Supersônico particular
Garanta já o seu e aposente a lata-velha que você tem no hangar. Preço: US$ 80 milhões
José Sérgio Osse
Foi-se o tempo em que dava para pegar um avião às 13 horas em Londres e chegar ao meio-dia em Nova York. Com a aposentadoria do Concorde, em 2003, isso virou exclusividade de piloto militar. Só que logo mais vai dar para sentir esse gostinho de novo, pelo menos se você for obscenamente rico. A Lockheed Martin, que faz caças, está projetando um jatinho executivo de 12 lugares com velocidade máxima de 1 900 km/h (1,8 vez mais que o som). É mais que o dobro da de um jato normal, ou o suficiente para ir de São Paulo a Miami em 4 horas – e autonomia de 7 400 quilômetros. Pesquisas dizem que há mercado para uns 300 aviões desses. A US$ 80 milhões cada. Por que não fizeram isso antes? O problema se chama “boom sônico”. É uma onda de choque que o avião forma quando supera a barreira do som. A coisa tem barulho de trovão e é tão potente que chega a quebrar objetos no solo. Por isso, os vôos supersônicos foram banidos do espaço aéreo de regiões habitadas. Na prática, eles só poderiam ultrapassar a velocidade do som em cima do mar, o que limita seu mercado. E a idéia de fazer jatinhos hipervelozes nasceu morta. Para ressuscitá-la, a Lockheed desenvolveu uma estrutura em forma de V invertido que vai na cauda do avião, tipo um aerofólio. Isso “desmancha” a onda de choque, deixando-a 100 vezes mais silenciosa. Outra empresa americana, a Aerion, também planeja fazer um jatinho supersônico, mas que só quebre a barreira do som quando estiver sobre a água. Tudo isso, porém, ainda está no papel e só deve chegar na próxima década. Até lá, os super-ricos vão ter que continuar rastejando em seus jatinhos subsônicos mesmo.
História sem som
Quatro máquinas que fizeram a história dos vôos a mais de 1 000 km/h
Bell X-1
Ano: 1947
Velocidade: 1 126 km/h
Foi o primeiro a quebrar a barreira do som ao atingir 1 062 km/h, e continuou acelerando.
O X-1 não decolava do chão, mas de um bombardeiro B-29. Também é o primeiro da família X – de aviões-foguete. O X-15, de 1967, chegou a 7 115 km/h.
SR-71 Blackbird
Ano: 1964
Velocidade: 3 529 km/h
É o avião convencional (que decola do chão) mais veloz até hoje. Foi desenvolvido pelos EUA para espionar a União Soviética sem ficar dentro do alcance das armas antiaéreas inimigas. Por isso, também é o recordista em altitude, com 25 928 metros.
Tu-144 “Concordski”
Ano: 1968
Velocidade: 2 500 km/h
Esse clone soviético do Concorde decolou antes do original, e virou o primeiro supersônico civil. Desconfortável, só fez 55 viagens com passageiros. Caiu em desgraça em 1973, quando explodiu no ar durante uma exibição, matando 14 pessoas.
Concorde
Ano: 1969
Velocidade: 2 170 km/h
Bebia 20 toneladas de querosene por hora, contra 11,5 de um Boeing. Uma passagem chegava a R$ 30 mil. Então nunca emplacou para valer. Além disso, uma queda em 2000 com saldo de 114 mortos arranhou sua imagem. E ele acabou aposentado em 2003.