Cada vez menos floresta
Ou seja, o elevador social brasileiro funciona. O problema é que não cabe todo mundo nele.
Luis Indriunas
Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, voltou para as capas dos jornais nas últimas semanas. E, como quase sempre, por causa de uma notícia triste. O desmatamento na região, que chegou a diminuir nos últimos anos, voltou a crescer. Segundo o índice do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 25 500 quilômetros quadrados de floresta sumiram em 2002, valor 40% maior que em 2001. É mais que a área de Sergipe. Esse é o maior número desde 1995 e o segundo maior desde que o instituto começou a medir o desmatamento, em 1988. O índice é preliminar, mas poucos duvidam que seja próximo do verdadeiro. O temor é que o quadro piore ainda mais em 2004 – o que nem a própria ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, negou. “Não se consegue reverter um processo em alta velocidade de uma hora para outra”, afirmou.
Toda vez que o índice de desmatamento cresce, o governo e as ONGs procuram um bode expiatório. Lá vamos à lista de culpados. São grileiros, que aproveitam o caos cartorial dos estados da Amazônia para apropriar-se de terras sobre as quais não têm direito. São madeireiros, que vão cada vez mais longe para buscar madeira, muitas vezes em terras griladas. Quando estes saem chegam os pecuaristas, que usam grandes extensões para criar gado. Atualmente, começa a preocupar a expansão da soja, que já mudou a paisagem do cerrado mato-grossense e ameaça a Amazônia. Ao lado desses poderosos, pequenos agricultores e assentados também aumentam o problema queimando a roça, muitas vezes sem controle. Junta-se a isso a falta de estrutura para fiscalização.
Há um consenso de que não existe uma solução única para evitar o fim da floresta. Há, sim, como se antecipar a alguns problemas e incentivar iniciativas menos destrutivas, como o manejo de floresta para retirar madeira ou a exploração sustentável de produtos por ribeirinhos e índios. Enquanto isso, o governo tenta apagar a fogueira do momento. Em julho foram anunciados 20 milhões de reais para fiscalização e, a partir de agora, qualquer decisão na região precisará do aval de ambientalistas do governo.