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Revolução na música

Com o iPod, a Apple deixou de ser apenas uma fabricante de computadores. Para liderar uma indústria que não dominava, a empresa reuniu tudo o que a concorrência tinha de melhor

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h20 - Publicado em 8 Maio 2012, 22h00

Tiago Cordeiro

Lembra do CD, aquele disco redondo em que cabiam até 74 minutos de música? Na virada do século 20, ele ainda era o formato mais usado para ouvir cantores e bandas. Existiam aparelhinhos tocadores de MP3, mas eram feios, difíceis de usar (de tão impenetrável, o Nomad Jukebox, por exemplo, parecia exclusivo para nerds) e normalmente tinham capacidade para no máximo dois CDs.

Em 2000, Jon Rubinstein, engenheiro de hardware da Apple, visitou uma fábrica da Toshiba no Japão. Ele voltou à Califórnia com a ideia de adaptar um hard drive que ele conheceu lá dentro e transformá-lo em um MP3 player. Anos depois, Rubinstein repetiria o comportamento: deixaria a empresa e levaria alguns de seus projetos para a concorrência (leia mais na página 58).

Se a proposta tivesse surgido tempos antes, Jobs descartaria a sugestão. Achava que o futuro estava nos vídeos, e não nas canções, e investia no desenvolvimento de softwares de edição de imagens. Mas a falta de gravador de CD no iMac provocou o baixo interesse dos compradores, e Steve percebeu que as pessoas comuns estavam mais interessadas em sons do que em imagens. Decidiu então embarcar num projeto bem diferente de tudo o que a empresa já tinha feito. Menos de um ano depois, o primeiro iPod chegava às lojas. A Apple nunca mais seria a mesma. A indústria da música também não.

 

Projeto Dulcimer

Algumas boas iniciativas já prontas poderiam ser aproveitadas no desenvolvimento do novo aparelho. A versão mais atualizada, na época, do player da empresa, o Quicktime, tinha algumas sacadas de layout – era bonito e fácil de usar. Sua interface serviria de inspiração para o iPod. Ambos os produtos tiveram o toque de Tim Wasko, um designer que trabalhava com Steve desde os tempos da NeXT, a companhia que o chefe fundou ao deixar a Apple, em 1985. “Desde o início do projeto, Steve fez algumas observações muito interessantes sobre o fato de que tudo deveria estar centrado em navegar pelo conteúdo”, diria depois o designer Jonathan Ive, outro grande responsável pelo resultado final do produto.

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Na época, Ive fazia pesquisas com plástico policarbonato branco e resolveu usar esse material. O patrão aprovou com certa facilidade – e o protótipo ultrassecreto da Apple, batizado de Projeto Dulcimer, caminhava rápido. Enquanto isso, Rubinstein fuçava no Nomad Jukebox, analisava o hard drive da Toshiba, que tinha apenas 4,5 centímetros de diâmetro, e destrinchava os chips de controle da Texas Instruments e uma bateria para telefones celulares da Sony – os melhores MP3 da época desligavam depois de duas horas de uso. Outros dispositivos já estavam disponíveis em produtos da própria Apple, como displays e adaptadores para eletricidade.

Rubinstein contratou um consultor, Tony Fadell, para ajudá-lo a unir tudo isso em um novo aparelho. Fadell, ex-funcionário da Philips, aceitou, eufórico: ele vinha apresentando para várias empresas seu próprio projeto de um tocador de músicas digital já fazia alguns meses. A fim de ajudar na produção dos semicondutores necessários, foi convocada a PortalPlayer, que disponibilizou para o projeto uma equipe de 30 pessoas, parte delas trabalhando na Índia.

Quando todas as peças foram colocadas juntas, os engenheiros e designers perceberam que elas se encaixavam muito bem dentro de uma caixa fina, do tamanho de um baralho de cartas. E assim o iPod ganhava um formato.

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Odisseia em Cupertino

Nem tudo funcionou tão rápido. Jobs nunca estava satisfeito com o volume de som máximo alcançado pelos fones de ouvido. Os engenheiros sabiam que essa era uma impressão falsa, porque ele tinha problemas de audição. Como ninguém teve coragem de dizer isso a ele, os protótipos de fones se acumulavam sobre sua mesa. Outro detalhe desenhado e redesenhado centenas de vezes foi a click wheel do aparelho, uma ideia trazida pelo diretor de marketing Phil Schiller, que também sugeriu que a navegação pelos menus ficasse mais rápida quando o objeto fosse girado por mais tempo. Tinha dado certo trabalho (bem menos do que o iPhone. Leia na página 34), e o aparelho estava quase pronto. Só não tinha nome comercial.

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Com uma primeira versão em mãos, o freelancer Vinnie Chieco, contratado para pensar em estratégias de apresentação do aparelho, começou a trabalhar. “Assim que vi o iPod branco, pensei no filme 2001, Uma Odisseia no Espaço”, ele contaria. Em uma cena famosa da produção de 1968, um dos astronautas diz ao computador que controla a nave: “Open the pod bay door, Hal!” (algo como: “Abra a porta do compartimento, Hal!”). O “pod” saiu daí. O “i” já tinha sido usado no iMac, que a princípio significava “internet”, e Chieco gostou da combinação. Levou a sugestão para Jobs, entre dezenas de outros possíveis nomes, cada um anotado em um papel. “iPod” foi parar na pilha das opções rejeitadas. Depois, de um dia para o outro, o chefe decidiu que ele estava aprovado.

Agora o aparelho já tinha nome, cara e estrutura interna. Nem mesmo o impacto dos atentados de 11 de setembro de 2001 impediram Jobs de fazer, em outubro, o grande anúncio do produto que levaria a Apple para um novo mercado. A reação da plateia, como sempre, foi eufórica, mas hoje o primeiro modelo parece bem tosco perto das versões mais recentes: ele ainda era muito grande e tinha uma tela quadrada, preta e branca. De toda forma, o primeiro passo já estava dado. Dali para a frente, a cada seis meses em média, a empresa lançaria uma nova versão, mais bem acabada que a anterior.

Sim, o iPod era um acontecimento marcado para sepultar de vez a era dos CDs. Mas a revolução definitiva no mundo da música só ficaria completa dois anos depois, quando o aparelho ganhou a companhia da loja virtual iTunes. 

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Para saber mais

• The Second Coming of Steve Jobs, Alan Deutschman, Broadway, 2000.

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