Juliana Carpanez
A maior parte do que se fala a respeito das mudanças climáticas do nosso planeta destaca que, dentro de algumas décadas, o planeta estará mais quente, os animais irão migrar ou desaparecer, os oceanos vão subir e nenhum canto estará livre de catástrofes medonhas. O que eles esquecem de dizer é que tudo isso já está acontecendo de forma bem mais sutil. Não adianta olhar para o lado: o aquecimento global já é um problema seu.
Nos últimos 100 anos a Terra se tornou em média 0,6ºC mais quente, um aumento que não passou despercebido pela natureza. Ainda é cedo para definir onde terminam as transformações naturais e começam as causadas pelo homem, mas é provável que a nossa atividade industrial tenha castigado um bocado o meio ambiente. Além de destruir florestas e contribuir com o desaparecimento de diversas espécies, os tempos modernos são marcados pela alta emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa – principal causa do aquecimento global. Nesse ritmo, ao menos 5,5ºC devem ser somados, até o final deste século, à já iniciada corrida para a destruição do planeta. Não é preciso esperar até lá: veja o cenário nada bonito do aquecimento global, versão 2004.
Parece mais não é – siga os números e descubra
1. Morto de calor
Em dias quentes, os europeus lotam as praias em busca, literalmente, de um lugar ao sol. O verão de 2003, no entanto, deixou lembranças não muito animadoras. Cerca de 19 mil pessoas morreram por causa do calor excessivo nessa estação, a mais quente dos últimos 500 anos, segundo cientistas da Universidade de Berna, na Suíça. Tudo indica que esse foi um alerta do que está por vir. Com o planeta mais quente, as estações do ano devem ser extremas: iremos derreter no verão e congelar no inverno.
2. Maré alta
Nos últimos 100 anos, os oceanos subiram entre 15 e 20 centímetros. Uma das explicações é o derretimento das calotas polares, que vêm reduzindo numa velocidade de 9% de seu total a cada ano e formando um ciclo nada animador. Com menos gelo e mais água, o oceano absorve mais energia solar e se torna mais quente. Quem se dá mal são as criaturas sensíveis à variação de temperatura. Em 1998, por exemplo, cerca de 16% dos corais de todo o mundo passaram por um “banho-maria” e não resistiram à experiência.
3. Tempestade à vista
A atmosfera é como um trem a vapor: quanto mais lenha queimando, maior o calor e a potência. “A Terra é movida principalmente à energia solar. Se a temperatura sobe, a atmosfera ganha força e pode provocar movimentos violentos que causam furacões, ciclones e fortes tempestades”, diz Marcelo Seluchi, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Por isso, alguns especialistas acreditam que as constantes visitas de furacões aos Estados Unidos podem estar relacionadas ao aquecimento dos últimos 100 anos.
4. Doença em todo canto
O aquecimento global pode ser muito bom para determinadas espécies. Não é exatamente uma boa notícia. O aumento da temperatura permite que os mosquitos transmissores da dengue, febre amarela e malária se espalhem e encontrem com muito mais facilidade um lugar para chamar de seu. “Não por acaso São Paulo foi cenário de uma epidemia de dengue em 2002, ano marcado por muito calor nessa região”, explica Fábio Gonçalves, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências da USP.
5. Bichos fora de lugar
Mudanças no clima trazem uma nova rotina aos animais. Um esquilo do Canadá que costumava dar cria no verão passou a procriar 18 dias mais cedo graças à antecipação do calor. Já a borboleta Heodes tityrus, que vivia em Barcelona há algumas décadas, só pode ser encontrada hoje em uma região 100 quilômetros ao norte. Já algumas gaivotas da Escócia podem sumir: o principal prato delas, o peixe Ammodytes tobianus, foi para o norte à procura de um plâncton que, graças ao calor, rareou em águas escocesas.