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Pesquisadores revelam rabiscos secretos em manuscritos de mil anos

Dois instrumentos, com câmeras capazes de capturar diferenças de relevo das superfícies, estão vasculhando o patrimônio cultural da Universidade de Oxford.

Por Luisa Costa
31 mar 2023, 18h39

No século 9, um anônimo desenhou a cena de caça que você vê acima e escreveu “RODA” na borda de um manuscrito. Normal: nada mais familiar que a arte atemporal dos rabiscos. Mas estes estavam invisíveis – e foram revelados com uma tecnologia especial na Biblioteca Bodleiana, da Universidade de Oxford (Inglaterra).

Trata-se do projeto Archiox (sigla em inglês para “Análise e Registro do Patrimônio Cultural em Oxford”), em que uma equipe de pesquisadores cria representações digitais de páginas e objetos históricos da universidade.

Eles utilizam dois aparelhos: Selene e Lucida (confira como eles são aqui e aqui). O primeiro tem quatro câmeras capazes de capturar diferenças de relevo das superfícies analisadas de até 25 micrômetros (0,025 mm). O segundo cria varreduras 3D com raios laser e duas câmeras minúsculas. São instrumentos de medição e de geração de imagens.

À medida que os pesquisadores analisam o patrimônio cultural de Oxford com este nível de detalhamento, eles encontram uma série de coisas que, a princípio, estavam ocultas. A cena de caça e a palavra “RODA”, por exemplo, estavam invisíveis no manuscrito porque não foram riscadas a tinta – alguém só arranhou o papel.

Manuscrito do século 9
A palavra “RODA”, ressaltada digitalmente em verde, provavelmente está relacionada ao antigo dono do manuscrito. (Archiox/Bodleian Library/Divulgação)

Há outros casos assim, como o de uma cópia dos Atos dos Apóstolos, parte do Novo Testamento, que data do século 8. Em 2022, a pesquisadora Jessica Hodgkinson, da Universidade de Leicester (Inglaterra), encontrou um rabisco invisível em uma das páginas. 

O projeto Archiox investigou estes rabiscos e revelou as seguintes letras: ✝ EaDBURG BIREð CǷ…N. O que seria isso? Hodgkinson e sua equipe têm quase certeza que Eadburg seria o nome da proprietária do livro – provavelmente uma freira da comunidade religiosa de Minster-in-Thanet, no condado de Kent (Inglaterra).

As letras seguintes poderiam significar “está na cwærtern” – ou “está na prisão”, em inglês arcaico. Esta passagem é mais enigmática, e a última palavra está incompleta. O trecho em latim acima descreve a prisão dos apóstolos, e Eadburg poderia ter relacionado essa cena com sua própria situação.

Outras análises mostraram que o livro foi arranhado em pelo menos outras quatro páginas. Selena e Lucida revelaram desenhos de pessoas, cujo significado é um mistério. Confira abaixo.

Manuscrito do século 8
O que seriam os desenhos ressaltados digitalmente na cor azul? É um mistério. O primeiro poderia ser uma freira, por exemplo. (Archiox/Bodleian Library/Divulgação)

O projeto não fica apenas nos manuscritos. Ele está revelando detalhes ocultos de muitos objetos, de partituras escondidas em placas de cobre de 300 anos a texturas misteriosas em impressões japonesas feitas em blocos de madeira.

Mapas antigos também têm seus segredos: os pesquisadores analisaram o mapa mais antigo reconhecível das ilhas britânicas, do século 14, e descobriram que ele tem mais de 2 mil furos de alfinete em pontos como catedrais e rios (veja abaixo).

Os fabricantes teriam usado alfinetes para ajudar na reprodução de mapas, colocando o original sobre a réplica e marcando pontos estratégicos. A tecnologia do Archiox revelou que os buracos não perfuram totalmente o mapa – e, portanto, ele seria uma réplica de um mapa mais antigo.

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Mapa das ilhas britânicas do século 14
O mapa visto de pertinho é assim: mal dá para ver os furos de alfinete. (Archiox/Bodleian Library/Divulgação)
Varredura de mapa das ilhas britânicas do século 14
A varredura revelou a textura do mapa, e os milhares de furos de alfinete que ele contém. (Archiox/Bodleian Library/Divulgação)
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