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A sujeira nossa de cada dia e a decomposição do lixo

Pequenos detritos que se jogam na rua podem se acumular por décadas e vencer os micróbios cujo trabalho evita que o planeta seja soterrado pelo lixo.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h00 - Publicado em 30 jun 1993, 22h00

Bitucas de cigarro, chicletes, cascas e bagaços de frutas, latas de refrigerante ou garrafas de plástico. Diante de tudo o que se descarta sem maior preocupação, em qualquer lugar e todos os dias, é surpreendente que a Terra não fique coberta por uma malcheirosa camada de dejetos. Isso só não acontece graças ao processo natural de biodegradação. Por meio dele, bactérias, leveduras, fungos e outros micróbios se alimentam da matéria orgânica do lixo, transformando-a em compostos mais simples, que são devolvidos ao meio ambiente.

A matéria orgânica é formada de extensas cadeias de carbono à qual se penduram outros átomos. Os microorganismos quebram a cadeia junto ao carbono e aproveitam a energia encerrada na ligação química. Os micróbios tendem a quebrar o maior número de ligações e arrancar do composto original a maior quantidade de energia possível. Por isso é que no final restam materiais extremamente simples. Mas isso depende do tipo de degradação: quando ela é aeróbia, que utiliza oxigênio, o processo é muito eficiente. Seus restos são elementos como o nitrogênio e o enxofre, anteriormente pendurados às cadeias de carbono. Na decomposição anaeróbia, sem oxigênio e menos eficiente, os restos são mais complexos, como o gás metano e sulfídrico.

Esse trabalho pode demorar um século ou mais. O tempo depende de vários fatores. O calor e a umidade do solo, por exemplo, estimulam o crescimento e a atividade dos microorganismos aeróbios. Assim, quanto mais quente e úmido for o local, mais rápida será a decomposição. Por outro lado, as águas e terrenos ácidos limitam a capacidade de desenvolvimento dos microorganismos. Os ácidos, metais pesados e substâncias tóxicas prejudicam as bactérias, podendo chegar a matá-las.

Outro problema: a gastronomia dos microorganismos. Certas colônias de bactérias de um determinado terreno não são capazes de decompor resíduos — facilmente devorados por outro tipo de micróbio. Por exemplo, se o terreno não dispuser de uma quantidade ra-zoável de oxigênio, diversas substâncias, como o azeite e alguns pesticidas, não sofrem degradação. É difícil determinar as preferências e localizações das incontáveis espécies de bactérias. As mais conhecidas são as anaeróbias e entre estas as mais comuns pertencem a um grande grupo chamado de metanogênico, pois produzem metano.

Em vista de tudo isso, é claro que sempre vale a pena procurar uma lata de lixo –– e mesmo assim persiste o risco de o planeta se converter num autêntico lixão. Basta ver os dados do Plano Nacional de Limpeza Urbana (Planurb), do Ministério da Ação Social. Aí se estima que o Brasil produz uma montanha de mais de 80 000 toneladas de lixo por dia, das quais só a metade é coletada. Da parte que é coletada, o Planurb indica que 34% vai para lixões a céu aberto e 63% termina em beiras de rios e áreas alagáveis. Não admira que 65% das internações hospitalares no Brasil decorram de doenças transmissíveis pela água. Cada cidade tem seu sistema de reciclagem, que reduz os resíduos e também economiza recursos, pois aquilo que se recupera do lixo volta à fábrica como matéria-prima. É uma pena que, em São Paulo, das 12 000 toneladas diárias de lixo, apenas 0,8% sejam recicladas.

Para saber mais:

As armas do ar

(SUPER número 11, ano 2)

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O papel de cada um

(SUPER número 5, ano 3)

Um cemitério para o lixo nuclear

(SUPER número 9, ano 4)

Santa aliança defende o planeta (SUPER número 5, ano 6)

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Ecologia nas fábricas

(SUPER número 11, ano 6)

Com os minutos contados

(SUPER número 1, ano 8)

 

O tempo de decomposição dependerá do tipo de lixo

3 meses

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A lignina, substância que dá rigidez às células vegetais, é um dos componentes mais importantes do papel. Ela não se decompõe facilmente pois suas moléculas são maiores do que as bactérias que as destroem. Num lugar úmido, o papel leva três meses para sumir e ainda mais do que isso em local seco. Além disso, um papel absorvente dura vários meses. Jornais podem permanecer intactos por décadas.

6 meses

A deterioração de um fósforo de madeira começa com a invasão da lignina — seu principal ingrediente — por hordas de fungos e insetos xilófagos, os que comem madeira. O processo é lento e, em um ambiente úmido, um fósforo não se destrói até que se passem cerca de seis meses.

6 a 12 meses

Os microorganismos, insetos e outros seres invertebrados geralmente transformam a matéria orgânica de forma eficaz. No entanto, o miolo de uma maçã, que se decompõe em uns 6 meses em clima quente, pode conservar-se por um ano num lugar mais ameno. Isso porque o orvalho (e a neve nos países frios) dificultam a proliferação dos micróbios e diminuem sua capacidade devoradora.

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1 a 2 anos

Um cigarro pode demorar de 1 a 2 anos para se decompor, tempo em que as bactérias e fungos digerem o acetato de celulose existente no filtro. Jogar um cigarro sem filtro no campo é menos nocivo, uma vez que o tabaco e a celulose levam quatro meses para sumir. Contudo, se jogado no asfalto, o tempo de vida da bituca é maior.

5 anos

Um chiclete jogado no chão começa a ser destruído pela luz e pelo oxigênio do ar, que o fazem perder a elasticidade e a viscosidade. Como a goma contém resinas naturais e artificiais, além de açúcar e outros ingredientes, o processo pode durar até 5 anos. A pulverização do chiclete é mais rápida se ele gruda no sapato de algum distraído.

10 anos

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Os metais, em princípio, não são biodegradáveis. Uma lata de aço se desintegra em uns 10 anos, convertendo-se em óxido de ferro. Em dois verões chuvosos, o oxigênio da água começa a oxidar as latas feitas de aço recoberto de estanho e verniz. Já uma lata de alumínio não se corrói nunca. E boa parte dos refrigerantes é vendida em latas de alumínio.

mais de 100 anos

As boas qualidades do plástico — sua durabilidade e resistência à umidade e aos produtos químicos — impedem sua decomposição. Como este material existe há apenas 1 século, não é possível determinar seu grau de biodegradação, mas estima-se que uma garrafa de plástico demoraria centenas de anos para desaparecer.

4000 anos

O vidro não se biodegradará jamais. Sua resistência é tamanha que arqueólogos encontraram utensílios de vidro do ano de 2000 a.C. Por ser composto de areia, sódio, cal e vários aditivos, os microorganismos não conseguem comê-lo. Um recipiente de vidro demoraria 4 000 anos para se desintegrar pela erosão e ação de agentes químicos.

 

 

O que há no lixo

Composição aproximada do lixo recolhido na coleta seletiva da cidade de São Paulo. A coleta seletiva representa 0,8% do total produzido: 12 000 toneladas por dia, o maior volume do país. Desse valor, 87% vai para quatro aterros sanitários da metrópole.

Plástico 7%

Metais 10%

Vidro 13%

Matéria orgânica e resíduos 20%

Papel 50%

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