Tempo bom, com pancadas de bombas
O software capaz deprever o desenrolar e os resultados de uma guerra.
Mauro Tracco
Vale a pena invadir um país? Quantos soldados irão morrer, quanto tempo irá durar a guerra e quem sairá vitorioso? Nenhum exército inicia um conflito armado sem antes quebrar a cabeça com questões como essas. São estimativas muitas vezes distantes da realidade do combate – afinal, ninguém tem uma bola de cristal capaz de prever o futuro. Mas agora existe algo bem parecido com isso: é o TNDM (sigla em inglês para Modelo Tático de Determinação Numérica), um software desenvolvido no Instituto Dupuy, em Washington, para prever com precisão o resultado, o número de mortos e o de prisioneiros em uma guerra.
O software estreou na Guerra do Golfo, em 1991. Dias antes da operação Tempestade no Deserto, as projeções americanas indicavam uma guerra com ao menos 6 meses de duração e entre 20 mil e 30 mil soldados da coalizão mortos nas primeiras duas semanas. Foi quando o coronel aposentado Trevor Dupuy declarou aos oficiais que eles estavam completamente errados: o número de baixas não seria maior que 6 mil após 4 semanas e o confronto acabaria em, no máximo, dois meses. Na prática, bastaram 43 dias para George Bush pai declarar a vitória em um conflito que matou apenas 1 400 soldados da coalizão. A precisão do TNDM foi confirmada 4 anos depois, durante uma ofensiva da ONU na Bósnia: o sistema deu 50% de chances de que não mais de 17 membros do exército morreriam na operação. O resultado final foram 6 fatalidades.
O segredo do TNDM é cruzar cerca de 70 variáveis de um conflito. “Basicamente, existem dois grupos de dados. Um determina a força de ambos os exércitos, e reúne o tamanho, os equipamentos e a eficiência. O outro são as variáveis do confronto em si, como terreno, clima, apoio aéreo e fator surpresa”, diz Chris Lawrence, diretor do Instituto Dupuy desde a morte de seu fundador, em 1995. Essas informações são relacionadas entre si em um gigantesco banco de dados com detalhes do desenrolar de guerras passadas e também de acordo com a experiência de especialistas em armas, historiadores militares, generais aposentados e veteranos de guerra. O resultado é um modelo preciso de como os conflitos costumam se desenrolar, capaz de superar os mais sofisticados serviços de inteligência.
Mais impressionante que a eficiência do software é o fato de ele estar à venda a qualquer organização disposta a pagar 93 mil dólares. “Suécia, África do Sul, Suíça, Coréia do Sul e Finlândia já compraram o TNDM. Atualmente estamos em negociação com um país da Ásia”, diz Lawrence. “Mas respeitamos a lista de países com os quais os EUA têm restrições de negócios, como Irã, Coréia do Norte e Síria.” E o Brasil, poderia fazer bom uso dessa tecnologia na missão de paz do Haiti ou em confrontos com traficantes dos morros cariocas? Não tenha muita esperança. “O TNDM foi desenvolvido para prever os resultados de combates tradicionais. Operações de paz e conflitos urbanos não se encaixam nesse perfil”, diz Lawrence.