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Pensador ,Raymundo Faoro

Saiba mais sobre o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h26 - Publicado em 31 Maio 2003, 22h00

Leandro Sarmatz

Pouca gente tinha coragem de confrontar o carrancudo general Ernesto Geisel, presidente entre 1974 e 1979. Taciturno, pouco dado à conversa , exercendo o poder de forma imperial, seu governo foi marcado pelas tentativas de distensão do regime, consagrando a expressão “abertura lenta, gradual e segura”. Mas havia uma distância entre as palavras e a realidade. Ainda torturava-se muito nos porões escuros do aparato policial do Estado.

Diante desse personagem, postou-se o então presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Raymundo Faoro. Depois de ouvir as palavras do jurista, o todo-poderoso da República perguntou o que ele poderia fazer para dar cabo da tortura. A resposta foi simples e sublime: “Restaure o habeas-corpus”. Palavras mágicas, verdadeiro abre-te sésamo para o Brasil sair de um regime que iria agonizar até 1985. Com o recurso do habeas-corpus – a garantia que protege os presos contra arbitrariedades da Justiça –, os advogados poderiam localizar seus clientes e liberá-los antes que mofassem ou morressem nos cárceres políticos.

O episódio ilustra à perfeição a personalidade do pensador e jurista Raymundo Faoro, nascido em Vacaria, RS, em 1925, e morto no Rio em maio último. Advogado, co-fundador da revista literária Quixote, no início dos anos 50, Faoro encarnava o tipo do homem de lei e de letras. Era um erudito que não se furtava à reflexão dos grandes temas que nos atravessam (e nos atravancam). Já em 1958, publicou seu principal e até hoje mais estudado livro: Os Donos do Poder: Formação do Patronato Político Brasileiro. A ousada tese de Faoro era a de que na sociedade brasileira as coisas públicas – bens e políticas – são geridas como se fossem da esfera privada. Daí nossa corrupção atávica. Daí nosso desmazelo. Esse traço seria herança da Coroa portuguesa, para quem o Estado era uma extensão de seus domínios. Em 1995, numa enquete da revista Veja, Os Donos do Poder foi escolhido como uma das 20 obras mais importantes da história do Brasil.

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Nos anos mais duros da repressão, a década de 70, Faoro transformou o prédio da OAB, no Rio, num front pró-democratização. Foi nesse período fervilhante de sua vida política que o Faoro literato voltou à cena e publicou A Pirâmide e o Trapézio, uma original leitura da obra de Machado de Assis. Foi uma lufada de ares sociológicos numa época em que Machado era lido só como um prosador de gênio, que não entendia lhufas de realidade brasileira. Faoro mostrou o quanto o escritor pincelou seus textos com brilhantes análises do Brasil.

Com a redemocratização, Faoro foi convidado para ser vice na chapa de Lula, em 1989. Recusou. Era um intelectual, gostava de analisar “de fora” (mas nem tanto) o quadro à sua volta. Sua casa no bairro de Laranjeiras tornou-se um ponto de encontro de figuras políticas, entre elas os presidentes Lula e Tancredo Neves.

Eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000, Faoro só pôde assumir sua cadeira mais de um ano depois. Debilitado por um enfisema pulmonar – a maioria de suas fotografias o apresenta com um cigarro ou um cachimbo aristocraticamente colocado no canto da boca –, Faoro aproveitou pouco seus dias como membro do seleto clube dos imortais. Clube que, aliás, foi fundado por seu ídolo Machado de Assis.

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