Artesãos rupestres
Um projeto da Petrobras estimula a consciência ambiental de uma comunidade que vive na região de um importante sítio arqueológico. A população aprende a preservar a área e incrementa a renda com o artesanato e o turismo ecológico.
Luís Indriunas, de Apodi, RN
“O desenho que eu mais gosto é esse.” Pedro Holanda mostra orgulhoso a camiseta que veste e que ele mesmo pintou. O desenho lembra um pássaro estilizado e é uma cópia de uma das várias inscrições do sítio arqueológico de Lajedo da Soledade, um grupo de rochas calcárias que guardam inscrições de habitantes que viveram no local entre 3 mil e 5 mil anos atrás. Pedro tem hoje seu próprio ateliê. Foi o primeiro artista que despontou na vila de Soledade, um povoado do município de Apodi, no sertão potiguar.
“Essas pinturas são mais recentes que as de outros sítios arquelógicos brasileiros, mas mostram um grau de sofisticação maior, pois se utilizam de desenhos geométricos trabalhados”, diz Cláudio José Alves de Sena, jovem diretor do Museu do Lajedo de Soledade. Um espaço pequeno com um pequeno acervo, mas rico em objetos e informações que comprovam a importância do lugar. São pés, mandíbulas e dentes de animais pré-históricos como a preguiça gigante, o tigre-de-dente-de-sabre e o tatu gigante.
Pedro e Cláudio são parte da história do projeto de preservação do Lajedo. Quando crianças, chegaram a passar dias de seca brava, comendo farinha com açúcar. O destino de ambos era trabalhar nas caeiras, as pequenas usinas de cal que abundam na região, ou seguir para uma capital brasileira. Essa perspectiva típica do local mudou em 1991, com a chegada de arqueólogos para estudar as inscrições do Lajedo de Soledade. Foi a época em que a Petrobras tornou-se a principal fomentadora do projeto. A empresa, que tem poços de petróleo em vários pontos do interior do Rio Grande do Norte, ensinou aos moradores a importância de preservar o acervo histórico do local. O Lajedo, que originalmente tinha 127 hectares, na época se resumia a 9,5 hectares. Hoje, a preservação é feita pelos próprios moradores, que também atuam como guias turísticos.
Atualmente, um grupo de cerca de 60 mulheres e alguns homens pintam, bordam e desenham as inscrições rupestres em cestas, copos e pratos de cerâmica, bolsas, papéis reciclados e quadros. Alguns imitam as técnicas dos antigos povos da região e pintam quadros com óxido de ferro, uma bolinha de ferrugem abundante por lá. “Arte é a gente ter de criar”, diz Maria Juraci de Oliveira, uma das artesãs. As vantagens do artesanato são medidas por duas ordens de grandeza. Trabalhar na sombra, longe da quentura das usinas de cal ou do sol das colheitas de algodão, é a primeira. A segunda é o ganho maior. Maria Juraci contabiliza: uma colheita de algodão lhe dá de 3 a 6 reais por dia. Suas cerâmicas chegam a lhe render 400 reais. A estrutura de venda e produção é articulada pela Petrobras, que investiu em 2002 quase 120 mil reais em workshops com a comunidade e na divulgação dos produtos.
“A idéia é que a comunidade, aos poucos, se torne sustentável e possa assumir o projeto”, diz a educadora ambiental Evalda Maciel Correa, da Petrobras.