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Os Malditos – “Mato por prazer”

Pedrinho Matador diz ter eliminado 100 homens - 47 deles na prisão, para onde foi mandado aos 18 anos. Em 2007, passados 34 anos, voltou à liberdade. Desde então ninguém sabe seu paradeiro

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h25 - Publicado em 25 fev 2011, 22h00

Texto Willian Vieira

Os espelhos da cela individual­ na Penitenciária do Estado, em São Paulo, refletiam imagens curiosas de um mundo particular. Aqui, um quadro com uma cachoeira derramando-se sobre pedras idílicas, dessas paisagens que já não dizem mais nada; ali, um Jesus pintado à mão, de braços abertos e olhar absorto; e lá, mais para o cantinho, sobre uma cama dura e sob um olhar ainda mais frio que o do Cristo, a carne rija do antebraço esquerdo, tatuada com a frase que diz tudo: “Mato por prazer”.

A carne é intocável. Pertence ao ho­mem mais temido da história das cadeias brasileiras, ícone de uma geração de bandidos e lenda viva entre as paredes do sistema prisional.

E não porque fosse do crime organizado, grupos que matam quem lhes desagrada. Pedrinho agia sozinho, quase que por instinto. Gostava de matar. E disse ter eliminado nada menos que 100 pessoas, quase sempre com as mãos, muitas vezes nuas. O máximo que ele usava era uma faquinha – para facilitar as coisas.

No dia 24 de maio de 1973, Pedrinho foi preso. Tinha 18 anos. Atrás das grades, pas­sou a acumular novas penas. Matou companheiros de prisão – por suas contas, foram 47 homens.

E no presídio passou a maior parte da sua vida: 34 anos, até se libertar da custódia do Estado no dia 24 de abril de 2007. “Cumpriu sua dívida com a sociedade”, segundo os registros da Secretaria de Administração Peni­ten­ciária. Desde então, não se tem mais notícias do matador.

Psicopata nato

Pedrinho é daqueles estereótipos que fazem a festa de qualquer psiquiatra, pois se encaixa como uma luva nos conceitos da psicopatia. Tem uma história com começo e meio (já o fim parece pouco previsível).

Pedrinho nasceu em 1954 em uma fazenda, em Santa Rita do Sapucaí, no sul de Minas Gerais, entre brigas e cenas de espancamento. Tanto que, segundo os médicos, o menino nasceu com uma deformação no crânio graças a um chute que o pai teria dado na barriga da mãe grávida.

Garoto ainda, segundo contou, tentou matar o primo numa briga, empurrando-o sobre uma moenda de cana. Tinha cerca de 13 anos, pouco antes de seu primeiro homicídio: a morte do prefeito da cidade. Motivo? O seu pai, funcionário de uma escola pública, tinha sido demitido, acusado de roubar merenda. Pedrinho aproveitou e matou um vigia, que acreditava ser o verdadeiro ladrão. E fugiu pelo estado.

Foi quando entrou para o tráfico. Desde então, a conta das mortes fica a seu cargo. Disse que matou 3 aqui (acerto de contas), mais um ou outro ali (mexeram com ele), mas outro acolá (não ia com a cara do fulano e do beltrano). Até conhecer a única mulher que amou de verdade e que, parece, inspirou uma tatuagem bem significativa: “Sou capaz de matar por amor”. Difícil duvidar.

Quando encontrou morta a tiros no chão de casa a moça, que esperava um filho seu, Pedrinho saiu matando. Nem ele sabe quantos corpos caíram na busca pelo mandante do crime, até chegar ao nome de um inimigo do tráfico. Pedrinho foi atrás do cara e o encontrou numa festa. Até que as contas tivessem sido acertadas, no mínimo 7 pessoas morreram. Fez tudo isso até completar 18 anos, quando foi finalmente preso. Suas condenações por homicídio somam módicos 128 anos. E ele sempre diz que deixaram a conta das mortes pela metade.

De volta às ruas

“Pedrinho é um psicopata frio, que fala com naturalidade sobre as mortes, sem nenhum remorso”, diz o psiquiatra Antonio José Elias Andraus, de 76 anos. Ele foi um dos médicos que analisaram a mente do matador quando estava na Casa de Custódia de Taubaté. Hoje aposentado, após 40 anos lidando com presos, Andraus ri da cena.

“Você entrava na cela sozinho com ele e ele não seria capaz de levantar a mão. Era um sujeito bom de papo, educado mesmo. Nunca, até onde sei, levantou a mão para ninguém que trabalhava lá. Mas com os presos fazia justiça, como dizia. Era alguém que via um cara morrendo e ria. Não sentia nada.”

Mas o que acontece quando um psicopata frio como Pedrinho volta às ruas? Andraus não sabe. “Não sei, porque, desde que entrou lá, ele viveu acompanhado para não matar os outros. Nunca saiu sozinho. Agora, não sei se mataria outras pessoas.”

É que Pedrinho tem, digamos, um senso de justiça. Segundo diz (e o perfil de suas vítimas corrobora a versão), nunca matou mulher ou criança. Acha errado. Diz matar só homens maus. Gente que, em seu sistema moral, deveria morrer. Daí a predileção por quebrar o pescoço (seu método preferido) de estupradores – segundo ele, só nesse filão de mercado, já se foram uns 27.

Mas com Pedrinho nunca é bom confiar. Seu pai que o diga. Um dia o filho o vingou, matando o prefeito que o demitira. No outro, tempos depois, deu cabo do pai a facadas. Pedrinho explica: o pai matara a mãe do mesmo jeito. Tinha que pagar. E Pedrinho fez sua justiça. Mas aqui, com um pequeno diferencial, segundo ele mesmo conta. Abriu o peito do pai, cortou o coração e, enfim, comeu um pedaço.

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