Vida privada na Rússia
Falam sobre o impasse em que suas bem-sucedidas carreiras se encontram. Eles são John Steinbeck, um dos maiores escritores de sua geração, e Robert Capa, fotógrafo que fez história com as imagens da Guerra Civil espanhola.
Celso Miranda
Num bar de Nova York, dois homens bebem seus drinques. Falam sobre o impasse em que suas bem-sucedidas carreiras se encontram. Eles são John Steinbeck, um dos maiores escritores de sua geração, e Robert Capa, fotógrafo que fez história com as imagens da Guerra Civil espanhola. “O que resta a fazer no mundo para um cara liberal e honesto?”, pergunta o primeiro. O mundo ao qual se refere é o que americanos e soviéticos dividiram com acusações e ameaças. Todos os dias os jornais publicavam notícias sobre a Rússia, os testes nucleares, os planos de Stálin, tudo comentado por gente que nunca estivera lá. Eles queriam conhecer o outro lado. Nesse ponto da conversa (e da bebedeira) pensaram: por que não vamos até lá? Contaram a idéia a Willy, o barman, que a aprovou na hora. Foi assim que tudo começou. Nascia o livro Um Diário Russo (Cosac & Naif).
Foram dois meses na Rússia, em meados de 1947. Eles visitaram fazendas e fábricas, participaram de festas e concursos de beleza, revelando inéditas cenas do cotidiano do povo russo. Capa voltou com cerca de 4 mil negativos e Steinbeck, com centenas de páginas com anotações. “O que se vai ler a seguir é o que nos aconteceu. Não é o relato sobre a Rússia, mas apenas um dos possíveis relatos sobre a Rússia”, escreveu Steinbeck. Talvez o melhor deles.