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Só a morte salva

Pesquisadores criam células-tronco embrionárias, capazes de salvar vidas, sem

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h24 - Publicado em 31 dez 2007, 22h00

Texto Salvador Nogueira

A alquimia passou séculos tentando transformar chumbo em ouro. Em vão. Mas não é que a ciência acabou de conseguir algo comparável? Foi em novembro, quando dois grupos de pesquisadores produziram células-tronco embrionárias sem usar embriões. Quase um passe de mágica.

O sucesso deles ressuscitou os debates sobre a ética no uso de embriões em pesquisa. E não faltam políticos conservadores, principalmente nos EUA, dizendo que agora o uso deles está ultrapassado. Mas talvez seja cedo demais para tanto. Como logo veremos, no mundo da magia biotecnológica nada vem de graça, nem que você seja um Harry Potter.

Mas, antes, uma paradinha para explicarmos que diabos são as células-tronco e por que tantos cientistas andam obcecados por ela.

É o seguinte: um dia, você já foi feito praticamente só de células-tronco. Não se lembra? Pois é, a gente não costuma guardar lembranças dos nossos primeiros dias no útero, mas, acredite, foi assim que aconteceu.

Naquela fase inicial da vida, em que dava para contar quantas células você tinha, todas elas estavam numa espécie de “crise de identidade” – mais ou menos como adolescentes antes de prestar vestibular. No fim, cada célula escolheu sua profissão. Umas viraram fígado, outras coração, algumas optaram por ser cérebro… O resultado final foi você.

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Essa foi a boa notícia. A má é que, depois disso tudo, se estagnaram nas profissões que escolheram. Ou seja: seus tijolos básicos perderam o “potencial” para virar qualquer coisa. Se o seu coração pifar, você vai precisar de um transplante de órgão, porque as células do pulmão não podem “quebrar o galho” e se transformar em coração.

Agora, e se fosse possível quebrar um embrião e cultivar células-tronco em laboratório? Haveria órgãos feitos “sob medida” para quem precisa de um transplante? Novas células produtoras de insulina para os diabéticos? Foi apostando que a resposta a essas perguntas seria “sim” que cientistas entraram nessa cruzada pelo estudo com células-tronco embrionárias. E começaram a estraçalhar embriões (geralmente doados pelos “pais” deles) para fazer suas pesquisas. Só que muita gente abomina isso.

Um embrião, lembre-se, é um óvulo humano fecundado. E para os religiosos é justamente aí, no instante da fecundação, que a vida começa. Não importa que o “ser” nem tenha órgãos nesse primeiro momento. Todo mundo começou a vida como embrião. Desse ponto de vista, eles seriam gente como a gente. Coisa sagrada.

E isso afetou as pesquisas. Principalmente no país que mais investe em ciência no planeta. Com medo da repercussão que uma “matança generalizada” de embriões teria entre os mais religiosos (que formam sua base eleitoral), George W. Bush cortou as verbas federais americanas para pesquisas com células-tronco embrionárias em 2001.

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Mesmo sem o dinheiro do governo, institutos particulares continuaram suas pesquisas. Mas o baque foi forte. Afinal, trata-se de um campo extremamente sofisticado, que suga bilhões de dólares em investimentos que podem dar em nada.

Para você ver como não é fácil: os hipotéticos tratamentos à base de células-tronco embrionárias exigiriam primeiro clonar o paciente (juntando uma célula adulta dele a um óvulo “oco”, que teve o DNA extirpado) e depois quebrar o embrião resultante para aí, quem sabe, conseguir transformar esse amontoado de células em algo mais útil.E foi exatamente isso que os grupos liderados por James Thomson, na Universidade de Wisconsin (EUA), e Shinya Yamanaka, na Universidade de Kyoto (Japão), não fizeram. Em vez de reencenar todo o drama da criação, eles decidiram que valeria a pena apostar num método que levasse células adultas a se comportar como embrionárias – reprogramação celular, para os que gostam de cientifiquês.

Eles pegaram células de pele e introduziram nelas 4 “programas” (genes) que costumam estar bastante ativos na fase embrionária. Funcionou como apertar um botão reset. A célula velha recuperou sua versatilidade original, a capacidade de se transformar em qualquer coisa. Quer dizer: eles tinham feito algo equivalente às células-tronco embrionárias sem tocar em embriões. Uau. Os conservadores que apóiam o veto do presidente americano comemoraram. Então o dilema acabou? Não. Ainda precisamos de embriões.

É que os pesquisadores foram capazes de reprogramar a célula, mas o “disco rígido” onde esse programa está escrito ainda é o mesmo. É como se elas já nascessem meio velhas. Ainda é impossível, portanto, dizer que as células-tronco obtidas com a reprogramação são mesmo tão boas quanto as que realmente vieram de embriões.

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O único jeito de sabermos isso, porém, é se as duas linhas de pesquisa continuarem em paralelo, com cientistas trabalhando tanto com embriões como com células adultas. Só assim vamos entender exatamente o que estamos fazendo. Transformar chumbo em ouro foi só o começo.

Alquimia biológica

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Como fazer células-tronco embrionárias, com e sem embriões

O jeito tradicional

Deixe o embrião amadurecer por 5 a 6 dias, até que ele tenha umas 100 células. Depois retire as células-tronco. Aí ele morre.

O método novo

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Pegue células de pele. Depois coloque ali genes que as fazem “regredir” ao estágio embrionário. Pronto.

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