As terras arejadas e cobiçadas
Manchas de campos abertos, no sul da reserva, atraem animais andarilhos, grandes aves e a ambição dos fazendeiros
A Biológica tem um dos poucos cerrados virgem que restam no centro-oeste. Até 1956, Rondônia (assim denominada em homenagem ao marechal Cândido Rondon, que desbravou a região no começo do século XX) era chamado de Território do Guaporé. Com a abertura da rodovia BR-364 (Cuiabá Porto Velho), em 1968, as migrações dirigidas para os projetos de colonização demográficos e à ocupação desordenada da região. O velho Guaporé perdeu 21% das suas florestas e, em vinte anos 63% da área desmatada foi abandonada. Foi então que, em 1982, criou-se a reserva. Quando ocupar a terra era a ordem, o cerrado, coberto de pastos naturais, virou presa da agropecuária. Apesar da baixa fertilidade, é mais valorizado porque dá menos trabalho ao fazendeiro: não precisa desmatar, é só soltar o gado. Por isso, os cerrados virgens da Reserva do Guaporé atraem como um imã os fazendeiros e colonos da cidade mais próxima, Alta Floresta D`Oeste, a 50 quilômetros. Em compensação, desde 1991 a fiscalização da reserva melhorou. Atualmente, na área protegida dos invasores, o ambiente do cerrado viceja. Nos campos abertos, a vegetação de baixo porte favorece a penetração de luz. As gramíneas como o capim-flecha, chegam a atingir dois metros de altura escondendo emas, veados-campeiros e veados mateiros. Atrás, esgueiram-se os predadores, como a onça-pintada e a suçuarana. Na beira das lagoas, existem capivaras e antas. Pelo céu do cerrado viajam aves capazes de voar longos percursos, como as cegonhas e o gavião-belo um pescador exímio que espreita, do alto das árvores, as lagoas e as margens de rio. No mesmo céu, avista-se o tucano-açu, um dos maiores do Brasil. Nada conciliador, ele se vale do bico longo para destruir ninhos alheios e devorar filhotes de outras aves. Afável de vez em quando, o açu também aprecia frutos variados.
Palmeiras Esguias
Nos banhados, esticam-se os buritis. As folhas servem para trançar cestos e fazer teto de cabana.
Imigrante americano
O veado-campeiro veio da América do Norte há três milhões de anos. Sai à noite para pastar.
Pescador exímio
As ariranhas andam em pares ou grupos. Comem peixes, ovos e aves. Podem permanecer longo tempo submersas.
Cor e contraste
Os aguapés cobrem as margens dos rios. Destacam-se do verde com flores brancas, azuis e violetas.
Ela é uma anta
O maior mamífero terrestre do Brasil pesa até 200 quilos. É desajeitada, vê mal, mas ouve tudo.
Maior promiscuidade
Os biguás negros dividem as praias e até os ninhos com as garças e os maguaris. Em setembro, as aves invadem o Guaporé.
Muito calor
O jacaré-papo-amarelo passa o dia na praia sob o sol, imóvel. De noite, come o que passar por perto de preferência caranguejo.