Assine SUPER por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Bela estratégia

Para sobreviver nas águas que circundam os corais dos trópicos, peixes fazem um espetáculo de cor e forma.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 19h00 - Publicado em 30 nov 1998, 22h00

Flavia Natércia

Cada um evolui à sua maneira. O homem, a uma certa altura, passou a andar sobre dois pés, liberando as mãos para outras atividades. Além da vantagem de poder contar com dois instrumentos poderosos, ficou elegante. O desenvolvimento de alguns peixinhos que freqüentam os recifes dos mares tropicais, desde a Austrália até o Brasil, teve resultados semelhantes. Para se livrar de predadores, camuflar ataques e conseguir comida nas reentrâncias de pedras e corais, eles recorreram a formas e cores estonteantes. A beleza que deleita os nossos olhos para eles representa a chance de vencer a dura competição com outras espécies.

Apesar do tom amarelo, as listras do peixe-anjo dificultam a visão do seu contorno sobre o fundo azul. Azar dos predadores. Sem distinguir bem onde a presa começa e onde acaba, fica mais difícil caçá-la

As cores brilhantes são mensagens

Às vezes, mergulhar nos arredores de um recife lembra um passeio noturno pelas ruas de Las Vegas, cidade americana famosa por seus cartazes e anúncios luminosos. É que as cores expostas no corpo dos habitantes desses mundos submersos têm a mesma função dos outdoors: comunicação. No peixe-anjo (Pygoplites diacanthus), que você viu na abertura desta reportagem, o recado é “não perca seu tempo, vai ser difícil me pegar”. Em outros bichos, a mensagem pode se dirigir ao sexo oposto, dizendo algo como “pode se aproximar, temos uma chance de nos multiplicar”. Em qualquer dos casos, o colorido aparece absolutamente por acaso, e apenas em alguns indivíduos, em conseqüência de alterações genéticas imprevisíveis. Mas, à medida que a marca se mostra útil, os bichos que a desenvolveram passam a sobreviver e a se reproduzir mais do que seus parentes. Acabam, assim, definindo o jeitão da espécie. E enfeitando os oceanos.

Sinal amarelo

Continua após a publicidade

O predador que já tentou comer um peixe-cirurgião como este não esquece jamais a mancha amarela da nadadeira peitoral. Ela avisa que o ataque não é bom negócio. A espécie tem espinhos afiados perto do rabo e nas costas

Paquera perigosa

As cores do peixe-papagaio têm grande utilidade para a sedução, mas também atraem predadores. Para despistá-los, ele desenvolveu fortes nadadeiras, capazes de fazer manobras radicais entre os labirintos dos recifes

Camuflagem

Como os peixes enxergam mal as tonalidades próximas do vermelho, o traje cor-de-sangue vem a calhar para a garoupa, uma caçadora noturna. Ninguém a vê. Já os tons azulados das duas espécies de peixe-papagaio (ao lado) são um perigo, apesar de úteis no namoro. Muito visíveis, viram alvos fáceis

Continua após a publicidade

Dize-me que boca tens e te direi quem és

Apesar da fauna e da flora variadas, não é fácil arranjar um bom almoço nos recifes. Muitas algas e pequenos invertebrados ficam escondidos entre os vãos dos corais ou agarrados a eles. Para abocanhá-los, certos peixes desenvolveram bocas estranhas. Veja o caso dos peixes-papagaio. Herbívoros, eles acabaram criando bicos duros, como os da ave que lhes dá o nome, para poderem raspar algas que nascem na superfície dos corais. Já os peixes-borboleta (veja à esquerda e à direita) acharam outra alternativa para saciar a fome. Em maior ou menor grau, dependendo do tipo, a boca foi ficando alongada, de maneira a alcançar reentrâncias dos recifes e capturar pequenos invertebrados entre espinhos de ouriços. Além da função óbvia, a alimentação também ajuda a definir as cores: as algas fornecem os pigmentos usados para fabricar cores como o amarelo, o laranja e o vermelho.

Gourmet exigente

Este bicudo peixe-borboleta, o Forcipiger longirostris, também é um bom sensor da qualidade do ambiente. Ele não sobrevive onde os corais, muito afetados pela poluição, não se desenvolvem bem. Por isso, apesar de não atingir mais que 20 centímetros, é difícil ter um deles no aquário

Boca gigante

Continua após a publicidade

Patinho feio e gigante dos corais, a garoupa Epinephilus polyphekadion, das duas fotos acima, atinge até 75 centímetros de comprimento e assusta mesmo com a bocarra fechada. Quando seus maxilares se projetam para a frente provocam terror. Mas não se preocupe, ela morre de medo do homem

Modesto

A boca deste peixe-borboleta é bem menor do que a do seu primo mais à esquerda. Mas ninguém garante que em alguns milhões de anos não possa chegar lá

A cor das algas

O peixe-papagaio ao lado é um hermafrodita seqüencial, ou seja, nasce com os dois orgãos sexuais, torna-se fêmea no início da vida adulta e pode, ou não, virar macho na maturidade. Aí, adquire cores para atrair parceiras comendo algas raspadas dos corais

Continua após a publicidade

Espinhos e veneno para afastar atrevidos

A luz, que penetra fácil nas águas transparentes, facilita a caça. Mas os predadores precisam ser cuidadosos, pois vários moradores das regiões de corais desenvolveram meios de defesa. Quem não conhece os avisos das cores e se mete a atacar os peixes-cirurgiões, por exemplo, pode se dar mal. O espinho que eles têm na cauda corta como um canivete (veja o detalhe à direita, na foto do meio). Alguns têm também espinhos nas costas e, abaixo deles, células que liberam veneno quando pressionadas. O veneno do baiacu-de-espinho mata até gente. Quase nenhum bicho chega perto, exceto alguns Homo sapiens fotógrafos, que se arriscam em nome da Ciência, e outros membros do gênero humano, movidos por interesses menos nobres, como o comércio de peixes de aquário. A beleza estratégica dos habitantes dos corais ajuda a salvá-los dos semelhantes, mas acabou atraindo a atenção de invasores muito mais perigosos.

Só pra assustar

Os inimigos desistem de atacar esta espécie de peixe-unicórnio, assustados com o seu chifre. Mas não é aí que mora o perigo. Logo abaixo dos espinhos da sua nadadeira dorsal existem células que secretam veneno

Arma em riste

Continua após a publicidade

O espinho na cauda do peixe-cirurgião funciona como um canivete. Na presença de perigo, ele salta para fora e desafia: “Vai encarar?”

Sai pra lá!

Os espinhos amarelos nas costas do peixe-borboleta Chaetodon ornatissimus cumprem dois papéis. Além de dar sustentação à nadadeira dorsal, responsável pelo equilíbrio do bicho, advertem os predadores de que é melhor procurar outra comida

Cara feia

O baiacu-de-espinho infla o corpo, como você o vê aí, engolindo água ou ar. Assim ele arma sua couraça de espinhos venenosos e mostra que não está para brincadeira

De olho na paisagem

Num mundo translúcido e cheio de cores significativas, os olhos são recursos preciosos.

Para que estes olhos tão grandes? Para o olho-de-cão encontrar presas à noite

A membrana branca protege os olhos do tubarão-tigre na hora de morder vítimas que se debatem

Perdido entre as cores da cabeça, o olho do peixe-papagaio camuflou-se para vigiar predadores

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 12,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.