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Paris no futuro do passado

Uma exposição mostra como se imaginava, 100 anos atrás, a capital francesa no século XXI. Algumas das previsões até fazem sentido. Outras parecem alucinações.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h12 - Publicado em 31 out 1998, 22h00

Fabiana Zanni, de Paris

No dia 30 deste mês, um contador digital instalado na Torre Eiffel, em Paris, estará lembrando ao mundo que só faltam 397 dias para o ano 2000. De tão próxima, a chegada do milênio parece trivial. Mas tente se transportar para um século atrás. Naquela época, a imaginação sobre o futuro corria solta. Os bisavós dos parisienses que hoje olham distraidamente para a contagem regressiva deliravam ao projetar mudanças na cidade.

Para lembrar esses sonhos, a prefeitura da capital francesa organizou, entre maio e outubro deste ano, a exposição Paris das Utopias. “Com 370 projetos, desenhos e filmes feitos entre 1860 e 1960, pretendíamos chamar atenção para o novo milênio”, disse à SUPER Isabelle de Buyer-Mimeure, coordenadora do evento. Nas imagens, a cidade aparece coalhada de fios, aviões e arranha-céus. O visionário Júlio Verne (veja a página 91) chegou até a imaginá-la como um enorme porto. Por sorte, a realidade não foi tão cruel. Muitos costumes mudaram, é verdade, mas Paris chegará ao terceiro milênio linda como sempre.

Novidades, na época, a eletricidade e os projetos de aeronaves inspiraram esta ilustração de 1892 de Albert Robida (1848-1929). Desenhista famoso por suas representações do futuro, Robida antevia o céu parisiense tomado por táxis aéreos e fios – que, felizmente, foram enterrados.

Mais aviões do que automóveis

A perspectiva de um crescente aumento da população pedia soluções para a circulação urbana. Pelo jeito, no começo do século as aeronaves pareciam mais promissoras do que os carros.

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Calçadões elevados

Antes de os aviões começarem a povoar o imaginário parisiense, as passarelas é que eram soluções para as ruas congestionadas. Em 1857, o engenheiro Ferdinand Bouquié desenhou esta esquisita aranha sobre o Boulevard Montmartre (ao lado), um dos lugares de maior vaivém na cidade. Menos agressiva, a idéia do arquiteto Hector Horeau, de 1866, sugeria uma ligação entre os boulevares Sebastopol e Saint-Denis (no canto à direita), também movimentadíssimos até hoje. No fim das contas, o parisiense usa mesmo é as passagens subterrâneas do metrô.

Congestionamento aéreo

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Os dois cartões-postais acima, editados em 1900 pela loja Au Bon Marché, rede de magazines ainda importante na cidade, mostram as fantasias que as experiências do brasileiro Santos-Dumont e dos americanos Wilbur e Orville Wright despertavam. Que tal pegar um aerotaxi para ir às compras?

Aeroporto aquático

Ainda bem que a idéia do arquiteto André Luçart, publicada na revista de ciência e tecnologia Je Sais Tout (Eu Sei Tudo), em 1932, não deu certo. Seria triste ver um pedaço do Rio Sena coberto por esta enorme pista de pouso.

Estranhas feições para a Cidade-Luz

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A crença de que a tecnologia poderia tudo gerou idéias absurdas como a elevação de uma ilha e a criação de praias às margens do Sena.

Hotel Babilônia

A construção exótica, empoleirada no Arco do Triunfo, um dos monumentos mais importantes de Paris, chega a assustar. É um hotel do futuro, imaginado por Albert Robida em 1883.

Ilha com pernas

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O arquiteto alemão Ingrid Webendoerfer também deu palpites sobre o futuro de Paris. Mas nunca explicou como poderia ser levado a cabo seu projeto de elevar a Île de la Cité a 100 metros de altura. Certamente esperava um milagre da tecnologia. A idéia, ao menos em teoria, não é de todo má. Com a ilha no alto, o trânsito fluiria mais fácil de um lado a outro da cidade, através de túneis.

Poesia para ouvir

Invenções como o fonógrafo (1877), do americano Thomas Edison, levaram Albert Robida, em 1892, a prever uma revolução no comportamento: em vez de ler, ouviríamos poesias. E ao ar livre, sem necessidade de fios. Uma idéia popularizada por qualquer gravador a pilha, hoje. A poesia, nem tanto.

Paris ou Nova York?

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Em 1922, oito anos antes do início da construção do Empire State Building, o famoso edifício nova-iorquino, o arquiteto Auguste Perret propôs esta fileira de arranha-céus em Paris. Para os parienses de hoje, a imagem deve causar arrepios. É que eles se orgulham dos prédios baixos e harmônicos que compõem a paisagem urbana da bela cidade.

E o Sena vira mar

Não foram poucos os que pensaram em transformar a cidade num porto. A dragagem da foz e as eclusas construídas ao longo do Rio Sena possibilitariam alargar o rio e dar passagem a grandes navios. Nesta ilustração anônima, de 1930, a idéia ganhou um delirante complemento: uma vasta praia, em plena Place de la Concorde.

A versão de Júlio Verne

O visionário autor de A Volta ao Mundo em Oitenta Dias e Vinte Mil Léguas Submarinas também imaginou como seria Paris perto do ano 2000.

“O que teria dito um de nossos ancestrais ao ver aqueles boulevares iluminados com um esplendor comparável ao do Sol, aqueles carros circulando sem ruído (…), aquelas lojas ricas como palácios (…), aqueles viadutos tão leves, (…) aqueles trens cintilantes que pareciam sulcar os ares com uma rapidez fantástica?”

Parece que Júlio Verne (1828-1905) escreveu o texto aí em cima anteontem, mas foi por volta de 1860. Impulsionado pelos recentes avanços da ciência e da tecnologia, ele resolveu botar no papel algumas divagações sobre como deveria ser a capital da França, sua cidade, dentro de 100 anos. Rejeitado pelo editor, o livro Paris no Século XX, permaneceu desconhecido durante 100 anos.

No Brasil, saiu apenas em 1995, pela Editora Ática. Na obra, como sempre, Verne acerta no varejo e no atacado. Entre outras coisas, previu o fax, os carros movidos a gás e o Mercado Comum Europeu. Coisa à toa para quem também imaginou, antes de qualquer outro, o submarino, a televisão e as viagens espaciais.

Mas o precursor da ficção científica também errava. Ao fazer prognósticos sobre o futuro de Paris, ele foi um dos que apostaram na transformação da cidade em porto. Um sonho que, ao contrário de quase tudo o que Verne previu, acabou superado – pelo desenvolvimento da aviação. Afinal, o Aeroporto Charles de Gaulle é, hoje, um dos maiores da Europa.

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