Texto Cecília Selbach
“A gente ganha pouco, mas se diverte.” Isso até que faz sentido, pelo menos segundo um estudo da Universidade do Estado da Flórida, nos EUA. Psicólogos de lá chamaram voluntários para uma pesquisa de comportamento. E disseram que alguns ali ganhariam um prêmio. Só alguns. Então chamaram metade desse povo de canto e lançaram: “Vocês vão decidir quem leva o dinheiro.” Já a outra metade ficou achando que os psicólogos dariam o veredicto sozinhos. A idéia era mexer com a cabeça do grupo, dividindo-o entre a ala dos “poderosos”, que tinha como escolher os ganhadores, e a dos “subordinados”, que não apitava nada.
Com tudo acertado, os pesquisadores começaram a fazer piadas. E viram: o grupo dos subordinados ria bastante das gracinhas deles; o dos poderosos, nem tanto. Puxa-saquismo? Não exatamente. As pessoas do “andar de baixo” davam mais risadas até quando ficavam sozinhas, assistindo às piadas num vídeo. É como se a falta de poder tivesse turbinado o humor delas. Por quê? Um dos psicólogos responsáveis pela pesquisa, explica aqui ao lado.
Como a mente condiciona
O psicólogo americano Tyler Stilmann, que fez o estudo, diz como o cérebro controla seu humor para você se dar bem no trabalho
De acordo com o seu estudo, as pessoas riem mais quando estão na posição de subordinadas. Por quê?
Sabemos que o nosso humor melhora naturalmente quando a gente escuta uma risada. Rir, então, é uma maneira efetiva de melhorar o ânimo de quem está ao redor. As pessoas fazem isso para influenciar os outros de maneira positiva, mostrando uma postura pacífica, brincalhona. Isso é algo que as pessoas sem poder têm como usar a seu favor, já que elas dependem mais da boa vontade dos outros.
Então as pessoas com menos poder usam o riso como uma forma inconsciente de agradar aos chefes?
Não só os chefes. Se você estiver em uma posição baixa na hierarquia, vai rir mais das piadas de qualquer um. Na nossa pesquisa, as pessoas que foram colocadas numa posição inferior riram tanto das piadas dos “superiores” quanto das dos “colegas”. E quem estava numa posição de “chefia” ria menos das piadas dos subordinados.
Se rir é um ato social, por que os voluntários que riam “para agradar aos outros” também se mostravam mais bem-humorados que os outros quando estavam sozinhos numa sala?
Boa pergunta. Alguns pesquisadores propuseram a idéia de “socialidade implícita”. Quer dizer: mesmo quando estamos sozinhos, imaginamos estar em um ambiente social. A questão é: humanos são tão sociais que sempre mandam sinais (sorrindo, fechando a cara, gargalhando) para uma platéia social – mesmo quando essa platéia só existe na nossa cabeça.