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O sinistro empresário de Elvis Presley

O coronel Tom Parker usava nome falso, era suspeito de homicídio e foi diagnosticado como psicopata. Conheça o homem que transformou Elvis em mito

Por Alvaro Opperman
Atualizado em 17 ago 2019, 13h28 - Publicado em 25 fev 2011, 22h00

“Qual o segredo para o senhor estar sempre por cima da situa­ção”, perguntou em 1960 um repórter da revista Variety ao coronel Thomas Andrew Parker (1909-1997), o tirânico empresário de Elvis Presley. “É muito simples: eu sou a situação”, respondeu Parker. Típico do coronel, que já foi descrito como “ególatra”, “magnânimo”, “paternal”, “arrogante” ou “filho-da-p#$!”, dependendo do humor (e da amizade ou inimizade) com o interlocutor. Parker estava pouco se lixando.

Privadamente, porém, o coronel escondia um passado nebuloso. Em 1933, quando era um soldado raso do Exército americano, Parker recebeu baixa. Diagnóstico: “Depressão aguda psicogênica, estado de psicopatia constitucional e psicose”, declarou uma junta médica depois de Parker sofrer uma crise nervosa preso na solitária, por indisciplina. “Caráter violento e instável. Potencialmente homicida.” Paira ainda a suspeita de que tenha matado a bela Anna van den Enden, esposa de um verdureiro da cidadezinha de Breda, na Holanda.

Holanda?

“Tom Parker” era um nome falso. Andreas Cornelis van Kujik era um holandês adestrador de cães. Partiu ilegalmente aos EUA, em 1929, no mesmo dia em que Anna, sua suposta amante, foi espancada até a morte – segundo a polícia, um crime passional. Na América, adotou o nome que o deixou famoso e inventou uma biografia: dizia ter nascido em Huntington, Virgínia Ocidental.

Depois de expulso do Exército, trabalhou no circo e, nos anos 40, empresariou cantores country, como Jimmie Davis e June Carter (futura esposa de Johnny Cash). O título de coronel era honorífico – um mimo dado por Davis quando virou governador da Louisiana. Parker fora seu marqueteiro político.

Em 1955, virou empresário de Elvis. Seu mau temperamento era notório. Na gravadora RCA, os novos funcionários recebiam a instrução de “ser sempre amigáveis com o coronel”, que era cruel com subalternos. Numa ocasião, expulsou do carro, em plena autoes­trada, o secretário particular Jason “Bevo” Bevis Jr. Jason era levemente retardado, e não acendera com rapidez suficiente o charuto do coronel.

Isso lembrava o seu próprio pai. Na adolescência, Andreas montou um número de circo com os cavalos da família. O pai se enfureceu e bateu de cinta nele em frente do público. “Seu inútil! Você nunca será nada na vida!”

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A partir da fuga para os EUA, Andreas van Kujik não deu mais notícias à família. Em 1960, porém, sua cunhada o viu numa foto de revista feminina, ao lado de Elvis. Quase desmaiou. “Meu Deus! Esse é o Dries (apelido que a família dava a Andreas)”, exclamou. O sobrinho de Parker, Ad Jr., escreveu para o fã-clube de Elvis uma carta endereçada ao coronel: “Você é mesmo o meu tio?”

Surpreendentemente, o coronel respondeu à carta, assinando “Andre” – e não “Tom”. Convidou o sobrinho para passar uma temporada em Los Angeles. No entanto, não demonstrou emoção algu­ma ao receber do jovem notícias dos seus familiares.

Parker tinha medo do passado. Não se naturalizou americano. Checariam seu passaporte e poderiam descobrir algo. Por causa dessa obsessão com o sigilo, nunca permitiu que Elvis excursionasse fora dos EUA. Certa vez, declinou a oferta de US$ 2,5 milhões para uma turnê do Rei do Rock pela América Latina. Depois da morte de Elvis, o coronel mudou-se para Las Vegas, onde prestou assessoria de entretenimento para o Hotel Hilton.

Ok, Tom Parker tinha outro nome, saiu de modo esquisito da Holanda, e o Exército o julgava um psicopata. Mas isso faz dele um assassino? “Nunca saberemos”, escreve Alanna Nash, biógrafa do coronel. Esse mistério foi junto com ele para o túmulo. O coronel faleceu em 21 de janeiro de 1997.

Sob o domínio do coronel

Segundo testemunhas, o ouvido musical de Parker era zero e, das músicas que Elvis gra­vou, só gostava de Are You Lone­some Tonight. Porém, a relação com Elvis era de domínio quase total.

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Parker decidia quais músicas devia gravar. Era o coronel que apro­vava os argumentos dos filmes de Elvis em Hollywood – apesar de não saber ler. Era, enfim, o coronel quem decidia sobre as amizades do cantor e até com quem deveria casar: pressionou Elvis a trocar alianças com Priscilla Beaulieu Presley em 1967, quando ela ficou grávida de Lisa Marie.

No show business, os em­pre­sá­rios normalmente ganhavam 10% de comissão sobre os clientes. Parker, no fim da carreira de Elvis, cobrava 50%. E achava pouco. “Elvis é que tira 50% de tudo que eu ganho”, disse. Durante a carreira do cantor, o coronel fez vista grossa à sua dependência de barbitúricos, tranquilizantes e anfetaminas.

Elvis tentou uma rebelião contra a tirania. Em 1968, no especial de Natal da rede NBC, o coronel queria Elvis de Papai Noel. Elvis se apresentou de preto, cantou com garra as suas músicas prediletas. Foi um dos melhores momentos da sua carreira.

Mas, quando morreu, em 16 de agosto de 1977, continuava preso à relação doentia. Segundo a jornalista Alanna Nash, autora de The Colonel – The Extraordinary Story of Colonel Tom Parker and Elvis Presley (2003), Elvis sofria de síndrome idêntica à das esposas abusadas. “Ele não conseguia lar­gá-lo, pois essa era a única vida que conhecia”, diz ela.

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