes teve que derrotar adversários de peso, como a Universidade de Toledo, em Ohio, Estados Unidos, que não apenas registrou a patente de uma planta medicinal etíope, como agora se acha no direito de cobrar dos nativos da Etiópia pelo uso da planta que eles próprios descobriram. O Prêmio Capitão Gancho, anunciado no final de abril, é uma iniciativa da Coalizão Contra a Biopirataria, uma associação de ONGs internacionais, para “homenagear” aqueles que fizerem os mais notáveis saques à biodiversidade ao longo do ano. Os americanos são eternos favoritos à “honraria”.
No ano passado, eles também levaram o prêmio por patentear uma linhagem de células humanas, retirada de um nativo de Papua Nova Guiné. Veja abaixo os vencedores das outras categorias.
Bafo de rum
Conheça os vencedores do Prêmio Capitão Gancho de Biopirataria
CATEGORIA – O mais ganancioso
VENCEDOR – Pod-Ners LLC
MOTIVO – Por processar pequenos fazendeiros que plantavam os tradicionais feijões amarelos mexicanos, alegando que eles estavam infringindo seu monopólio
CATEGORIA – O mais perigoso
VENCEDOR – Escritório de patentes dos EUA
MOTIVO – O grande vencedor do ano levou um segundo prêmio por criar o precedente de possibilitar o patenteamento de elementos químicos presentes na natureza
CATEGORIA – Pior convenção internacional
VENCEDOR – Organização Mundial do Comércio
MOTIVO – Por ignorar as propostas de vários países de reformar as leis internacionais de propriedade intelectual, criando restrições às patentes de material biológico
CATEGORIA – Desculpa mais esfarrapada
VENCEDOR – Phytofarm
MOTIVO – Por alegar que não paga os direitos do seu multimilionário remédio contra obesidade às comunidades tradicionais sul-africanas que o inspiraram porque “os povos que descobriram a planta desapareceram”
CATEGORIA – Pior corporação
VENCEDOR – Monsanto
MOTIVO – Pela sua mais recente tentativa de patentear a soja
CATEGORIA – Pior ameaça à segurança alimentar
VENCEDOR – Syngenta
MOTIVO – Por negar acesso público aos dados de que dispõe sobre o genoma do arroz