Qual foi a primeira imagem cunhada em uma moeda?
Um leão pomposo enfeitava a moeda turca. Desde então, são 2,7 mil anos de história cravados em metal
Foi em uma moeda de eltrite, dinheiro da Lídia, na atual Turquia. Ela tinha um leão coroado com raios de sol, simbolizando o poder do reino de Alyattes (610 a.C.-561 a.C.). Numismatas (estudiosos de moedas) divergem quanto ao seu valor, mas ela devia ser o suficiente para comprar 10 cabras. A moeda marcou o início da era do dinheiro de valor simbólico. Até então, qualquer coisa podia ser dinheiro. Sal, grãos, produtos animais. Mas isso trazia limitações. Moedas assim estragam facilmente e são relativamente fáceis de encontrar – logo não valem muito. Quando se usavam moedas de metal, havia outros problemas: fazer negócios não era tão simples, pois o valor da moeda era normalmente calculado pelo peso e pelo tipo de liga metálica da qual era feita. Ou seja, os comerciantes precisavam de uma balança por perto. Daí a trapacear na hora de pesar ou misturar minérios que não valem nada na moeda era um pulo. Então, a Lídia mudou tudo: escreveu na moeda seu valor e imprimiu um selo de autenticidade real. Pronto, o novo dinheiro foi aceito. Primeiro porque o rei mandou. Segundo, e principalmente, porque tinha vantagens: era fácil de manusear e de negociar. Desde então, impérios e repúblicas passaram a deixar seus símbolos nas moedas. Brasões reais, conquistas bélicas, dinastias, deuses e heróis foram cravados, tornando-se “evidências concretas do passado”, segundo Noenio Spinola, autor do livro Dinheiro, Deuses e Poder.
Cara do povo, coroa do rei
Outras moedas cheias de história
Vitória do touro
A moeda Siglos, ou Croesus (em homenagem ao rei Croesus, filho de Alyattes), também da Lídia, mostra um leão e um touro lutando. Estudiosos suspeitam que ela representaria um duelo entre a Lídia e povos rivais. O touro é figura manjada em dinheiro. Marcou presença em moedas gregas e romanas e é símbolo de Wall Street, coração econômico dos EUA.
A cara da rainha
Historiadores debatem até hoje sobre a suposta beleza de Cleópatra. Em 2007, a descoberta de uma moeda com o rosto da rainha egípcia reacendeu a polêmica. A representação mostra o perfil de uma mulher de queixo pontudo e nariz adunco. Mas pesquisadores acreditam que o queixo grande mostrava força de líder e não pode ser visto como um retrato fiel de Cleópatra.
Alexandre, o megalomaníaco
No século 4 a.C., o imperador macedônico escolheu Zeus, o maior dos deuses gregos, e Hércules, o mais célebre herói da mitologia, para representá-lo em moedas que circulavam nos seus domínios, da Grécia à Índia.
Grana de Judas
Feito de prata pelos fenícios entre 126 a.C. e 65 d.C., o Shekel de Tiro era a moeda corrente em Jerusalém. Segundo o Evangelho de Mateus, foram 30 moedas assim que Judas recebeu para entregar Jesus. Shekel é o nome da atual moeda de Israel.
Fontes: Claudio Marcos Angelini, ex-presidente da Sociedade Numismática Brasileira; Maricí Martins Magalhães, professora de epigrafia e arqueologia clássica do Instituto de História da UFRJ e autora do catálogo Sylloge Nummorum Graecorum Brasil I do Museu Histórico Nacional; Noenio Spinola, colecionador e autor do livro Dinheiro, Deuses e Poder e detentor da coleção particular Spinola – Nomus Brasiliana.